Agora temos a versão brasileira de A Culpa é das Estrelas para chamar de nosso. Depois do Universo é a nova produção brasileira da Netflix que traz um romance melancólico, bonito, repleto de clichês e frases de efeito que encanta os mais sensíveis na medida certa, além do ótimo casal de protagonistas e o elenco. No entanto, a reviravolta da história gera um anticlímax que, talvez, não agrade, mas amarra as pontas dos arcos com um bom toque de emoção. Com os prós e contras, vale a pena assistir este filme e vou te dizer o porquê.
Com direção de Diego Freitas, Depois do Universo traz uma história de amor e música em que um casal se forma em um momento delicado sobre perda, esperança e perseverança de um futuro melhor. A trama apresenta Nina, uma jovem talentosa pianista que, desde pequena, luta contra o lúpus, uma doença autoimune que atinge todo o seu corpo, inclusive as articulações de suas mãos. Ela vê os seus sonhos irem embora entre as sessões de hemodiálise e a espera por um transplante de rim, o que a deixa ainda mais longe do objetivo de tocar na Orquestra Sinfônica de São Paulo.
Durante o tratamento, ela conhece o jovem Gabriel, um médico residente que tem amor à profissão e aos seus pacientes. Com isso, ele passa a ajudá-la a superar suas inseguranças e a lutar pelo sonho de ser uma grande pianista como sempre almejou.

Depois do Universo se encaixa no termo sick-lit, um gênero muito usado em romances literários ao retratar histórias tristes que envolvem personagens com doenças graves e/ou terminais. E quando digo que esta é a versão brasileira da adaptação da obra de John Green, é porque as similaridades são grandes, e quem conhece a história, sabe como começa e termina.
Crítica: A Escola do Bem e do Mal
O filme nos agracia com a construção do romance de Nina e Gabriel, desde o encontro acidental pelas ruas, oficializando no hospital em que o amor nasce aos poucos com a aproximação e abertura que um oferece ao outro. E sim, espere por muitos momentos clichês e muitas frases de efeito que fazem até o espectador dar risada por conta da breguice. Ainda assim, o longa deixa estes elementos funcionarem com certa naturalidade que cativa o olhar e a expectativa do público que torce para que tudo fique bem com os protagonistas, apesar das circunstâncias dizerem o contrário.

Todo o romance funciona com as boas interpretações de Giulia Be e Henrique Zaga, que esbanjam carisma e doçura na tela. Em seu primeiro trabalho como atriz, Giulia Be acerta no tom de sua personagem e entrega uma Nina pessimista por ver seus sonhos se desvaindo enquanto luta diariamente para viver, o que faz ela transbordar força e determinação, mesmo com os pés fincados em sua atual realidade. Nina é extremamente talentosa no piano, levando o espectador a passear com os seus dedos pelos teclados, cenas que dão gosto de ver e ouvir. Giulia entrega uma boa impressão à primeira vista com um talento que pode ser desfrutado ainda mais.
Se você assistiu Os Novos Mutantes, já conhece Henry Zaga. Em Depois do Universo, o ator não faz feio e entrega aquele personagem ideal que, um dia, você já imaginou e até procurou (ou ainda procura). Gabriel é atencioso, dedicado, inteligente, batalhador, carinhoso, amigo e honesto. Sim, o personagem transborda qualidades com defeitos que ficam em segundo plano na história. Se ele erra é para acertar. A química dele com todos os personagens funciona, até mesmo quando está discutindo com o pai, diretor do hospital.

Mas é a química com Giulia Be que completa o dinamismo da história, trazendo o equilíbrio entre pessimismo e otimismo, esperança e desistência. Junto a eles, o elenco coadjuvante não fica a desejar e conta com João Miguel, Othon Bastos, Adriana Lessa, Viviane Araújo, Isabel Fillardis, Denise Del Vecchio e Leo Bahia, que interpreta Yuri, médico residente e melhor amigo de Gabriel que traz os melhores alívios cômicos e representatividade ao filme. Impossível não sorrir quando o personagem aparece na tela.
Crítica: O Enfermeiro da Noite
Além do bom elenco e da boa premissa, o desenvolvimento do romance de Depois do Universo leva o espectador a passear pelos tradicionais cenários de São Paulo, como o centro com destaque para a região da República, a famosa Estação da Luz e o icônico Theatro Municipal em que vemos Nina destilar todo o seu talento no piano com a expectativa de conseguir uma vaga na Orquestra Sinfônica. Junto a isso, o filme faz inserções alegóricas dos personagens flutuando no universo que, talvez, alguns não curtam tanto e outros não se importem. Fica a critério de cada um que for assistir ao longa.
No entanto, é a reviravolta de Depois do Universo que poderá dividir as opiniões. O grande plot twist surge na reta final, como se fosse uma extensão desta história que, para mim, poderia ter parado por aí. Infelizmente, o que acontece se torna um anticlímax à trama pela forma como acontece, gerando consequências tristes que deixarão alguns chateados com tal decisão. Ainda assim, o longa se salva ao amarrar positivamente os arcos dos personagens, dando um desfecho melancólico, mas bom. É o famoso ‘gostei, mas queria outro final’.
Final explicado (contêm spoilers)

Vou contar o que ocorre no final de Depois do Universo. Mesmo sem a expectativa de um transplante à vista, Nina e Gabriel se encontram em paz, desfrutando do romance, enquanto a garota ganha uma nova chance para fazer o teste para a Orquestra Sinfônica.
No entanto, durante uma pequena viagem para realizar o mesmo sonho que sua falecida mãe, Gabriel escala uma montanha e, ao deixar a foto da mãe cair, ele tenta pegar e, tragicamente, cai do penhasco quando a corda solta. Ele chega ao hospital com vida, mas morre durante a cirurgia. Todos ficam abalados diante da tragédia, especialmente Nina. E para continuar com os seus objetivos e tudo o que foi construído ao lado de Gabriel, ela faz o teste e se apresenta com a Orquestra de São Paulo.
Paralelamente, o pai de Gabriel deseja dar continuidade ao legado e altruísmo do filho e, assim, o médico doa o seu rim para Nina, salvando a vida da pessoa mais importante para o rapaz.
Apesar das amarrações serem bonitas e emocionantes, não dá para negar que a morte de Gabriel foi estúpida, uma vez que ele arriscou a vida por conta de uma foto, gerando um anticlímax forte à trama que, ainda assim, se salva nos minutos finais com o final feliz de cada um, mas não o ideal como imaginamos que seria.
A verdade nua e crua é que, às vezes, o universo é egoísta e cruel demais, tirando as pessoas boas e mais incríveis ao lado de quem procurou por elas por tanto tempo. Fala sério, né?
Considerações finais
Apesar de um final que divide opiniões, Depois do Universo é um romance dramático clichezão que funciona na medida certa com um casal de protagonistas carismáticos e com ótima química que faz o público torcer por eles o tempo todo. Acrescenta-se o cenário fantástico de São Paulo para se apreciar e um elenco coadjuvante que complementa positivamente a história. É um filme doce e melancólico, que prova que o final feliz nem sempre vai ser o ideal que imaginamos.
Ficha Técnica
Depois do Universo
Direção: Diego Freitas
Elenco: Giulia Be, Henry Zaga, João Miguel, Othon Bastos, Leo Bahia, Rita Assemany, Viviane Araújo, Isabel Fillardis, Denise Del Vecchio e Adriana Lessa.
Duração: 2h06min
Nota: 3,0/5,0