O universo de Invocação do Mal ganha mais uma página com A Freira (The Nun), que vai retratar a origem de Valak, o demônio que se tornou o sucesso do horror em Invocação do Mal 2. Não dá para negar que tanto as continuações como os spin-offs criaram um universo único e sensacional dentro do gênero terror, explorando seus personagens mais macabros a partir de histórias verdadeiras contadas pelo famoso casal demonologista Ed e Lorraine Warren. Mesmo com alguns altos e baixos, a franquia do horror é a minha favorita, mas a grande pergunta é: será que este novo capítulo é realmente bom?
Dirigido por Corin Hardy, A Freira relata quando uma jovem freira que vive enclausurada em um convento na Romênia comete suicídio. Assim, um padre com um passado assombrado e uma noviça prestes a fazer seus votos finais são enviados pelo Vaticano para investigar o caso. Juntos, eles desvendam o segredo profano da ordem. Arriscando não só suas vidas, mas também sua fé e suas almas, eles confrontam a força malévola que assume a forma de uma freira, à medida que o convento se torna um horripilante campo de batalha entre os vivos e os amaldiçoados.
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No geral, A Freira é um filme regular. Em termos de produção e elenco, há máxima excelência, porém, o roteiro fica um pouco a desejar. Logo nos primeiros minutos, é revelado o suicídio cometido na abadia, no entanto, a narrativa já entrega a ‘carta na manga’ da situação, ou seja, o público sabe o que e por que aquela situação infeliz aconteceu. Por um lado é compreensível essa explicação e, a princípio, o público apenas tem o primeiro fato nas mãos. Por outro, esse fato perde o seu valor, devido ao grau de previsibilidade muito alto, o que diminui o entusiasmo de sentir aquele medo repentino, uma vez que o roteiro já deixa estabelecido o que é real e o que não é.
Infelizmente, o novo terror perde pontos por entregar demais e não utilizar o termo ‘menos é mais’. Se nos filmes Invocação do Mal 1 e 2, a trama brinca com a imaginação do espectador ao entregar cenas de suspense sutis para que o ato do susto seja o ápice do horror, A Freira não hesita em entregar tudo de bandeja aos olhos do público, o que torna o medo bem relativo, ou seja, alguns podem se assustar, mas já sabendo o que vai acontecer. E a culpa não é dos jump scares, pois são bem eficazes. É a trama cujo desenvolvimento torna os fatos explícitos demais, sem deixar que o público junte as peças e descubra as coisas por conta própria.
Se os demais filmes deste universo utilizam de uma atmosfera mais realista, A Freira opta por explorar a mitologia que está por trás do demônio Valak, tornando o filme mais fantasioso. Ao relatar a origem deste mal, o longa entrega cenas surreais de como o demônio surgiu no convento da Romênia e, a partir daí, inicia um alvoroço de acontecimentos macabros, levantando alguns questionamentos sobre o que é real ou o que é apenas uma visão perturbadora. Alguns momentos dão essa resposta, enquanto outros ficam apenas no ar. Seria proposital? Talvez sim, talvez não.
O interesse é que por se tratar de um spin-off, A Freira acerta na conexão dentro do universo, ao entregar boas referências dos demais filmes, como é o caso das serpentes, uma vez que a personagem Lorraine, interpretada por Vera Farmiga, denomina o demônio, pela primeira vez, como o ‘Senhor das Serpentes’. Além disso, é possível pegar a referência das cruzes virando de ponta cabeça. Quem assistiu Invocação do Mal 2 vai captar a informação rapidamente. Aliás, o filme ganha mais um ponto ao entregar um bom desfecho que amarra as pontas com o que já conhecemos desse universo. Não vou dizer mais do que isso, apenas assistam.
Mesmo com ressalvas, o terror se salva em parte com a produção e o elenco. A Freira apresenta um bom design de produção e isso pode ser notado assim que o público começa a explorar o convento junto com os personagens. A abadia torna-se um lugar extremamente fantasmagórico, quase que um parque do horror. Por um momento, achei exagerado, uma vez que olhando do lado de fora, o local aparenta ser pequeno, mas ao entrar, há vários caminhos, escadas, quartos, portas, janelas e, a cada passo dado, o cenário torna-se ainda mais horripilante. Novamente, fica o questionamento se tudo isso é real ou se é fruto da imaginação que o próprio demônio cria para atrair a sua vítima.
Com relação ao elenco, todos estão bem. Tassia Farmiga entrega um papel satisfatório, mas que poderia ter ganhado uma interpretação mais perturbadora. Você nota o medo na Irmã Irene e percebe como o terror brinca com a personagem, porém falta aquela energia intrigante, instigante e assustadora na protagonista. Ela está bem, mas poderia estar melhor. Entendem o que eu quero dizer?
Demian Bichir também segue o mesmo passo e entrega um padre investigador cujo passado volta a assombrá-lo, uma válvula utilizada pelo próprio demônio para deixar o personagem fragilizado e vulnerável ao mal. O que achei interessante é que o Padre Burke traz uma referência clara de O Exorcista, tanto no figurino quanto em suas execuções dentro do filme.
Para mim, o destaque vai para Frenchie, interpretado por Jonas Bloquet. Habitante do vilarejo, ele é o entregador de alimentos do convento e o responsável por alertar as autoridades religiosas sobre o que se passa no local. Ele traz certo alívio cômico com uma personalidade bem espontânea e galanteadora, mas o que o torna melhor é o fato dele ser o mais sensato ao ter que lidar com as situações macabras pelo caminho.
Considerações finais
A Freira se destaca com o elenco, a boa produção e uma ótima conexão dentro do universo de Invocação do Mal, mas fica a desejar com um roteiro que deixa tudo explícito, tornando o filme previsível e o medo relativo, já que boa parte da trama é premeditada. O terror opta por explorar uma história mais fantasiosa e menos realista, no entanto, se ‘o menos é mais’ tivesse sido aplicado, talvez a história fosse mais instigante e temerosa como o próprio universo já nos provou em filmes anteriores.
Ficha Técnica
A Freira
Direção: Corin Hardy
Elenco: Tassia Farmiga, Demian Bichir, Jonas Bloquet, Bonnie Aarons, Charlotte Hope, Ingrid Bisu, August Maturo, Michael Smiley, David Horovitch, Lili Bordan e Izzie Coffey.
Duração: 1h37min
Nota: 6,4