Simples, bonito e nostálgico, Turma da Mônica faz o cinema brasileiro levar o público a retornas às raízes da infância marcadas pelos gibis e HQ’s de Mauricio de Sousa. Divertido, colorido e marcante, a história conhecida nos quadrinhos migra para a tela do cinema para mostrar às crianças desta nova geração a delícia de ver seus personagens favoritos não só ganharem vida, como também trazer o verdadeiro significado de laços de amizade, união, família e empatia.
Baseada na graphic novel de Vitor e Lu Cafaggi e dirigido por Daniel Rezende (Bingo), Turma da Mônica – Laços leva o espectador a conhecer o famoso Bairro do Limoeiro, onde quatro crianças formam a turma mais dinâmica e fantástica das ruas. Entre brincadeiras e planos infalíveis, um dia, o cachorro Floquinho é sequestrado repentinamente, sem ninguém saber quem poderia ter um ato tão maldoso. Ao ver o amigo Cebolinha triste pelo desaparecimento do seu cãozinho, Mônica, Cascão e Magali decidem embarcar em uma aventura de investigação pelo Parque das Andorinhas para tentar encontrá-lo. Mais do que um resgate, a jornada revela o verdadeiro laço que torna essa turma tão única e especial.
É quase impossível falar de Turma da Mônica – Laços sem fazer referências tanto da graphic novel na qual é inspirada, quanto dos antigos gibis que marcaram gerações. Aqui, o filme faz questão de trazer a identidade máxima do desenho para a nossa realidade, com um cenário bem colorido e traços cartunescos. O Bairro do Limoeiro é praticamente igual ao desenho, seja o formato das casas, as ruas, árvores, cercas e, até mesmo, a mobília de cada casa dos personagens, como o sofá, o armário cheio de vestidos vermelhos, a geladeira repleta de comida, as ferramentas fundamentais para fugir da água, entre outras coisas. Aliás, Floquinho é o exemplo ideal, uma vez que ele ganha leves efeitos especiais para ficar na cor verde, igual o personagem animado. São detalhes minuciosos que é possível dizer que foram feitos com carinho, dedicação e, principalmente, respeito aos fãs.
Turma mais amada
Mais do que uma ótima inspiração para se basear e um cenário fiel ao desenho, o que realmente move o filme é o elenco que, sem dúvida, nasceu para interpretar a Turma da Mônica. Cada um traz a essência dos personagens e ainda vão um pouco mais além para sair da zona de conforto e entregar alguns adicionais à trama.
Mônica (Giulia Benite) tem um semblante doce e natural e é a personalidade mais forte do grupo, não é à toa que é considerada a ‘dona da lua (rua)’, como sempre diz o esperto Cebolinha. Ela tem características que os meninos do bairro adoram usar para zoar a garota. ‘Baixinha’, ‘dentuça’, ‘gordinha’, palavras que soam como ofensa, mas que se tornam o gatilho perfeito para Mônica aplicar o golpe fatal com o seu coelhinho Sansão. Aliás, é o que faz a gente entender os motivos que levam o Cebolinha a querer colocar as mãos nele. Mais do que as características tradicionais da personagem, Giulia traz independência, atitude e força de uma garotinha pra lá de empoderada.
Quem gosta de provocar a dona da rua, sem dúvidas, é o Cebolinha, muito bem interpretado por Kevin Vechiatto. O garoto mostra inteligência, astúcia e esperteza, principalmente, quando o assunto é bolar um plano infalível para pegar o coelhinho da amiga e se tornar o ‘dono da lua’. É rápido no raciocínio, mas quer ser o único a ter ideias, e ainda coloca o amigo Cascão em todos planos que, na maioria, são furadas, afinal, eles sempre acabam apanhando.
