Lá em 2018, Aquaman entregou uma nova roupagem ao universo DC, desde ambiente, história e a origem de um herói não perfeitinho…será que a sequência ainda segue este mesmo caminho?
Após cinco anos de espera, Aquaman 2: O Reino Perdido (Aquaman And The Lost Kingdom) chega aos cinemas para encerrar um grande e problemático ciclo. Com o fim do DCEU, o novo longa sobre o ‘Rei dos Mares’ entrega uma aventura em alto mar de puro entretenimento, afogado em efeitos especiais para camuflar uma história simples que já não tem mais o que espremer dali. Entre pontos positivos e ressalvas, o conjunto da obra não é um desastre total, sabe divertir e abraçar a galhofa, com a consciência de uma trama que já não tem mais relevância. Você assiste porque quer, porque gosta e por curiosidade.
Com direção de James Wan, Aquaman 2: O Reino Perdido segue Arthur Curry que, agora, é o novo rei de Atlântida, após derrotar o irmão Orm e condená-lo por seus atos. Mas Arthur também divide a sua vida na superfície ao lado dos pais e de Mera, com quem casou e teve um filho, Arthur Jr.
Entre a vida na terra e no mar, vida pessoal e a liderança de um mundo aquático, Arthur irá encarar um grande problema que afeta cada vez mais o planeta, enquanto lida com o retorno de um antigo inimigo que, agora, ganha a ajuda de uma força maligna poderosa. Para isso, ele vai contar com ajuda improvável de Orm, na qual vai arriscar e aprender a confiar na índole do irmão.
Logo no início, Aquaman 2: O Reino Perdido já deixa claro nas primeiras cenas e nos primeiros diálogos que o tom do filme não será sério, caminhando mais para galhofa e a comédia aventureira que, por sinal, até consegue se equilibrar. Quem aceitar a ideia desde o começo, será melhor para abraçar a história daqui pra frente.
Sendo assim, Aquaman 2 consegue manter a boa dosagem da comédia com diálogos engraçados e piadas injetadas no timing certo. Ainda assim, acredito que será um ponto que dividirá o público sobre tal escolha.
Outro ponto interessante é acompanhar a rotina de Arthur que se divide em ser rei dos mares, pai, marido e filho, em que a dinâmica entre ele e o seu filho é uma das coisas mais adoráveis de assistir. Enquanto isso, vemos que a dinâmica de Arthur e Mera é boa e equilibrada dentro da história, uma parceria que funciona, cujo amor entre eles é sólido. No entanto, o filme dá apenas a sensação de que a atriz Amber Heard está presente na história, apenas se afastando quando a personagem entra em recuperação após um acidente durante um confronto, retornando somente no terceiro ato. Porém, analisando friamente, nota-se que o tempo de tela foi, de fato, reduzido – como muito falado durante as gravações e divulgações – com um retorno repentino na reta final, ‘aparecendo e sumindo’ em cena mais de uma vez.
Mas a dinâmica que realmente consegue segurar as pontas do filme é de Aquaman e Orm, uma dupla que surpreende por sua química fraternal, mesclando o sério e jocoso de ambas as partes, o que torna agradável de assistir. Em um dado momento, Aquaman 2: O Reino Perdido se transforma temporariamente em uma aventura ao estilo ‘sessão da tarde’, que é até legal de acompanhar se o espectador não levar a sério e, desde o início, ter comprado a atmosfera proposta pelo filme.
Enquanto isso, o filme constrói o antagonismo da história que traz de volta Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) e sua sede de vingança pela morte de seu pai. Se fosse somente isso, o longa repetiria a mesma fórmula do primeiro filme, o que soaria cansativo. Mas para inflar tal vingança e aumentar o desafio ao Rei de Atlântida, o longa acrescenta o apoio que Arraia Negra ganha ao se deparar com o Reino Perdido e encontrar o Tridente Negro, uma arma amaldiçoada do antigo Rei Kordax (Pilou Asbaek), irmão de Atlan (Vicent Regan).
