Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder) traz mais um novo capítulo da jornada do Vingador no bom e velho ritmo divertido, jocoso e leve, beirando às margens do ridículo, e caso já tenha apreciado a peculiaridade humorística de Taika Waititi em Thor: Ragnarok, esta sequência eleva a potência do humor em um roteiro simples que circula bem pelos arcos dos personagens principais, mas sem muito aprofundamento, movidos por motivações já vistos em outras histórias da Marvel que, talvez, dividam opiniões e as discussões, rumo a um desfecho que faz jus ao título do filme.
Thor: Amor e Trovão não é um filme para se criar altas expectativas, e se Ragnarok te conquistou, o novo longa também seguirá os mesmos passos com uma história que se preocupa em traçar os próximos caminhos dos personagens, agitar com o novo vilão, injetar mais doses de humor, momentos românticos e até bobos e um final que emociona na medida certa. Não é um filme que faz o espectador sair apaixonado pelo que viu, mas é possível gostar e curtir este tempo dentro do cinema. É uma questão de opinião que, novamente, ficará dividido.
Com direção e roteiro de Taika Waititi, Thor: Amor e Trovão ganha a narração do personagem Korg, que conta as trajetórias de Thor como se fossem fábulas para as crianças, na qual o público passa a entender algumas lacunas ainda não vistas sobre a vida do protagonista, desde o momento em que ele vai embora da Terra ao lado dos Guardiões da Galáxia após os eventos de Vingadores: Ultimato, o relacionamento de Thor e Jane Foster até o término, o reencontro dos dois, o conflito com o novo vilão até o desfecho da atual história.
Entre uma batalha e outra na qual o Deus do Trovão entra em combate apenas quando a sua ajuda é solicitada, Thor está em busca de sua paz interior depois do grande embate em Ultimato e as grandes perdas que sofreu, como a morte dos pais e de Loki, a irmã vilã Hela, a destruição de Asgard, entre outros. O retorno ao seu corpo escultural é mostrado aqui como forma de retratar a sua recuperação rumo a uma possível aposentadoria. Mas a calmaria acaba quando o herói precisa segurar o martelo novamente para enfrentar o novo vilão Gorr, o Carniceiro dos Deuses.
Para combater a ameaça, Thor recebe a ajuda do Rei Valquíria, Korg e da ex-namorada Jane Foster, que empunha o martelo mágico, Mjolnir, revelando-se a Poderosa Thor. Juntos, eles embarcam em uma angustiante aventura cósmica para descobrir o mistério da vingança de Gorr e detê-lo antes que seja tarde demais.
Thor: Amor e Trovão se debruça em um roteiro leve, divertido e com uma dose ainda mais forte do bom e velho humor de Taika Waititi que ora vão gostar, ora vão detestar, seja nos diálogos bobos e românticos, as famigeradas piadinhas e, até mesmo, em cenas leves, mesmo que a tensão esteja circulando entre os personagens. Esta é a assinatura do diretor que se firma em mais uma sequência de Thor e confirma também que este longa não se preocupa em fazer conexões fortes e precisas com as demais produções do MCU, outro detalhe que pode dividir opiniões caso esteja esperando por esta ligação e muitas referências dentro da história. Na minha opinião, Thor 4 dá uma pausa nas diversas conexões, promovendo uma boa respirada para os fãs temporariamente, o que não significa que não haverá conexão futuramente.
Enquanto isso, a trama procura revelar os atuais status de cada personagem, como o Rei Valquíria (Tessa Thompson) que, por sinal, a atriz continua muito bem no papel e entrega um rei disposto a proteger a Nova Asgard, trazer novos recursos e promover a segurança que será abalada com a chegada de Gorr.
Com relação aos Guardiões da Galáxia, sinceramente, não há quase nada a declarar a não ser a pequena participação especial em que Peter Quill/Star Lord (Chris Pratt) é quem tem mais diálogos trocados com Thor, se comparado com os demais que somente aparecem nas cenas de combate com o objetivo de justificar a separação do Deus do Trovão e os Guardiões para que consigam lidar com os ataques misteriosos que começam a surgir.
