Se o primeiro filme agradou, Enola Holmes 2 irá cair no gosto do público justamente por capturar tudo o que foi apresentado anteriormente e entregar personagens e elementos mais amadurecidos, com temática atual em uma investigação mais enraizada cuja resolução não é previsível, acertando no fator surpresa digno de ser resolvido pela família Holmes. É um filme despretensioso, equilibrado, divertido e com bom toque misterioso que prende a atenção do início ao fim.
Harry Bradbeer e Jack Thorne retornam na direção e no roteiro de Enola Holmes 2 que traz de volta a irmã adolescente de Sherlock Holmes decidida a dar um passo importante em sua carreira, enquanto enfrenta uma conspiração que pode vir a ser o seu caso mais perigoso até agora.
Novamente temos a adaptação dos livros da autora Nancy Springer e, aqui, após resolver o caso do desaparecimento de sua mãe e o mistério envolvendo um jovem lorde fugitivo, Enola abre a sua própria agência de investigação, para assim, sair das sombras do famoso irmão detetive. Mas nem tudo são flores e os primeiros passos não são fáceis, uma vez que as pessoas não levam seu trabalho à sério justamente por Enola ser mulher e jovem, chegando à conclusão da falta de experiência por puro preconceito.
Mas a chance de provar que é uma ótima detetive surge quando Enola é contratada por uma jovem – que trabalha em uma fábrica de fósforos da cidade – para encontrar a sua irmã que está desaparecida há uma semana. Em pouco tempo, a detetive se vê envolvida em uma perseguição de alto risco por Londres, viajando no submundo industrial decadente. Mesmo sendo independente, em um dado momento, Enola precisará da ajuda do lorde Tewkesbury e, é claro, de Sherlock.
Assim como o primeiro filme, Enola Holmes 2 continua com uma narrativa jovial e bem dinâmica em que o espectador se depara com uma história mais envolvente, cuja investigação ganha uma boa concentração de mistério, pistas, suspeitos e contribuições. A trama ganha uma fórmula similar ao filme anterior com um desenvolvimento maior para melhorar o que já é bom.
A técnica da quebra da quarta parede é novamente aplicada em que a protagonista introduz sua mais nova missão, relata sobre os demais personagens, o novo caso e suas ações, com bons comentários e expressões faciais irônicas que dão um ótimo tom cômico. A sequência inicial indica que a primeira parte do filme segue uma narrativa não linear em que vemos Enola fugir da polícia enquanto anuncia que o público irá entender a razão para ela estar nesta atual situação, fazendo a história ser rebobinada para, assim, chegarmos no ponto onde a encontramos.
Claro que, por se passar nos anos 1800, o filme entrega uma ambientação que se divide entre a Londres da nobreza impecável e uma Londres acinzentada e desleixada onde o mistério se dissipa emoldurando as vítimas, os suspeitos e os salvadores na quais o público conhece pelo olhar de Enola. Além disso, a narrativa utiliza novamente do visual de recortes e colagens de jornais, papeis e figuras para ilustrar a linha de raciocínio de Enola e Sherlock, a fim de deixar as pistas em evidência, um detalhe que torna as cenas mais atrativas ao espectador.
Qual é a nova missão?
O primeiro filme aborda o feminismo em uma época conservadora e preconceituosa pela perspectiva de Enola, que aprendeu com a mãe a fugir dos moldes de ser uma dama da sociedade. Esta sequência continua com a mesma temática, abordando-a sob a perspectiva dos direitos da mulher no trabalho, que a coloca em uma postura submissa, tornando-se um grande risco à vida de cada uma.
Tal tema se destrincha com o desaparecimento de Sarah Chapman (Hannah Dodd), uma jovem que trabalha na fábrica de fósforo que guarda segredos obscuros em nome do poder, dinheiro, egoísmo e da ambição sem se importar com o trabalho árduo das funcionárias, colocando a saúde delas em alto risco.
Crítica: A Escola do Bem e do Mal
Enquanto o passo a passo desta investigação é destrinchado, Enola Holmes 2 traz dinâmicas ainda melhores entre os personagens que faz com que o público se apaixone por eles de novo. Novamente, a relação de mãe e filha é abordada, na qual Enola relembra os ensinamentos de Eudoria, seja nas aulas de luta, dança e, é claro, a perspectiva sobre uma situação caótica, afinal, todo mistério tem a sua ponta solta e ela sempre estará na sua frente.
