A fase 3 da Marvel se encerra com Homem-Aranha: Longe De Casa (Spider-Man: Far From Home), trazendo um desfecho satisfatório e digno à Saga do Infinito, com o gênero teen de super-herói mais amadurecido, com uma nova jornada que faz o amigo da vizinhança sair da zona de conforto para se tornar o herói fora das sombras quando o dever chama. É divertido e triste, é uma nova jornada e um recomeço, é um crescimento que Peter Parker precisa alcançar. É um filme agradável e surpreendente que, sem dúvida, torna-se um dos mais gratificantes para o progresso do garoto teia nos cinemas.
Com direção de Jon Watts, Homem-Aranha: Longe De Casa se passa oito meses após os eventos de Vingadores: Ultimato, em que o público acompanha como as pessoas estão lidando com suas vidas depois que os heróis reverteram o ‘Estalo do Thanos’. Após cinco anos dizimados, os personagens deste filme discutem os efeitos do chamado ‘Blip’, já que algumas pessoas retornam modificadas, e a forma como eles enaltecem o sacrifício dos vingadores em trazer o povo de volta.
Para engatilhar a rotina e se desvencilhar um pouco de tudo o que aconteceu, Peter Parker sai de férias com o grupo da escola para uma viagem divertida na Europa, passando por várias cidades como Roma, Londres e Paris. A ideia é ficar com os seus amigos e garantir uma oportunidade de se aproximar de MJ, por quem está tendo sentimentos mais fortes. Esta é a chance de deixar o figurino do herói fora de cena para criar momentos únicos apenas como Peter. Mas quando se é um herói, o dever não tem intervalo para descanso, o que acaba se tornando o ponto forte e fraco do protagonista. Com a chegada dos Elementais em vários cantos do planeta, Nick Fury precisa urgentemente da ajuda do Homem-Aranha que, consequentemente, terá como parceiro Quentin Beck, mais conhecido como Mysterio, que surge na Terra repentinamente para derrotar os inimigos que, junto com ele, vieram do Multiverso, cuja fenda se abriu após o estalo de Thanos, conectando os mais variados e desconhecidos universos. E agora? Como Peter vai salvar o mundo e curtir suas férias? Que escolha fazer?
Crítica: Annabelle 3 – De Volta Para Casa
Este não é somente mais um filme em que o super-herói precisa salvar o mundo, mesmo sendo esta a sua tarefa principal. Longe de Casa é o período em que Peter precisa se readaptar a sua nova vida, tanto com um normal garoto do ensino médio que quer curtir com os seus amigos e ficar com a garota que gosta; quanto um novo vingador que passou por uma grande guerra, foi dizimado por cinco anos, retornou e passou por momentos trágicos com apenas 16 anos.
O principal ponto do filme é explorar o luto e como Peter lida com os efeitos colaterais de Ultimato. Tom Holland entrega o que há de melhor do personagem, que se vê pressionado como novo vingador que, automaticamente, é rotulado pela mídia como o substituto do Homem de Ferro, uma responsabilidade na qual não está preparado, muito menos deseja tal título. Holland entrega um Peter que esmaga o que sente a fim de tentar seguir em frente, mas quando a responsabilidade o chama, todos os seus sentimentos vêm à tona, o colocando fora da zona de conforto, em uma posição em que ele precisa decidir se ele seguirá os passos de Tony Stark ou encontrará o seu próprio caminho como Homem-Aranha. É aqui que o personagem ganha amadurecimento e Tom Holland se posiciona com mais afinidade em seu papel, dando muito gosto de vê-lo na tela e confirmando, mais uma vez, que nasceu para ser este herói.
Crítica: Turma da Mônica – Laços
Mesmo com um drama um pouco mais sobrecarregado, a Marvel não deixa de entregar uma narrativa com alívios cômicos que, desta vez, estão mais dosados (se comparados com outros filmes), feitos em um timing melhor, como na viagem em grupo, seja com Ned pronto para se aventurar na solteirice na Europa; Flash sempre pegando no pé de Peter; MJ fazendo seus comentários honestos e sarcásticos; Peter tomando decisões precipitadas e engraçadas; os professores lidando com as atividades malucas que surgem na viagem, entre outras coisas.
Ser ou não ser o herói? Eis a questão!
Mesmo tentando seguir com a viagem, por onde ele vai o dever está sempre o chamando, especialmente quando Nick Fury segue seus passos intimando a presença do Homem-Aranha, uma vez que os outros vingadores se encontram indisponíveis na Terra. Samuel L. Jackson entrega um Fury mais linha dura, que questiona as escolhas de Peter como garoto e super-herói. Há momentos que é possível achar que ele está sendo rígido demais, mas é algo necessário que faz Peter começar a se questionar. Quem é o Homem-Aranha agora? Qual é a sua verdadeira identidade após a perda de Tony Stark? Quais serão suas escolhas? O Homem de Ferro abriu o caminho para o Homem-Aranha se destacar, mas agora, ele precisa encontrar um rumo para sair dessa sombra e mostrar a sua real originalidade.
Quem é Mysterio?