Por falar em participações especiais, o filme introduz Zeus interpretado por Russell Crowe, que entrega o maior deus da mitologia grega de uma forma bem caricata, banal e até um pouco desleixada, desconstruindo a expectativa da imagem perfeita deste deus, que se recusa a ajudar Thor a impedir Gorr, Zeus só confirma que é mais um da lista de deuses egoístas, maldosos e hipócritas que não se importa com nada e ninguém, desde que não afete o Olimpo. A cena de Thor pelado, com direito a bunda à mostra é apenas para tornar o momento mais cômico, além de confirmar a degradação do caráter de uma divindade em que o filme não o leva a sério.
Por falar em participações especiais, Thor: Amor e Trovão traz a divertida peça teatral sobre Asgard com a atriz Melissa MacCarthy como Hela, Matt Damon como Loki, Luke Hemsworth como Thor e Sam Neill como Odin, em uma representação caricatíssima e engraçada de se ver.
Poderosa Thor
Um dos momentos mais esperados em Thor: Amor e Trovão, sem dúvidas, é o retorno da atriz Natalie Portman ao MCU desde Thor: Mundo Sombrio. Portman retorna como a Dra. Jane Foster que, infelizmente, luta contra um câncer terminal, arco visto nas HQ’s de Thor e muito questionado pelos fãs se tal trama seria abordada neste filme.
Crítica: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
O filme faz questão de relatar o que aconteceu neste intervalo ao mostrar a relação de Thor e Jane que se desgasta ao longo do tempo tanto pelo medo de ambos se entregarem por completo ao relacionamento, quanto pelas responsabilidades na qual cada um se esconde por trás: enquanto Thor fica distante por contas das lutas e das missões ao lado dos vingadores, Jane mergulha de cabeça em suas pesquisas ao ponto de não esperar mais pelo retorno do amado, até o grande reencontro anos depois.
Por conta da doença, Jane recorre a ajuda de Valquíria, uma vez que os pedaços do martelo Mjolnir estão em exposição aos visitantes da Nova Asgard. A junção do martelo com Jane a transforma na Poderosa Thor, mas como?
Este é outro ponto que o roteiro não deixa de explicar, relatando que Thor garantiu que o martelo sempre protegeria Jane em qualquer ocasião, a qualquer custo, não é à toa que Mjolnir ganha um símbolo fruto deste amor que permanece até hoje. Mas mesmo que Jane se transforme na Poderosa Thor, tal casca apenas encobre a personagem sendo consumida por uma doença na qual sua mãe também já sofreu, acelerada cada vez que o martelo exige de sua energia.
Se tem um ponto que não se pode negar é que o filme faz questão de construir os caminhos dos personagens que se bifurcam e juntam para mostrar como ambos lidam com estes sentimentos conturbados. Natalie Portman e Chris Hemsworth entregam química forte, seja romântica ou divertida, com Jane e Thor em um clima amoroso ou em um flerte cômico. Aliás, o arco de Jane também ganha a participação especial da atriz Kat Dennings como a Dra. Darcy Lewis, vista em WandaVision pela última vez.
Vilão bom, motivação questionável
Desde que Christian Bale foi anunciado no elenco de Thor: Amor e Trovão, as expectativas sobre seu personagem logo cresceram, afinal, as performances de Bale não ficam a desejar nos longas e, logo em sua introdução no MCU, tal atuação não poderia ser menos. Em termos de performance e caracterização, o ator entrega um Gorr abatido e flagelado, vindo de um povoado sem condições favoráveis e esquecidos por seus deuses idolatrados que apenas enxergam seus “súditos” como meros servos insignificantes.
Tal desprezo faz Gorr despertar a espada que o torna o Carniceiro dos Deuses, cujo preço é a própria energia e vida. Com a morte da filha em seus braços, Gorr se entrega a esta escuridão com o propósito de eliminar as tais figuras divinas para se chegar ao esperado portal da eternidade que trará a filha de volta. Para isso, ele precisa colocar as mãos no martelo de Thor, único objeto capaz de abrir tal portal, o que faz o vilão atacar vilarejos, especialmente a Nova Asgard, e sequestrar as crianças para atrair o Deus do Trovão.
As sequências que se passam no mundo em que o Gorr está são ótimas, ganhando uma boa atmosfera sombria para atender pedidos de quem queria ver algo mais ‘dark’ no filme Thor (de forma irônica, é claro), cujo cenário é literalmente preto e branco.