Mesmo com uma participação menor, a atriz Helena Bonham Carter continua fabulosa no papel da mãe, que aparece no timing certo para ajudar e guiar a filha a ir para o caminho correto. Junto a ela, também temos o retorno de Edith (Susan Wokoma) que continua representando força e empoderamento. O filme forma uma excelente dupla, confirmada em uma sequência de fuga sagaz e deliciosa de assistir, em que Edith, Eudoria e Enola lutam com a polícia. A cena da prisão também é sensacional.
Mas sabe qual dupla Enola Holmes 2 faz questão de explorar? Sim, os irmãos Holmes! Henry Cavill e Millie Bobby Brown esbanjam carisma e química fraternal em que brigam, discutem e se amam. De um lado, temos uma Enola independente, forte e um pouco orgulhosa por não aceitar ajuda de primeira, o que faz até a mãe reconsiderar alguns ensinamentos que lhe passou, garantindo que todos precisam de alguém ao seu lado.
Desta vez, o filme dá espaço e explora mais a personalidade de Sherlock Holmes, especialmente as suas abordagens em uma investigação que, por sinal, batem de frente com os de Enola, comprovando que os casos se conectam, a conspiração é maior do que imaginavam e a resolução não é previsível, mas está perto de acontecer.
Junto a essa missão, vemos esse lado fraternal dos personagens se colidir genialmente, garantindo momentos de reflexão, discussões e empatia, afinal, Sherlock reconhece o enorme potencial de Enola como detetive. Também vemos um Sherlock frustrado diante de um caso cuja solução foge do alcance de suas mãos, desafiando-o a dar passos ao desconhecido onde a pista está. E tudo funciona quando essa dupla se reúne para encontrar o verdadeiro culpado tanto do golpe financeiro que Sherlock investiga quanto do desaparecimento da garota e o mistério por trás da fábrica de fósforos.
Não posso deixar de falar o filme faz questão de entregar cenas divertidas dos irmãos Holmes, como por exemplo, Sherlock cambaleando pelas ruas. Ver Sherlock Holmes bêbado é uma das coisas mais engraçadas em qualquer adaptação da trama do detetive.
Entre mistérios e investigações, Enola Holmes 2 também dá espaço para o romance de Enola e Tewkesbury (Louis Partridge) que é algo natural, fofo e envolvente. Se essa parceria deu certo no primeiro filme, a sequência reforça esta dupla com amizade e boa química nada enjoativa.
Desta vez, temos a participação especial de David Thewlis que encarna o detetive Grail, que também está por trás do caso da fábrica de fósforos e segue os passos de Enola. Ele entrega um personagem asqueroso, frio, impetuoso e que faz de tudo para atrapalhar Sherlock. Grail é uma caixinha de surpresa desagradável que sabe injetar obstáculos na trama.
Há também outras participações como do detetive Lestrade (Adeel Akthar), Mira Troy (Sharon Duncan-Brewster) e Mae (Abbie Hern), que é uma das iscas para Enola iniciar a investigação.
Crítica: O Enfermeiro da Noite
Mas não posso deixar de falar de duas participações que se destacam aqui: Dr. Watson e Moriarty, personagens clássicos das histórias de Sherlock Holmes. Não direi quem interpretar esses papeis, mas ambos aparecem no timing certo, indicando que poderão aparecer em futuras histórias deste universo.
Considerações finais
A reta final de Enola Holmes 2 caminha para um desfecho e surpreende ao dar mais uma volta a fim de mostrar que o final pode ter o seu bom toque de imprevisibilidade. Além disso, confirma que esta história é inspirada no caso real da greve das meninas dos fósforos, que ocorreu em Londres em 1888, um movimento que marcou a história social britânica.
Enola Holmes 2 engrandece o que foi apresentado no filme anterior, firma o elenco forte que tem, reforça a boa ambientação, os figurinos e as técnicas aplicadas anteriormente e apresenta uma nova investigação que é mais profunda, enquanto explora as relações dos personagens com química e carisma.
Enola Holmes 2 expande o seu universo e abre as portas para um possível terceiro filme. Vale a pena assistir.
Ficha Técnica
Enola Holmes 2
Direção: Harry Bradbeer
Elenco: Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Helenha Bonham Carter, Louis Partridge, Susan Wokoma, Hannah Dodd, Sharon Duncan-Brewster, Adeel Akthar, Himesh Patel, Abbie Hern, Gabriel Tierney, Róisin Monaghan, Tim McMullan e David Westhead.
Duração: 2h09min
Nota: 3,9/5,0