O universo de Invocação do Mal ganha mais um capítulo com A Freira 2 (The Nun 2), que traz mais uma aventura horripilante do demônio que amedrontou pela primeira vez em Invocação do Mal 2. Posso dizer que esta sequência é melhor que o filme de 2018 em alguns pontos. No entanto, em termos de roteiro e elementos de horror aplicados, há observações a se fazer, enquanto o elenco e a produção continuam ótimos.
Com direção de Michael Chaves (A Maldição da Chorona e Invocação do Mal 3) A Freira 2 se passa em 1956 e o início já indica que o mal está de volta quando um padre é violentamente assassinado. A partir daí, uma sucessão de mortes macabras ocorre, fazendo o Vaticano entrar em alerta em novamente.
Enquanto isso, a Irmã Irene passa os seus dias em um novo convento com veteranas e novatas freiras a fim de esquecer o que passou na Romênia. Mas suas visões não permitem e, consequentemente, seu talento para investigação é novamente solicitado ao saber que o mal – que pensava que havia dizimado – retornou e, desta vez, está se espalhando.
Para descobrir a razão para o demônio estar mais forte e em mais lugares, a Irmã Irene conta com a ajuda da Irmã Debra, uma novata rebelde que vai ter a sua fé testada.
Enquanto o primeiro filme é regular beirando ao ridículo, esta sequência se eleva em alguns pontos, enquanto outros permanecem no mesmo lugar. Dito isso, o roteiro de Akela Cooper consegue melhorar a atmosfera de horror, aumentando o tom realista e sutil, enquanto se afasta do clima extremamente fantasioso na qual se entrega tudo aos olhos do público.
Há um suspense sutil bem dosado na trama que consegue brincar com a imaginação do público enquanto o mal atrai a vítima para o ataque, como vemos na sequência inicial em uma Igreja na França.
Outro ponto interessante é que, mesmo se tratando do filme solo da Freira, a imagem dela (Bonnie Aarons) é menos usada, se comparada ao primeiro longa. Suas aparições são mais espaçadas, surgindo apenas em jump scares mais explícitos, diminuindo o tom fantasioso. Tal decisão é tomada, uma vez que o demônio, agora, consegue possuir humanos, como fez com o personagem Maurice ao final do primeiro filme que, inclusive, aparece sendo exorcizado pelo casal Ed e Lorraine Warren.
Maurice permite que a imagem da freira “descanse”, enquanto é usado como válvula para se chegar aonde quer, assustar e até matar quem for preciso. Este hospedeiro é manuseado para os lugares que o demônio necessita estar a fim de buscar o que deseja, algo que a trama explica paralelamente com a trajetória da investigação feita pela Irmã Irene até que o bem e mal se cruzem novamente.
Aliás, A Freira 2 pode até ser considerado o filme mais violento do universo de Invocação do Mal, pois temos um demônio agressivo que não hesita matar, deixando um rastro de sangue extenso. Se compararmos aos demais longas, há mais vítimas nesta história do que em outros na qual a maioria é salva.
Além disso, este demônio não só possui o corpo de um humano, como também brinca com a imaginação das vítimas, seja uma voz, uma pessoa querida que já se foi ou está viva, imagens ou formatos nas paredes, papeis ou quadros. Em contrapartida, este prenúncio do mal aumenta a previsibilidade da história, ou seja, prepara o espectador que fica ciente de que o susto vai acontecer.
Os jump scares em si são bem feitos, mas novamente, A Freira 2 cria um medo que vai ser relativo para cada um, mas garanto que muitos não se assustarão, especialmente os mais adeptos a filmes de terror. Aqui, elementos de horror mais sugestivos poderiam ter sido melhor aplicados para aumentar a tensão da história e de quem assiste. Mas se tem um elemento que chama a atenção e pode soar positivo é a aparição do bode demoníaco. Achei uma boa sacada.
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A narrativa entrega um horror investigativo na qual a Irmã Irene precisa descobrir a razão para não ter conseguido dizimar o demônio, o motivo do retorno e o que procura. Do outro lado, o público acompanha a subtrama do internato onde Maurice trabalha (enquanto segue possuído pelo demônio) e se aproxima da professora Kate (Anna Popplewell) e da filha Sophie (Katelyn Rose Downey), que enxerga algo bom nele ao mesmo tempo que sente que há algo de errado no local, sendo a primeira a presenciar o mal. Aliás, temos uma cena referente à Invocação do Mal 2 quando a freira aparece pela primeira vez.
