Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant–Man and the Vasp: Quantumania) dá início a fase 5 do universo cinematográfico Marvel de forma bem morna, com boas intenções e gatilhos que prometem crescer futuramente. O filme explora o núcleo familiar, fortalecendo algumas relações afetadas pelo último grande evento; apresenta um novo universo expansivo; introduz um grande novo vilão, enquanto desenha os próximos passos da Marvel.
Mesmo com novidades, o longa poderia ter se aprofundado nos gatilhos apresentados, indo direto ao ponto sem certas enrolações (uma vez que o óbvio já está ali) e criado uma atmosfera de suspense mais intensa ao redor do antagonista, a fim de alimentar e não só criar a expectativa no público sobre o que virá pela frente. O filme é OK, é divertido de assistir, mas é notável a falta de ousadia e coragem em algumas decisões que teriam deixado a trama melhor e o início de uma nova fase mais promissor.
******SEM SPOILERS******
Com direção de Peyton Reed, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania se passa após os eventos de Vingadores: Ultimato, em que acompanhamos Scott em sua nova fase de vida: escreveu um livro sobre sua jornada ao lado dos Vingadores para derrotar o Thanos; é reconhecido pelas pessoas; tem uma relação feliz e estabelecida com Hope que, agora, é presidente da empresa na qual contribui à ciência e tecnologia ao redor do mundo; e está mais próximo da filha Cassie, uma vez que ele perdeu alguns anos de vida da garota por conta do BLIP.
Ao mesmo tempo em que ele sente satisfeito, há um certo vazio rondando, especialmente pelo fato dele estar próximo de Cassie, mas não estar envolvido como gostaria. Enquanto isso, a própria garota mergulha em uma rebeldia a fim de fazer a diferença para os outros o que, às vezes, a faz tomar decisões impulsivas levando a consequências negativas como a cadeia, por exemplo.
Enquanto Cassie questiona e desafia o pai a poder fazer mais como um super-herói e membro dos Vingadores, Scott descobre a paixão e o projeto de Cassie voltado à ciência e ao Reino Quântico, o que deixa Janet em estado de alerta, uma vez que ela ficou presa lá por 30 anos e há segredos nunca revelados, até agora.
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Ao criar um aparelho capaz de captar sinais e criar uma comunicação com este reino, Janet teme que Cassie alcance o que não deveria. Ao tentar desativá-lo, todos são sugados diretamente ao Reino Quântico, iniciando uma jornada ao desconhecido, enquanto o grupo se depara com Kang, o Conquistador.
No geral, posso dizer que Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é até melhor que Thor: Amor e Trovão (2022). O primeiro ponto positivo é que o longa sabe aproveitar o seu núcleo familiar juntos e separados, afim de explorar pontos e preencher lacunas deixadas vazias anteriormente.
De um lado, Hope tem a chance de ter a mãe e o pai juntos com ela, especialmente por ter recuperado a Janet recentemente e, logo depois, sofrido o BLIP por cinco anos. Do outro, Scott deseja recuperar o tempo perdido com a filha, saber mais sobre os seus gostos, desejos e sonhos, além da razão para sua rebeldia – mesmo que seja para boas ações – pois ele preza por sua segurança e proteção, o que é normal. O roteiro aproveita estes arcos para injetar alívios cômicos que ora é divertido, ora é um pouco forçado e desnecessário.
Boa parte do filme é desenvolvimento no Reino Quântico, levando os personagens e o público a outro universo, desenhando uma narrativa ao estilo ‘Opera Space’, que mistura dramaticidade e ação em um cenário espacial. Por conta disso, espere por uma alta dose de efeitos especiais neste longa, mas, por incrível que pareça, o CGI não está ruim. Devido às últimas produções terem apresentado efeitos que ficaram bastante a desejar, é normal temer por algo negativo, mas Homem-Formiga 3 entrega uma ambientação satisfatória, bonita e bem colorida. Claro que nem todos vão curtir (como já é esperado), mas dizer que está completamente ruim é um equívoco.
Além disso, o filme não deixa de explicar sobre o Reino Quântico, em qual parte do universo faz parte, a razão para existir, os tipos de seres que habitam o local, os perigos que moram lá e o segredo não revelado…até agora.
Personagens
Outro ponto interessante de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, claramente, são os personagens que movem toda a história. Talvez seja aqui que as opiniões ficarão divididas, uma vez que a ausência de ousadia e coragem são sentidas em certas ações.
Paul Rudd continua bem e confortável na pele do protagonista, e desde a sua primeira aparição no MCU, a essência do personagem continua a mesma, acrescentado de evolução e amadurecimento por conta de tudo o que viveu, além de novos aprendizados sobre o que vive e viverá. É possível sentir um certo vazio, uma vez que Scott está feliz com sua trajetória, mas perdido sobre o que pode melhorar como herói para ajudar ao próximo, um ponto ressaltado pela filha. Junto a ele, Evangeline Lilly também continua ótima como Hope, com boa dose de ação e coragem, provando a força que tem, além do amor que sente por Scott que, neste terceiro filme, está mais genuíno. Ela está mais próxima dos pais, mas sente que ainda falta uma conexão maior com a mãe, uma vez que Janet possui segredos que a faz manter tal distância.
