O retorno para Andalasia está garantido, mas de um jeito diferente. Se você gostou de Encantada (2009), talvez esteja curioso para a sequência que traz uma trama ao contrário do que vimos. Enquanto o primeiro filme leva uma personagem dos contos de fadas ao mundo real, Desencantada (Disenchanted) chega para mostrar como seria se este mundo colidisse com o universo dos contos de fadas, quebrando a magia do felizes para sempre.
O resultado? O longa entrega um universo encantado mais carregado e caricato, mas com o velho toque mágico divertido. Sem dúvidas, Amy Adams é o grande destaque da trama ao lado de alguns personagens, enquanto outros se tornam mero coadjuvantes desta vez. E se no primeiro filme tivemos canções mais dosadas, esta sequência se encaixa perfeitamente no gênero musical, com muito mais canções menos espaçadas, o que irá do gosto de cada um. Apesar de algumas observações, o filme tem que o seu toque encantador.
Com direção de Adam Shankman, Desencantada inicia 15 anos após os eventos de Encantada, em que vemos Giselle e Robert casados e com uma família feliz. Enquanto o ‘felizes para sempre’ é o final concreto dos contos de fadas, a vida real mostra que há uma continuação e seus contratempos.
Giselle e Robert estão felizes e, agora, eles têm uma nova integrante, a bebê Sofia. Já Morgan está crescida, passando pela árdua fase da adolescência, o que acaba respigando no relacionamento dela com Giselle (que, agora, a chama de mãe), uma vez que a jovem já não enxerga a rotina de forma encantadora, como costumava quando era criança.
A dificuldade do dia a dia no apartamento pequeno, a correria e os obstáculos nas relações fazem Giselle e Robert saírem de Nova York e se mudaram para um subúrbio onde há possibilidade do ‘felizes para sempre’. O que era para ser alegria, tal adaptação traz mais frustrações a todos, fazendo Giselle perceber que a realidade é mais difícil de ser digerida do que imaginava. Quando a família ganha uma varinha mágica de Nancy e Edward (padrinhos de Sofia), capaz de realizar qualquer desejo, Giselle pede por uma vida perfeita.
Com isso, não só a família, mas o todo o subúrbio, se transforma em um grande conto de fadas. Mas, toda magia tem o seu preço e, assim como todo conto, a história tem a sua princesa e, é claro, a vilã cujo posto é disputado por duas grandes figuras.
O primeiro ponto positivo de Desencantada é apresentar a inversão do primeiro filme. Enquanto vemos uma princesa dos contos de fadas ir parar em um mundo real e hostil, esta sequência mostra como seria se o mundo real se tornasse uma grande fantasia vista nos livros.
Portanto, espere por uma atmosfera mais fantástica, caricata e surreal neste filme, com direito a cenários floridos, paleta de cores vibrantes, figurinos, maquiagem e cabelo de época estonteantes. O subúrbio se torna uma Andalasia versão live-action que dá gosto de acompanhar ao lado dos personagens andando e cantando.
E por falar em músicas, Desencantada é, de fato, um musical, cujas canções foram compostas por Alan Menken e Stephen Schwartz. Em comparação ao primeiro longa, essa sequência contém muito mais cenas coreografadas e cantadas em um intervalo menor, algo que pode dividir opiniões. As canções são boas, mas infelizmente, não são tão memoráveis ao ponto do espectador querer ouvi-las depois. Há uma canção que chama a atenção e ganha o posto de destaque na trilha sonora, na qual é performada em um dueto das personagens Nancy e Morgan, cuja voz de Idina Menzel é única e formidável, tomando conta dos ouvidos. Não tem como não se arrepiar ao ouvir as notas e o ritmo forte saindo da boca da atriz/cantora.
Outro detalhe positivo de Desencantada é a mistura do filme real com a versão desenho animado, especialmente quando o público é levado de volta à Andalasia, na qual é possível ver Nancy, Edward e até Morgan na versão animada. O público também mata as saudades do adorável esquilo Pip (Griffin Newman), que também passa por transformações radicais ao retornar ao mundo real.
Crítica: Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Além disso, o longa enaltece com naturalidade as referências a outros famosos contos de fadas como Cinderela, Branca de Neve e A Bela Adormecida. Os easter eggs surgem nos cenários para cutucar nossa memória, que capta estas tradicionais histórias.
