Uma das maiores bandas brasileiras de todos os tempos ganhou um filme para chamar de seu. Mamonas Assassinas – O Filme chega aos cinemas para cutucar a nostalgia e resgatar a contagiante admiração dos apaixonados pela banda na década de 90 em uma história divertida, emocionante e satisfatória. Não é um filme perfeito, tem lá suas ressalvas, mas entrega uma carta de amor os fãs sobre um grupo que marcou e ainda marca gerações, provando que os sonhos nunca morrem.
Com direção de Edson Spinello, Mamonas Assassinas traz os primórdios de como tudo começou para os meninos de Guarulhos em 1990, revelando sua rotina em seus respectivos trabalhos, as primeiras conexões entre os integrantes, os contratempos, as rixas, discussões, formação da banda, a determinação em lançar um disco e não desistir do que deseja, os amores, o auge e a vivência do enorme sucesso e o destino trágico que interrompeu tal felicidade.
O filme faz questão de transitar por toda esta jornada da banda, trazendo detalhes que, por ventura, não são lembrados pelos fãs ou, talvez, não havia sido revelado ao público. De exemplo, o longa relembra o início da banda chamada Utopia e iniciada pelos irmãos Sérgio e Samuel, abrindo portas para os integrantes a seguir, como Julio, Bento e, é claro, Dinho, que já tinha um pé no universo artístico, uma vez que sempre fazia bicos cantando, dançando e performando, chegando a se apresentar, até mesmo, em campanhas políticas de Guarulhos.
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Aliás, um ponto interessante que o longa ressalta são os contratempos iniciais entre os integrantes, como o fato de Sérgio não aceitar inicialmente Dinho na banda, por conta de uma briga de futebol; as discussões entre os irmãos Samuel e Sérgio, tanto por questões amorosas quanto financeiras, uma vez que a dupla não aceitava ser sustentada pelos pais; a força do Dinho em seguir em frente com o sonho, mesmo quando não sentia receber o apoio do pai, entre outras coisas.
A trama revela que nem tudo foram flores no começo, o que reforça tal união e a dedicação em tornar a banda um sucesso, desde a troca do gênero, uma vez que eles imaginavam que o rock era o caminho certo, a criação inusitada das canções, as caracterizações no palco, a busca por apoiadores, produtor e empresário que acompanhassem o grupo até tudo deslanchar positivamente.
Um ponto que, talvez, pode ser um incômodo ao espectador, ou não, é a montagem do filme. Mamonas Assassinas utiliza de sobreposições de imagens em que o público acompanha o que está sendo dito, enquanto as imagens ora revelam literalmente o que é falado ou algo que já está acontecendo mais a frente, confirmando tal realização. E tal edição é feita de forma frenética para acompanhar o ritmo e entusiasmo dos personagens em querer fazer tudo acontecer. É nítido tal escolha para a edição, mas confesso que a mim não incomoda.
Outro detalhe é a construção dos shows, em que vemos cenas da banda no palco enquanto o público que os venera nos remete a cenas reais dos shows do grupo. Inclusive, a montagem nos faz lembrar de Bohemian Rhapsody, que serviu de base e inspiração ao longa.
Tanto a divulgação quanto o elenco, diretor e produtores revelaram que os bastidores e a história do filme contaram com a ajuda das famílias dos integrantes da banda, desde detalhes sobre cada um a fim de que os atores pudessem encarná-los com firmeza e integridade, a disponibilidade dos figurinos originais e o apoio na criação do roteiro para trazer fidelidade à história real.
Outro ponto positivo de Mamonas Assassinas é trazer uma atmosfera carregada de comédia, mas não proposital, e sim, para mostrar a essência natural e performática dos personagens, especialmente de Dinho nos palcos ou no dia a dia. Junto a isso, também vemos emoções instaladas em cada um, como os primeiros amores e suas decepções que, inclusive, são elementos fundamentais para as composições das músicas.
Aliás, outro detalhe genial que o filme não deixa de mostrar é como as canções clássicas e de enorme sucesso dos Mamonas Assassinas eram compostas de forma inusitada e engraçada, sendo durante uma gravação, um banho, uma decepção amorosa, entre outras situações atípicas que fazem o público dar risada por relembrar ou descobrir como tal música surgiu, seja ‘Vira-Vira’, ‘Robocop Gay’, ‘Pelados em Santos’, ‘Sabão Crá Crá’, ‘Jumento Celestino’, entre outros.