Michael Douglas e Michelle Pfeiffer continuam bem em seus respectivos papéis. Mesmo em um ambiente aparentemente agradável, mas hostil, Hank se mantém calmo, o que faz ele ter as melhores ações, aumentando ainda mais sua sabedoria. Se eu já gostava do personagem desde o primeiro longa, ele conquista mais ainda neste terceiro filme com suas poucas, pontuais e eficazes movimentações. O ‘menos é mais’ funciona para ele.
Já Pfeiffer não me agradou. Ela entrega uma Janet que só faz caras e bocas o tempo todo, cria um suspense no timing errado, especialmente pelo fato dela demorar a revelar o segredo, enquanto os demais já se encontram na zona de perigo. Apesar dela amar e proteger o marido e filha o tempo todo, é possível sentir uma conexão reduzida entre os três, mais inclinado a Janet. Hope e Hank têm uma química mais forte e palpável de pai e filha, do que filha e mãe ou esposa e marido.
No elenco temos a introdução de Kathryn Newton como Cassie Lang, filha de Scott. Achei a escalação da atriz positiva ao MCU, sendo possível já enxergar Cassie como uma futura vingadora. Todas as cenas dela com Paul Rudd são boas e a química oscila entre o sensível e cômico, em que os dois tem bastante momentos de pai e filha, na qual Cassie mostra vulnerabilidade e inocência, coragem e uma rebeldia construtiva. Porém, a Marvel segue a mesma fórmula narrativa de sempre colocar uma personagem jovem como gatilho para o caos, e Homem-Formiga 3 não foge disso.
Outra grande adição não só ao filme, mas também ao MCU é o ator Jonathan Majors que fez sua primeira aparição na série Loki, e em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania retorna como Kang, o Conquistador, o futuro promissor vilão que promete chacoalhar o multiverso e a vida dos super-heróis. Com relação à atuação, Majors não fica a desejar e o espectador é conquistado pela essência ameaçadora do antagonista.
No entanto, é possível culpar a narrativa pela forma como trata a apresentação deste vilão, na qual falta ousadia em criar um tom ameaçador e uma atmosfera de suspense ao redor dele. Por que Kang é tão ameaçador? Qual é a razão para ele ir parar no Reino Quântico? Por que os habitantes deste universo temem tanto pela presença dele? O que ele é capaz de fazer caso seja libertado? Temos estas respostas na palma da mão, mas que são oferecidas facilmente ao público. A verdade é que, quando é necessário trabalhar a apresentação do vilão e aprofundá-lo, o filme carece de tensão e suspense, enquanto outros momentos exageram nesses pontos onde não precisa, promovendo um desequilíbrio desnecessário.
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Há outras participações especiais no filme, como do ator Bill Murray que interpreta Krylar, líder de um dos povos do Reino Quântico, uma participação superficial e inútil. Até agora me pergunto a razão para este personagem existir.
******COM SPOILERS******
Com mais detalhes, posso dizer que Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é uma aventura espacial divertida de assistir, mas poderia ter sido mais intensa para o início de uma nova fase do MCU.
Com relação ao Reino Quântico, não tenho do que me queixar, pois este universo apresentado ao espectador mergulha oficialmente ao multiverso, onde se encontra abaixo do universo onde está a Terra, o que faz este local ser habitado por espécies exóticas aumentando a diversidade e riqueza do multiverso, o que é positivo.
O maior problema do filme está em como a narrativa trabalha algumas ações dos personagens, uma vez que detalhes já estavam premeditados, seja nos materiais de divulgação ou pelo que vimos em produções anteriores da Marvel. Por exemplo, por que a Cassie demora para usar o traje do Homem-Formiga, sendo que isso já havia sido apresentado na divulgação (o público já sabia), enquanto a própria personagem revela no início do filme que possui o traje. Ela leva um bom tempo até decidir usá-lo, chocando apenas o pai, enquanto o espectador faz cara de blasé enquanto assiste este momento nada revelador.
Outro ponto que fica a desejar é a forma com a Janet é conduzida no filme, criando-se um suspense no timing errado. A personagem se preocupa mais em fazer caras e bocas, enquanto esquece de criar uma conexão mais forte com Hank e Hope. Até as primeiras cenas, é possível compreender o medo de não querer falar sobre o Reino Quântico e quem ela conheceu e teme, mas a partir do momento em que todos são jogados para este universo e estão correndo perigo, não há razão para aumentar esse suspense que, na minha opinião, deveria ter sido direcionado ao vilão. Era possível aumentar a clareza dos fatos para que, assim, a atmosfera do medo fosse criada para a introdução do antagonista.