O entrosamento de mãe, filha e Maurice é satisfatório na trama ao ponto do espectador se importar com eles, mas há um plot de bullying que é totalmente insignificante no filme, servindo apenas para colocar Sophie próxima ao mal. Um plot que não faria falta se fosse retirado.
Com relação ao elenco, todos estão bem, mas é possível sentir que falta uma conexão um pouco mais forte entre público e personagens, mesmo que o espectador torça para alguns deles. Taissa Farmiga entrega um lado mais investigativo de sua personagem, uma vez que suas visões abrem caminhos para encontrar as pistas e, consequentemente, proporciona alucinações medonhas. Irene não quer passar novamente pelo que passou, até tenta se esquivar, mas aceita a missão (obrigatoriamente) e encara corajosamente mesmo sabendo que o pior pode acontecer no processo.
O filme traz mais informações sobre suas origens, o passado de sua família e a conexão forte com a mãe, explicando o motivo para ela ter tais visões que, por sinal, faz a personagem crescer e ter uma força equivalente ao mal que enfrenta. Justo, não é?
A atriz Storm Reid entrega uma freira novata rebelde, que não leva a fé a sério. O filme poderia ter explorado mais este lado destemido de Debra durante a investigação. Juntamente, a história poderia ter injetado um horror mais sugestivo nas cenas de Irmã Debra, já que ela estaria lidando com este mal pela primeira vez, enquanto sua fé é desafiada.
O ator Jonas Bloquet já havia se destacado no primeiro filme e, agora, ganha um espaço relevante em A Freira 2 ao se tornar o hospedeiro principal do demônio, a válvula que cria o caos, atrai e manipula as vítimas, enquanto prossegue para realizar o principal objetivo do demônio. A dinâmica de Maurice com Sophie caminha entre o doce e tenebroso, afinal, demônio e crianças é uma boa combinação em filmes de terror quando bem trabalhado. E aqui, se torna satisfatório.
Considerações finais
A reta final ganha um caminho menos fantasioso se comparado ao primeiro longa que soa até ridículo. A briga entre Irmã Irene e a freira demoníaca é intensa e as forças de ambas são equiparadas, ditando um final justo.
O desfecho também indica em qual parte da linha cronológica a história se encaixa dentro do universo de Invocação do Mal ao inserir uma cena pós-créditos.
A Freira 2 é melhor que o primeiro filme por corrigir alguns erros cometidos anteriormente, se debruça em um tom mais realista e menos fantasioso, é mais violento e entrega uma boa briga entre o bem e o mal com atuações satisfatórias de um ótimo elenco.
Ainda assim, o longa continua a se debruçar na previsibilidade em que o medo é relativo, o terror não é tão sugestivo quanto se espera, deixando o espectador ciente não só do susto, mas também dos próximos passos. A Freira 2 não é de todo ruim, sendo possível gostar sem odiar.
******CONTÊM SPOILERS******
Cena pós-créditos
A cena pós-créditos de A Freira 2 traz Ed e Lorraine Warren recebendo uma ligação de um padre. Esta cena é vista em Invocação do Mal 2, ou seja, A Freira 2 se passa antes dos eventos desse filme.
O que significa? Mesmo que a Irmã Irene tenha derrotado o demônio pela segunda vez, o mal perdura. Não é à toa que o demônio retorna em Invocação do Mal 2, em que Lorraine é a responsável por finalmente destruir este mal quando descobre o nome do demônio: Valak.
Se você reparar, em nenhum momento dos filmes A Freira, o nome ‘Valak’ é mencionado, pois ninguém havia descoberto o nome. É por isso que o demônio retorna, sendo dizimado na segunda sequência de Invocação do Mal.
Ficha Técnica
A Freira 2
Direção: Michael Chaves
Elenco: Taissa Farmiga, Storm Reid, Jonas Bloquet, Bonnie Aarons, Anna Popplewell, Katelyn Rose Downey, Suzanne Bertish, Léontine d’Oncieu, Anouk Darwin Homewood, Peter Hudson, Maxime Elias-Menet e Pascal Aubert.
Duração: 1h50min
Nota: 3,0/5,0