Felizes, mas para sempre?
O ponto alto da trama de Desencantada é quando Giselle transforma o subúrbio em um grande conto de fadas. Mas a grande regra deste universo é saber que toda magia tem um preço a se pagar, na qual é debitado na felicidade de todos, especialmente o da protagonista.
Sem dúvidas, a atriz Amy Adams é a alma do filme, uma vez que ela guia toda a narrativa, com participações especiais ao seu redor. O público acompanha uma Giselle consumida pela busca obsessiva do final feliz em meio as dificuldades da vida real, enquanto lida com os efeitos colaterais das escolhas que soam genuínas para ela. Aqui, a atriz entrega uma personagem com personalidade dupla, em que ora vemos a doce Giselle, ora nos deparamos com a sua versão madrasta má, ambiciosa e poderosa, sem se importar com os sentimentos dos outros, especialmente de sua filha Morgan.
Mesmo que Amy Adams seja o maior destaque, ao seu lado, há mais duas personagens que ganham os holofotes nesta sequência. Interpretada por Gabriella Baldacchino, Morgan está na típica fase da adolescência em que a adaptação ao novo e a distância da zona de conforto a deixam sem paciência para tudo, especialmente para o encanto de Giselle, tornando-se o estopim para o caos. Por conta disso, em sua versão conto de fadas, Morgan é a gata borralheira da história, mas a única capaz de trazer de volta o verdadeiro significado do ‘felizes para sempre’ para Giselle.
Claro que, toda história tem a vilã e, desta vez, este posto não é só disputado por Giselle, mas também por Malvina, que ganha uma interpretação caricata e boa da atriz Maya Rudolph. Enquanto na vida real, ela é a vizinha líder do subúrbio, nada mais justo do que se tornar a rainha desta versão alternativa, ganhando uma caracterização ao estilo Rainha Má de Branca de Neve. A disputa entre as personagens é maléfica e divertida, garantindo boa química das atrizes, uma vez que elas tomam contam do segundo ato até o final do filme.
Enquanto este trio segura as pontas, os demais do elenco acabam se tornando meros personagens coadjuvantes em Desencantada, um ponto que poderia ter sido melhor. Patrick Dempsey continua encantador como Robert que, agora, segue preocupado com a sua nova rotina e o trabalho por conta da mudança. Na versão alternativa, ele se torna um príncipe bem desajustado, que não leva jeito para embates contra gigantes e dragões, cuja essência de homem amável e protetor da família continua. Mas sua participação é bem reduzida nesta sequência, sendo que o personagem poderia ter sido mais explorado ao lado de Giselle, especialmente na versão encantada.
Assim com Robert, outros personagens veteranos ficam em segundo plano, como Edward, interpretado por James Marsden, com apenas duas cenas do ator e uma sequência na versão animada. Já Idina Menzel tem uma aparição um pouco maior, roubando a cena no momento em que solta a voz.
Considerações finais
A reta final de Desencantada acaba perdendo um pouco da força, cujo encanto diminui com a demora para a resolução acontecer, dando espaço para a conexão entre alguns personagens retornar ao normal. Ainda assim, o filme recupera o fôlego e entrega um desfecho doce e agradável, ao estilo ‘felizes para sempre’, sem esquecer dos percalços da vida real.
Desencantada apresenta o inverso de Encantada, em uma atmosfera mais fantástica e caricata e menos pé no chão. Há mais sequências musicais em um espaço menor de tempo e um elenco bom em que alguns se destacam menos, enquanto a protagonista toma conta da narrativa em um dilema sobre o significado de ser bom ou mau e as escolhas para ser feliz que, nem sempre, resultam em bons efeitos.
O primeiro filme continua sendo o melhor, mas Desencantada não deixa de ter aquela magia que encanta mais uma vez.
Ficha Técnica
Desencantada
Direção: Adam Shankman
Elenco: Amy Adams, Patrick Dempsey, Maya Rudolph, Gabriella Baldacchino, James Marsden, Idina Menzel, Yvette Nicole Brown, Jayma Mays, Osca Nuñez, Alan Tudyk, Griffin Newman, Mila Jackson e Lara Jackson.
Duração:
Nota: 3,3/5,0