A Banda
Não se pode falar de Mamonas Assassinas sem deixar de comentar sobre o elenco. E talvez seja aqui que os espectadores fiquem balançados com relação às atuações.
No geral, o elenco funciona bem em conjunto e é nítido ver que uma atuação apoia a outra. Mas não tem como não notar que o ator Ruy Brissac é o pedestal, o responsável por carregar o filme nas costas. Por ter feito o mesmo papel no musical dos Mamonas Assassinas, Brissac traz esta experiência para o filme com modificações, mas consciente de quem interpreta. Ele entrega um Dinho acelerado, agitado, dedicado e determinado a realizar o que quer. Dinho é performático, caricato, divertido, extrovertido, amoroso, atencioso.
Dinho não é perfeito, comete seus deslizes, admite os erros, questiona quando a dúvida paira em sua cabeça antes de agir. Mas o mais emocionante é ver o seu amor pela banda, a música e, é claro, à sua família que lhe deu base e apoio para seguir em frente.
Há uma cena que traz um diálogo de reconhecimento e agradecimento do Dinho ao pai Hildebrando (Jarbas Homem de Mello), que é simplesmente tocante, não só pelas palavras ditas, mas pelo fato do público estar ciente de uma relação que fora interrompida na vida real. Associar ao que aconteceu a esta cena torna tudo ainda mais sensível.
Como disse, o grupo funciona no conjunto da obra, mas analisando cada um separadamente, nota-se certo amadorismo no restante dos integrantes. Beto Hinoto dá vida ao guitarrista Bento que, por sinal, é seu tio na vida real. Este é o primeiro trabalho de Beto como ator, o que é notável, cuja atuação é satisfatória pelo fato do papel não trazer tantas exigências, na qual ele cumpre bem.
Assim como Bento, o personagem Julio, interpretado por Robson Lima, só ganha mais espaço e voz na trama da metade ao final.
Já a dupla Samuel e Sérgio se destacam mais, assim como Dinho. Adriano Tunes e Rhener Freitas têm a função de mostrar um lado mais intimista dos irmãos fora dos palcos, além da performance e do profissionalismo quando é necessário. Não são atuações deslumbrantes, mas são satisfatórias e divertidas que conquistam o olhar do público pelo bom entrosamento dos dois.
Mamonas Assassinas também faz questão de mostrar as relações amorosas dos integrantes do grupo, como a rejeição que Julio tomou no shopping, o que resultou na canção ‘Chopis Centi’; a relação de Sérgio e Claudia (Jessica Córes), na qual torcemos para o casal; a relação conturbada de Samuel e a namorada; e o namoro de Dinho e Adriana, interpretada por Fefe Schneider, que ao meu ver, gera dúvidas na cabeça do público com relação à personagem. O filme a mostra com tons de arrogância por conta do seu status social, além do fato dela ter tentado induzir o Dinho a sair do grupo para seguir carreira solo. Será que isso realmente aconteceu na vida real? Talvez sim. Talvez não.
Considerações finais
Mamonas Assassinas se encerra como a banda: no auge do sucesso e da emoção, trazendo detalhes sobre o último show e o fatídico sonho que Julio teve, prevendo o acidente que viria acontecer horas depois.
O longa decide não apoiar o desfecho na tragédia, algo já marcante e ciente pelo público. Apenas traz informações adicionais para lembrar como esta história de amor, sucesso e realizações foi interrompida, mas jamais esquecida.
Mamonas Assassinas não é um filme perfeito, tem atuações amadoras de algumas partes, uma montagem que pode agradar ou não, mas não deixa de ser uma cinebiografia carregada de emoção e nostalgia, uma carta de amor aos fãs ao relembrar a admiração pela banda, uma paixão que atravessa gerações até hoje, confirmando que este legado ainda vive.
Ficha Técnica
Mamonas Assassinas – O Filme
Direção: Edson Spinello
Elenco: Ruy Brissac, Beto Hinoto, Rhener Freitas, Adriano Tunes, Robson Lima, Jarbas Homem de Mello, Fefe Schneider, Jessica Córes, Guta Ruiz, Joãozinho, Isa Prezoto, Tom Prado, Nadine Gerloff e Patrick Amstalden.
Nota: 3,2/5,0