Crítica: Mamonas Assassinas – O Filme
Com o tridente em mãos, Arraia Negra ganha a promessa de apoio e poder em sua vingança em troca da libertação do que está por trás deste antigo objeto, colocando o planeta em grande risco com o superaquecimento climático, além da linhagem de Aquaman, uma vez que a família se torna o grande alvo.
Sim, o filme usa de boa parte do tempo para introduzir o novo vilão, desenvolver sua história, apresentar o universo, explorar o cenário, utilizar das armas e ferramentas secretas do local e conectar tudo isso ao tempo presente, criando o maior embate entre protagonista e antagonista.
De um lado, Aquaman 2 acerta neste quesito, afinal, é necessário apresentar algo que não fora visto anteriormente – no caso, sobre O Rei Kordax; do outro lado, é aqui que o espectador inicia sua experiência imersiva em efeitos especiais, outro ponto que vai dividir o público.
Se você reparar, a história em si é simples e, por já não ter mais o que espremer, James Wan desvia e camufla a atenção do espectador em um afogamento de efeitos especiais, seja na construção dos ambientes aquáticos, as sequências de lutas e confrontos que, por sinal, são muitos, além da apresentação de outras criaturas e comunidades do fundo do mar. É até interessante, mas em um dado momento, cria-se uma sensação de sufocamento e bagunça de tantos efeitos e um CGI que, ora, capenga por ser explicitamente superficial. E isto faz o público sentir a ausência de mais cenas na superfície, como teve no primeiro filme.
Com relação ao elenco, todos estão bem em seus respectivos papeis dentro do que o roteiro permite fazer. Gosto do Jason Momoa como Aquaman e, para mim, ele entregou uma atuação melhor no primeiro filme. Nesta sequência, ele abraça a galhofa e o modo automático, mas ainda entrega humor, deboche e força em seu personagem.
Patrick Wilson é um Orm torturado na prisão, mas que instantaneamente recupera a força ao retornar à água, iniciando uma parceria divertida com Aquaman para dar o fim no arqui-inimigo. A armadura vilanesca de Orm é desconstruída aos poucos com o lado fraternal e heroico que ele descobre no decorrer da missão, ao sentir o gosto de voltar a ser confiável aos olhos daqueles com quem errou.
Assim como Amber Heard, Nicole Kidman também faz uma pequena participação especial no filme em momentos pontuais. Complementa a trama, não prejudica em nada, mas também não tem muito o que acrescentar.
Considerações finais
A reta final de Aquaman 2: O Reino Perdido culmina em um último confronto que, mergulhado em efeitos especiais, entrega um embate entre vilão e herói que, no fim das contas, ganha decisões corriqueiras, mas que não são desastrosas.
Junto a isso, o Rei dos Mares revela Atlântida à superfície, conectando dois universos para futuras possibilidades e o objetivo de unir forças para tornar o mundo melhor.
Há uma cena pós-créditos super rápida com o personagem Orm que é um complemento a uma piada feita entre ele e Arthur que, no fim das contas, é engraçadinha e nojenta ao mesmo tempo.
Aquaman 2: O Reino Perdido não é um desastre total, deixa claro o tom jocoso e a atmosfera galhofa desde o início. A história é simples, partindo do que foi mostrado no primeiro filme, acrescentando novos elementos e personagens nesta sequência. O filme sofre um afogamento de efeitos especiais bagunçados e até cansativos, dividindo-se entre o bonito e o superficial.
Enquanto o primeiro longa fora novidade e frescor à DC, Aquaman 2 encerra um universo cansado e falhado com uma história que poderia ser chave de ouro, mas é mediana, servindo de entretenimento para alguns.
Agora, é esperar para ver como será o novo universo da DC nas mãos de James Gunn.
Ficha Técnica
Aquaman 2: O Reino Perdido
Direção: James Wan
Elenco: Jason Momoa, Patrick Wilson, Yahya Abdul-Mateen II, Amber Heard, Nicole Kidman, Randall Park, Temuera Morrison, Dolph Lundgren, Martin Short, Indya Moore, Jani Zhao, Vincent Regan e Pilou Asbaek.
Duração: 2h04min
Nota: 2,9/5,0