Tudo isso é colocado à prova com a chegada dos Elementais e, é claro, de um novo herói instigante e desconhecido. A relação do Homem-Aranha e Mysterio é cordial, harmoniosa e Tom Holland e Jake Gyllenhaal fazem tudo funcionar com uma naturalidade incrível, como se eles se conhecessem há anos. Mysterio tem o poder mais místico, uma força interessante que faz as lutas com os elementais serem fortes, difíceis, mas possíveis de serem solucionadas. Ele é um personagem bondoso, ao mesmo tempo que é mais debochado, como se as coisas fossem muito simples de se resolver. Mais do que uma parceria em combate, Beck e Peter iniciam uma relação fraternal e, possivelmente, de mentor e aprendizado, afinal, o garoto ainda mantém certa fragilidade e vulnerabilidade por estar só nesta jornada heroica.
Tal relacionamento ganha uma construção rápida e fácil, o que vai fazer com que muitos espectadores acreditem em uma narrativa muito previsível. Tal ideia é proposital, uma vez que a surpresa não está em somente apresentar a reviravolta e, sim, no desenvolvimento dos plots twists, na forma como elas acontecem que, por sinal, é simplesmente formidável e hipnotizante. Infelizmente não dá para falar muita coisa, pois seria spoiler, mas o que posso dizer é que é necessário prestar atenção em tudo o que acontece nesta história. Acredite, é possível se surpreender.
Junto com esta relação formada, o filme entrega cenas cujos efeitos especiais estão muito bons, seja na construção dos Elementais e na destruição catastrófica das cidades; as cenas em câmera lenta do Homem-Aranha saltando para salvar as pessoas, além das boas coreografias de lutas, saltos e voos; os bons efeitos de Mysterio, seja com o seu poder ou figurino, que inclui um capacete transparente que, felizmente, não fica patético e nem artificial.
Aliás, Peter Parker conta com uma alta tecnologia na palma da sua mão, garantindo novos figurinos do herói com requintes de ferramentas e, é claro, o famoso óculos de Tony Stark, um presente dado ao garoto que rende cenas divertidas e tensas.
Elenco que funciona
Outro fator que Homem-Aranha: Longe De Casa executa positivamente é o bom aproveitamento dos personagens secundários, sem entregar subtramas mal aproveitadas. Cada um tem o momento para se destacar, seja no alívio cômico, ou em ação.
Crítica – Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Se no primeiro filme Zendaya faz uma participação mais contida, neste ela ganha um arco mais robusto. Mais do que amiga, MJ se torna o interesse amoroso de Peter Parker, que não a coloca na posição de ‘donzela que precisa ser salva o tempo todo’. MJ revela problemas em se relacionar com as pessoas devido a sua personalidade mais fria e honesta, mas a viagem lhe dá a chance de mostrar que é uma boa amiga, companheira e, sim, divertida, sem deixar seu lado mais reservado de escanteio. Quando o assunto é proteger os amigos, ela mostra atitude de agir e reagir, e isso conta bastante para a personagem.
Happy (Jon Favreau) continua ajudando Peter Parker tanto nas questões pessoais quanto na rotina de super-herói, lhe dando conselhos e apoio especialmente quando o garoto precisa lidar com suas emoções comprimidas. A relação dos dois fica mais forte e mais bonita. Aliás, Happy inicia uma relação mais íntima com Tia May (Marisa Tomei) que, por sinal, tem pequena participação, mas é sensacional, especialmente por ela saber sobre a identidade do Homem-Aranha e estabelecer uma nova linha de confiança com Peter.
Ned (Jacob Batalon) continua dando força e ajudando Peter em situações de risco, mas o personagem tem uma pequena regressão, ficando com um pouco menos de ação e atitude e se dedicando mais ao alívio cômico do filme. Mesmo assim, impossível não gostar dele.
Mesmo não sendo tantas cenas, Maria Hill (Cobie Smulders) tem a presença mais aproveitada ao lado de Nick Fury, sem deixar a personagem tão de escanteio. Poderia ter sido mais? Sim, mas já é um passo positivo.
Final chocante?
Longe De Casa começa leve e divertido, ganhando peso com o drama e o luto de Peter e força quando o herói lida com os oponentes, levando-o a um patamar mais arriscado, intenso e tenso, entregando um final bom e chocante, especialmente pelas duas cenas pós-crédito. Não direi o que acontece, mas posso dizer que a primeira cena surpreende bastante, traçando um novo rumo ao Homem-Aranha e indicando um novo filme no futuro. Já a segunda cena vai deixar muitos questionamentos, dúvidas e incertezas e indicar novos filmes da fase 4 da Marvel.
Considerações finais
Homem-Aranha: Longe De Casa é um desfecho digno a fase 3 da Saga do Infinito, que traz amadurecimento ao herói e um novo posicionamento sobre quem ele quer ser de verdade. Tom Holland traz o que há de melhor do personagem e prova o quanto merece ser este super-herói, garantindo química formidável com Gyllenhaal, um romance inocente com Zendaya e uma amizade única com Batalon. Os efeitos especiais não ficam a desejar e o final é simplesmente de tirar o fôlego.
Se preparem para se aventurar novamente com o amigo da vizinhança e aguardem pois, há mais história para contar sobre o garoto teia no universo cinematográfico Marvel.
Ficha Técnica
Homem-Aranha: Longe De Casa
Direção: Jon Watts
Elenco: Tom Holland, Jake Gyllenhaal, Jon Favreau, Samuel L. Jackson, Zendaya, Jacob Batalon, Cobie Smulders, Marisa Tomei, JB Smoove, Martin Starr, Toni Revolori, Angourie Rice, Numan Acar e Remy Hii.
Duração: 2h9min
Nota: 9,3