Millie Bobby Brown como Enola Holmes? Henry Cavill como Sherlock Holmes? Sam Claflin como Mycroft Holmes? Helena Bonham Carter como mãe dos três? E não é que deu certo este elenco!
Enola Holmes é a mais nova produção que chega na Netflix que, na verdade, torna-se um convite duplo: tanto para convidar os mais jovens a conhecer o universo de um dos detetives mais conhecidos dos livros/filmes/séries; quanto para conhecer a história divertida e intrigante da irmã e nova concorrente de Sherlock. É um filme que agrada todos os públicos, mas tem um foco maior em querer chamar a atenção dos mais jovens com uma linguagem jovial, timing cômico bom e um mistério a ser desvendado pelo olhar observador de uma garota de 16 anos que não fica nada a desejar. Enola Holmes é divertido e inteligente e vou te dizer o porquê.
Você pode conferir a crítica em texto ou vídeo abaixo.
Baseado no livro Os Mistérios de Enola Holmes – O Caso do Marquês Desaparecido, da autora Nancy Springer, o filme se passa na Inglaterra de 1884, em que o mundo está prestes a mudar. Na manhã do seu aniversário de 16 anos, Enola descobre que a mãe desapareceu, deixando para trás alguns presentes enigmáticos e um grande mistério sobre seu paradeiro.
Enola cresceu muito livre, mas agora passa a viver sob os cuidados dos irmãos Sherlock e Mycroft, que decidem mandá-la para uma escola de etiqueta para aprender boas maneiras. Indignada, ela foge para Londres em busca da mãe. Quando sua jornada a coloca diante de um mistério envolvendo um jovem lorde fugitivo (Louis Partridge), ela acaba descobrindo uma conspiração que pode alterar o curso da História e se transforma em uma investigadora de respeito capaz de superar seu famoso irmão.
Como disse anteriormente, Enola Holmes ganha uma narrativa mais jovial e dinâmica com o foco em atrair um público mais jovem a começar a conhecer o universo de Sherlock Holmes, começando pela irmã. Mas claro que isso não significa que o filme seja infantil, pois não é, uma vez que irá agradar ao público adulto também.
O filme ganha uma narrativa em terceira pessoa feita pela própria protagonista em que não vai só se apresentar, como também introduzir e comentar a respeito dos personagens e suas ações. Um ponto muito interessante é que o filme utiliza do recurso da quebra da 4ª parede, em que a protagonista olha diretamente para a câmera para conversar com o público. Neste momento, ela comenta, questiona, tira sarro, ironiza, além de fazer e caras e bocas como se, de fato, o telespectador estivesse ao lado dela conversando e escutando. Aliás, quem assistiu a série Fleabag vai saber exatamente como isso funciona. Outro ponto interessante é que a narrativa utiliza do visual de recortes de jornais para ajudar a contar a história, o que deixa a trama mais atrativa aos olhos.
A trama é legal?
A trama tem como fio condutor o desaparecimento da mãe no dia do aniversário de Enola. Não há sequestro e nem nada, a mãe vai embora por conta de assuntos que precisam ser resolvidos, mas ela deixa pistas para que a filha possa reencontrá-la. Mas por ser menor de idade, Enola acaba ficando sob os cuidados de Mycroft, que fica indignado pela irmã ser “selvagem” e não ter nenhuma noção de etiqueta e bons costumes que uma dama deve ter para agradar a sociedade. Já Sherlock é mais enrustido e aparenta não ligar muito, mas se identifica demais com Enola justamente por serem muito parecidos nas atitudes e no modo de pensar.
Para fugir do internato e das ordens de Mycroft, Enola parte em busca da mãe, mas se depara com um encontro inesperado e um mistério ainda mais intrigante: o caso do marquês Lord Tewksbury que foge de casa. Mais do que isso, os dois se deparam com um homem que deseja matar o jovem a qualquer custo, o que faz os planos de Enola mudarem completamente.
Não quero adentrar muito na trama para não dar spoilers, justamente por se tratar de mistério e investigação, mas o filme tem como fio condutor o desaparecimento da mãe que, a princípio, parece ser o plot principal, mas a verdade é que funciona m ais para o público conhecer Enola e a relação bonita, forte e independente dela com a mãe, Eudoria.
Um dos pontos fortes do enredo é enaltecer o feminismo e quebrar a imagem de dama da sociedade, especialmente por se passar em 1884, onde a mulher tinha pouquíssimos direitos e a obrigação de aprender a bordar, se comportar bem, ter postura feminina, construir e cuidar da família, entre outras coisas. A protagonista é completamente o oposto e vai na contramão de todos esses padrões, o que torna a trama ainda melhor.
