Há 29 anos conhecíamos o trio de bruxas que viria a se tornar um dos maiores ícones do Halloween, fazendo muitos colocarem Abracadabra em seus rituais de maratonas de filmes desta época. Demorou, mas agora as irmãs Sanderson estão de volta em Abracadabra 2 (Hocus Pocus 2) ainda melhores em uma adaptação das personagens ao mundo atual, em uma história que conecta perfeitamente ao original, resgata a nostalgia sem se debruçar nas referências, diverte na medida certa sem soar forçado e apresenta uma nova geração de personagens carismáticos cuja química em cena é instantânea. O longa traz uma atmosfera de renovação em uma trama já conhecida conquistando antigos e novos fãs.
Com direção de Anne Fletcher, Abracadabra 2 se passa exatamente 29 anos após os eventos do primeiro filme, quando a vela da chama negra foi acesa por Max, ressuscitando as bruxas do século XVII. No entanto, as circunstâncias se repetem na Salem de 2022, quando as amigas Becca e Izzy, em seu típico ritual mágico de aniversário, acidentalmente acendem uma nova vela com a mesma chama que, automaticamente, trazem de volta as irmãs Sanderson que, além más e buscarem por vingança, se tornaram figuras famosas do Halloween da cidade, o que pode dificultar a situação.
Agora as duas, junto com a amiga Cassie, terão que encontrar um meio de detê-las, antes que elas voltem a sugar as almas das crianças, além de ir atrás do prefeito, uma vez que ele tem descendência de uma pessoa mal vista pelas irmãs.
O primeiro ponto positivo de Abracadabra 2 é a origem das irmãs Sanderson, retratando sua juventude em uma Salem extremamente conservadora que enxergava o trio com maus olhos, especialmente por Winnie ser afrontosa e ir até as últimas consequências para proteger as irmãs.
Abracadabra: 18 curiosidades sobre o clássico de Halloween
O passado revela a razão para as irmãs serem perseguidas pela cidade e como se tornaram bruxas ao ter o primeiro contato com a feiticeira (Hannah Waddingham) há muito tempo escondida na floresta proibida, responsável por apresentar o famoso Sr. Livro. Claro que o filme escolhe ótimas atrizes que encarnam perfeitamente as versões jovens das protagonistas, desde as características físicas até os trejeitos de falar e agir.
Já na atual Salem, Abracadabra 2 apresenta ao público a nova geração da cidade que adere à tradição do Halloween com alegria, enaltecendo a imagem das irmãs Sanderson, além de ter a oportunidade de expor o seu amor à magia. Este é o caso de Becca e Izzy, que seguem a tradição do encontro na floresta, um ritual temporariamente quebrado com o afastamento de Cassie por conta do seu atual namorado. Apesar da relação estar estremecida, o filme deixa claro que esta amizade é forte, um detalhe que será essencial ao desenvolvimento da trama.
Confesso que estava com o pé atrás com relação às novas personagens, mas o longa surpreende ao esbanjar carisma não só delas diante da missão de lidar com as irmãs Sanderson, mas também dos novos coadjuvantes, como é o caso de Gilbert (Sam Richardson), dono da loja de especiarias mágicas, que é fundamental no enredo, especialmente quando descobrimos o que ele faz; e o Sr. Traske (Tony Hale) que diverte com sua euforia pela época do Halloween, é um pai amoroso e protetor, um prefeito dedicado à cidade, mas também uma figura ameaçadora para as bruxas, por conta de sua conexão familiar do passado.
A atriz Whitney Peak – atualmente conhecida pela nova Gossip Girl – surpreende ao entregar uma Becca cujas atitudes são naturais na tela, sempre com a intenção de proteger quem ama. Ela é inteligente, sabe colocar as pessoas em seu devido lugar no timing certo, tem diálogos pontualmente afiados e ainda carrega um lado sobrenatural que desperta a curiosidade, uma vez que isso a ajuda a lidar com as bruxas. No entanto, o roteiro não se aprofunda nessas origens mágicas, o que também não prejudica a história.