Este é outro ponto que fica a desejar em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Jonathan Majors é uma excelente escolha ao papel e o problema não está no ator (nunca esteve) e nem em sua atuação, e sim, na contradição em como o personagem foi apresentado e vendido ao público, e como é introduzido e desenvolvido neste longa.
A primeira aparição de Majors no MCU foi na série Loki, no papel de ‘Aquele que Permanece’, aquele que cria e controla tudo. Este personagem conseguiu transmitir medo e tensão em meio ao mistério de seu poder, o que deixou o público em estado de alerta, especialmente por alertar sobre suas versões ainda mais perigosas, sendo ele, o Kang.
Kang é conhecido por ser O Conquistador, aquele capaz de destruir universos, vidas e histórias, apagando as linhas temporais do multiverso em uma tacada só. Um personagem capaz de fazer isso, não merecia ter um desenvolvimento aquém, como teve. Aqui, o espectador nota a força e a maldade deste personagem que são tradados com facilidade e sem obstáculos mais potentes. De exemplo, temos o Kang sendo atacado pelas formigas atômicas que se transformam quando vão para este Reino. Ao mesmo tempo que é interessante, é também patético diante da força do vilão para ser derrotado temporariamente desta forma.
Em um dado momento, Kang é colocado na posição em que seus soldados fazem todo o trabalho, enquanto ele fica sob proteção, o que não se encaixa muito com o estilo do antagonista que, na minha opinião, poderia ter entrado em conflito com os demais personagens mais vezes. Uma das melhores cenas é quando Kang dá uma boa surra em Scott, fazendo a gente temer pelo pior. No entanto, a ausência de coragem impede que alguma morte forte pudesse acontecer, o que impulsionaria mais as motivações dos heróis e do próprio vilão. Kang é um personagem a ser temido, que não é bem aproveitado aqui, mas ainda há chance de reverter isso no futuro, já que ele irá voltar.
Outro personagem interessante aqui é o MODOK que, na verdade, é o Darren, o vilão do primeiro Homem-Formiga, interpretado pelo ator Corey Stoll. Ele explica que sua transformação se deve ao fato dele ter migrado para o Reino Quântico, sendo salvo por Kang, lhe transformando em uma “máquina carnificina”. Mas MODOK serve mais de alívio cômico com um desfecho bem debochado.
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Com relação aos outros habitantes do Reino Quântico, temos personagens com potenciais muito bons, como a guerreira Jentorra (Katy M. O’Bryan), que faz uma parceria positiva com Cassie na reta final do filme; e Quaz (William Jackson Harper), capaz de ler mentes, um poder genial, mas que é mais usado como alívio cômico. Espero vê-los novamente no MCU, para serem mais e melhores aproveitados.
Cenas pós-créditos
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania apresenta duas cenas pós-créditos. A primeira mostra que, após a derrota de Kang para o Homem-Formiga, outras versões do vilão entram em alerta para múltiplas guerras, uma vez que há dezenas de Kang como a cena revela um estádio com inúmeras versões do antagonista. A partir daí, entendemos a razão para o próximo filme Vingadores se chamar ‘A Dinastia Kang’. Espero poder ver o perigo e o temor de Kang ser bem mais aproveitado no futuro.
A segunda cena pós-crédito faz ligação com a 2ª temporada de Loki, em que vemos Loki e Mobius assistindo um show apresentado por uma das versões de Kang, na qual Loki o reconhece com uma das versões de ‘Aquele que Permanece’. Assim, podemos esperar mais camadas deste vilão serem exploradas na nova temporada da série, que estreia este ano no Disney Plus.
Além disso, é possível levar em consideração para o futuro, se a memória de Scott foi afetada no momento em que ele tenta resgatar a peça do tempo, na qual Kang exige que ele recupere para conseguir a sua liberdade; e outro ponto importante a anotar é saber quem é o responsável por exilar Kang no Reino Quântico.
Considerações finais
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania entrega uma aventura espacial divertida e que entretém o público, com um núcleo familiar satisfatório e agradável de acompanhar, assim como os efeitos especiais que não ficam a desejar. No entanto, o filme erra em algumas decisões e cria-se um suspense no timing errado, o que prejudica um pouco na introdução do novo e maior vilão prometido pela Marvel, cujo potencial existe e será explorado nas próximas produções do MCU.
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é um filme bom e divertido, mas como um início da fase 5 do MCU é morno e carece de desenvolvimento de potência que engatilha essa nova fase, para criar expectativas mais misteriosas e envolventes ao espectador sobre o que está por vir.
Ficha Técnica
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania
Direção: Peyton Reed
Elenco: Paul Rudd, Evangeline Lilly, Jonathan Majors, Kathryn Newton, Michael Douglas, Michelle Pfeiffer, William Jackson Harper, Bill Murray, Katy M. O’Bryan, Corey Stoll e Randall Park.
Duração: 2h5min
Nota: 2,9/5,0