Thor: Amor e Trovão pode não ter um CGI perfeito, mas entrega ambientações bonitas e efeitos especiais bem executados, como na cena em que eles viajam de barco até o mundo em que Gorr está, cuja ambientação obscura ganha pequenos feixes coloridos apenas quando o martelo ilumina determinado ponto, o que mostra certo cuidado com estes detalhes técnicos.
Mas o que realmente gostaria de levantar em questão aqui é a motivação do vilão que, novamente, a Marvel injeta assuntos familiares e sentimentos conflitantes como razão para uma ação mais impulsiva e, até mesmo, inescrupulosa, como vimos em WandaVision e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura com a personagem Wanda; até mesmo em Cavaleiro da Lua em que acompanhamos um protagonista com personalidade fragmentada por conta da tragédia que marcou o seu passado.
Assim como em produções anteriores da Marvel, Thor: Amor e Trovão usa desta mesma fórmula motivacional para justificar as ações de determinados personagens, no caso o vilão Gorr, uma decisão que, talvez, divida opiniões e crie discussões, o que será normal e até aceitável por conta dos contextos nos filmes serem diferentes, mas a válvula usada ser praticamente a mesma. Entendem o que quero dizer?
O embate entre Thor, Gorr e Poderosa Thor entrega uma sequência boa na qual o público ora se entretém com o exército de crianças que ajudam o Thor a combater o vilão, ora se emociona com a luta final da Poderosa Thor, que usa a última gota de energia para finalizar a missão, cumprir com a palavra, salvar a todos e, é claro, ajudar e proteger quem ela ama de verdade.
Considerações finais
A reta final de Thor: Amor e Trovão traz uma mistura de melancolia e final feliz, na qual o público se emociona com a morte de Jane Foster, cujo desfecho é triste, bonito e complacente, diante de um Thor novamente de luto pela perda da pessoa que ama e determinado a cumprir sua mais nova promessa: cuidar da filha de Gorr que retorna através do portal da eternidade. Thor perdeu muitas pessoas, perdeu a esperança que se recupera com a chegada da garotinha que promete ser uma nova luz ao Deus do Trovão.
Thor: Amor e Trovão é um filme bom, divertido e leve que não se preocupe em se conectar com nada do MCU, muito menos enraizar um drama forte e profundo em seus personagens. Apesar das motivações serem as mesmas de recentes produções da Marvel, os personagens ganham arcos satisfatórios, além do carisma que prende a atenção do espectador junto aos detalhes técnicos como figurino, maquiagem, cenários, efeitos especiais e, é claro, a trilha sonora que traz o clássico rock emoldurando as boas cenas de ação.
Ame ou odeie, Thor: Amor e Trovão é um blockbuster que atende as expectativas de um bom entretenimento sobre um personagem que sempre teve a história traçada entre o drama e a boa dose de humor. Eu não amei, mas gostei do filme.
Cenas pós-crédito
A primeira cena pós-crédito revela que Zeus está vivo e quer se vingar de Thor e toda a confusão que causou no Olimpo. Para isso, o deus mais poderoso de todos contará com a ajuda de Hércules, introduzido no MCU e interpretado por Brett Goldstein (Ted Lasso), que ajudará a dar início a esta vingança.
A segunda cena pós-crédito mostra que Jane Foster é realmente uma deusa e foi para Vahalla, lugar divino que resguardam a vida eterna dos deuses. Na porta, ela é recebida por Heimdall (Idris Elba), que lhe dá as boas-vindas e agradece por ter protegido o seu filho (Axl/Astrid) na Terra. Com estas duas cenas, a Marvel confirma que Thor retornará ao MCU, o que pode ser um novo filme solo ou, até mesmo, em um longa com a reunião dos novos vingadores. Vamos aguardar.
Ficha Técnica
Thor: Amor e Trovão
Direção: Taika Waititi
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tessa Thompson, Taika Waititi, Christian Bale, Russell Crowe, Chris Pratt, Jaimie Alexander, Kat Dennings, Karen Gillan, Dave Bautista, Pom Klementieff, Sean Gunn, Vin Diesel, Bradley Cooper, Stephen Curry, Kieron L. Dyer, Simon Russell Beale, Melissa McCarthy, Matt Damon, Sam Neill, Luke Hemsworth, Idris Elba e Brett Goldstein.
Duração: 1h59min
Nota: 2,9/5,0