Já Izzy (Belissa Escobebo) traz doçura e esperteza, servindo de grande apoio nessa missão ao lado de Becca, além de tentar reunir o trio ao fazer as pazes com Cassie (Lilia Buckingham), que fica de fora da situação até o segundo ato do filme, mergulhando nessa missão quando finalmente o mal bate à sua porta.
A forma como o trio lida com as irmãs Sanderson é algo deliciosamente irônico, nostálgico e divertido de assistir, especialmente pelo ponto de vista das protagonistas originais. As três mantêm suas essências desde o primeiro longa, seja a Winnie (Bette Midler) liderando com o seu lado afrontoso e um toque delicadamente maldoso; a Sarah (Sarah Jessica Parker) que encanta com sua beleza e traz um ótimo alívio cômico com o seu lado avoado e distraído; e Mary (Kathy Najimy), a irmã mais amável das três e funcional na hora da ação.
O encontro de gerações acontece com naturalidade em que, ora as novas personagens enganam as protagonistas ao jogá-las diante do novo, como a cena da farmácia que é sensacional; ora as Sanderson aderem à tecnologia a seu favor, desde transformar aspiradores de pó em vassouras voadoras até participar de um concurso de cosplay das irmãs e aplicar a magia na população que, em uma performance de flash mob, percorre a cidade à procura do grande alvo (o prefeito) das irmãs.
Claro que Abracadabra 2 traz ótimas referências ao primeiro filme, desde cenas flashbacks, easter eggs de objetos como o próprio livro e a figura do gatinho preto que, por sinal, aparentemente é só um felino e ninguém foi transformado; e participações especiais como o inesquecível Billy Butcherson (Doug Jones) que retorna do mundo dos mortos, revelando que está acordado desde 1993 por conta da magia das Sanderson. Além disso, o espectador descobre mais sobre a relação dele com Winnie e a razão para Billy querer distância das irmãs que, um dia, estragou a sua história que é compartilhada por muitos.
Mas o que faz Abracadabra 2 funcionar com maestria é o fato de não se debruçar totalmente na nostalgia da história, mas também não entregar situações que forçam as personagens lidarem com o novo mundo. Ou seja, o filme aplica circunstâncias naturais na jornada das bruxas que é algo ocasional, divertido e não tende para o lado jocoso, como por exemplo, a própria tecnologia: o público não vai ver Winnie tentando mexer em uma ‘alexa’ (sim, ela aparece) ou a Sarah mexendo no computador. Essas cenas ao estilo esquete que força uma atmosfera cômica está fora de cogitação aqui.
A emoção toma conta na reta final quando a história aplica a regra número 1 do mundo mágico: toda magia tem o seu preço (já dizia o sábio Rumplestiltskin de Once Upon a Time), fazendo tanto Becca, Izzy e Cassie mexerem com a magia, pela primeira vez, em nome do bem, enquanto as irmãs Sanderson colhem os frutos colaterais ao alcançar o que era proibido séculos atrás. No entanto, o que era para ser uma luta eufórica entre o bem e o mal, tal momento se torna singelo e emocionante na forma como colocam um ponto final nesta trama, especialmente por enaltecer o amor que as irmãs Sanderson têm uma pela outra.
Considerações finais
Mesmo quase 30 anos depois, Abracadabra retorna em uma sequência que refresca o original, resgata a nostalgia em meio ao novo mundo sem soar forçado, com bons alívios cômicos, aventura, magia e ação na medida certa com um trio de protagonistas cuja essência continua fabulosa e intocável, enquanto os novos personagens entregam carisma e boa química na tela.
Abracadabra 2 está disponível no Disney Plus e é aquele filme para acompanhar uma nova aventura enquanto sacia a saudade de icônica e tradicional história de Halloween. Assista até o final, pois há UMA cena pós-créditos que abre portas para um possível terceiro filme. Será que vem aí?
Ficha Técnica
Abracadabra 2
Direção: Anne Fletcher
Elenco: Bette Midler, Sarah Jessica Parker, Kathy Najimy, Doug Jones, Whitney Peak, Belissa Escobebo, Lilia Buckingham, Sam Richardson, Tony Hale, Hannah Waddingham, Froy Gutierrez, Taylor Henderson, Nina Kitchen, Juju Journey Brener e Thomas Fitzgerald.
Duração: 1h47min
Nota: 4,0/5,0