Cascão (Gabriel Moreira) é engraçado e muito debochado nas situações que se encontra, o que o torna ainda mais especial e interessante de acompanhar. Ele questiona e reclama dos planos do Cebolinha, mas é fiel ao amigo e está sempre pronto para ajudá-lo mesmo sabendo que não vai dar certo. O seu grande ponto fraco é a água, como muitos sabem, o que faz estar sempre prevenido para qualquer imprevisto.
Magali (Laura Rauseo) é a famosa comilona da turma, na qual muitos irão se identificar. É amiga dos três, mas sua verdadeira amizade é com a comida. Laura traz um lado doce e natural da personagem, cujo ponto forte e fraco é a sua constante fome.
A ideia de falar um pouco sobre cada personagem é para justamente compreender como o roteiro trabalha cada um, sozinhos e juntos nesta jornada em busca do Floquinho. O verdadeiro significado de Laços está em encontrar o equilíbrio dessas personalidades e provar o quão amigos eles são. Muitas coisas interessantes acontecem durante o caminho, como uma discussão mais acalorada entre Mônica e Cebolinha sobre a liderança do grupo; o desafio de atravessar um trecho do rio; a tentação de comer e a dificuldade em sentir fome; o medo de confrontar pessoas do mal; mas, mais do que isso, é o respeito criado entre eles, a empatia pela vulnerabilidade de cada um, além do reconhecimento de quando pisam na bola ou quando realmente precisam aprender a confiar um no outro.
Tudo isso é colocado à prova quando eles precisam encarar alguns riscos quando saem do parque e entram na floresta e quando eles descobrem quem roubou o Floquinho e a verdadeira motivação deste sequestro.
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O filme é adorável e encantador, mas há momentos pontuais em que o diretor faz questão de alongar a cena e manter a câmera em determinados personagens para captar a emoção do que está acontecendo naquele momento. Por um lado, é interessante, pois a compreensão sobre os sentimentos está na expressão dos atores, sem a necessidade de diálogos. Por outro, pode ser que alguns sintam o tempo passar, pois esses takes são um pouco mais demorados e mais lentos propositalmente. Aí vai de cada espectador achar essa decisão negativa ou positiva.
Além da turminha mais aclamada, o filme ganha um ótimo elenco de apoio com Mônica Iozzi como Dona Luísa, mãe da Mônica; Paulo Vilhena como Seu Cebola; e Fafá Rennó como Sra. Cebola. A participação é menor, mas o suficiente para mostrar o outro lado da preocupação, quando os filhos desaparecem na Floresta.
Rodrigo Santoro entrega uma performance teatral sensacional para o personagem Louco. Mesmo não presente na graphic novel, o filme faz questão de adicioná-lo, dando uma espécie de fan service, uma vez que contam que somente o Cebolinha pode vê-lo. A cena deles mistura diversão e medo, em um cenário um pouco sombrio, entregando um excelente diálogo de reflexão. É simplesmente formidável de assistir.
Claro que o próprio Mauricio de Sousa faz uma participação especial, no estilo Stan Lee nos filmes da Marvel. É um quentinho no coração para os fãs da Turma da Mônica.
Considerações finais
Turma da Mônica – Laços é nostálgico para as antigas gerações fãs dos gibis e um refresco surpreendente ao público mirim atual, que vai amar ver seus personagens favoritos em carne e osso em uma grande tela do cinema. É uma história singela sobre laços de família, laços de união, laços de empatia e, é claro, o verdadeiro laço de amizade e respeito.
Se vale a pena assistir? Ah, vale sim!
Ficha Técnica
Turma da Mônica – Laços
Direção: Daniel Rezende
Elenco: Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Gabriel Moreira, Laura Rauseo, Fafá Rennó, Mônica Iozzi, Paulo Vilhena, Rodrigo Santoro, Ravel Cabral, Cauã Martins, Sofia Munhoz, Pedro Souza, Gabriel Blotto, Leandro Ramos, Ítalo Viana, Luiz Pacini, Jasmim Donega, Isabella Nakahara e Luiza Istolé.
Crédito das fotos: SerendipityInc
Nota: 9,0