As cenas de Enola e a mãe mostram educação, esperteza, inteligência, independência e autodefesa, o que faz a gente entender de quem o Sherlock e a Enola puxaram, uma vez que a mãe também é extremamente inteligente e perspicaz. De exemplo, temos Eudoria ensinando a filha a lutar, a sempre levantar a cabeça e não desistir, a observar até o detalhe mais bobo ao seu lado, sempre com frases de efeito e que funcionam bem nos diálogos, além de mensagens decifradas, que é o passatempo favorito de ambas e a melhor forma que elas encontram para se comunicar. E tudo isso é destrinchado aos poucos até o final do filme.
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Enquanto o público conhece quem é Enola e a relação com a mãe, o filme desenvolve o mistério na qual a protagonista encabeça e decide ajudar o Lord a sair desta enrascada que custará a sua vida. Na minha opinião, o mistério é divertido e ganha um desenvolvimento bem ao estilo das histórias de Sherlock Holmes, com uma perspectiva mais dinâmica, jovial e, é claro, inteligente. Enola coloca as engrenagens do cérebro para funcionar o tempo todo, analisa todos os detalhes e segue em frente, mesmo que tal ação seja arriscada, o que torna ainda mais interessante de acompanhar.
As cenas de luta são legais e divertidas, pois Enola coloca em prática tudo o que aprendeu com a mãe ao longo dos anos. Além disso, a química de Millie Bobby Brown com Louis Partridge funciona bem e mistura mistério em meio a amizade, sarcasmo e um pitadinha de romance.
Personagens
Enola Holmes ganha um elenco que jamais imaginei que, um dia, poderia interpretar tais personagens, e me surpreendeu positivamente. Millie Bobby Brown entrega uma Enola ainda na fase do amadurecimento, mas que vai muito mais além por conta da educação que recebeu de sua mãe. É uma Enola esperta e sarcástica, não desiste fácil, mesmo que o medo, às vezes, fale mais alto.
Outra grande surpresa, para mim, é Henry Cavill na pele do maior detetive que conhecemos. Como o foco do filme é na irmã, temos uma participação menor do ator, mas que não deixa de ser bom e importante. Henry entrega um Sherlock mais introspectivo, inteligente e perspicaz, como já conhecemos nas características da figura do detetive. Suas habilidades são citadas, mas pouco usadas, pois o objetivo é a relação dele com Enola, a reaproximação dos irmãos e, é claro, ver a protagonista com as mesmas habilidades do irmão. Curti vê-lo neste papel.
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Sam Claflin sempre manda bem nos papéis e aqui ele entrega um Mycroft bem chato e não tem como dizer o contrário. Mycroft se sente para trás, uma vez que os irmãos são extremamente inteligentes e sempre estão a um passo à frente, o que faz Mycroft se esforçar três vezes mais. Ele não aceita a postura de sua irmã, obrigando a garota a ir para um internato de moças a fim de aprender etiqueta e boas maneiras. A relação dele com Enola não é boa e, em nenhum momento, o filme cria expectativas de que isso vá melhorar, o que torna interessante acompanhar as divergências extremas dos irmãos.
Helena Bonham Carter também tem uma participação menor, mas ela está incrível também como mãe do trio Holmes, mas seu contato maior é com Enola a fim de ajudar a contar a história da protagonista.
Considerações finais
A reta final do filme nos entrega a resolução do mistério que, por sinal, é interessante e ainda contribui com a trama que encabeça o feminismo e direitos iguais às mulheres. Além disso, vemos como fica, no final, a relação dos três irmãos e, é claro, a gente descobre se Enola reencontrou a mãe ou não. Mas aí só assistindo para vocês saberem.
Enola Holmes é um filme de mistério, investigação e também uma história de origem de Enola, não só considerada irmã, mas também uma ótima concorrente de Sherlock Holmes. É um filme jovial e divertido que vai agradar muitos.
Ficha Técnica
Enola Holmes
Livros: Os Mistérios de Enola Holmes – O Caso do Marquês Desaparecido
Direção: Harry Bradbeer
Elenco: Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonhan Carter, Louis Partridge, Fiona Shaw, Adeel Akhtar, Frances de la Tour, Susan Wokoma e Burn Gorman.
Duração: 2h3min
Nota: 7,9