Orange Is The New Black foi uma das primeiras séries originais e inovadoras da Netflix que nos trouxe um retrato doce e amargo sobre o sistema carcerário dos Estados Unidos, mais especificamente a visão de como é uma detenção feminina que se divide entre vários pontos de vista: justiça desequilibrada, acolhimento de imigrantes, culpa, inocência, escolhas, empatia, amizade, família e esperança.
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A série criou uma montanha russa de transformação para as personagens, que mudaram radicalmente para tanto para a melhor quanto para pior; fez o espectador se apaixonar por alguém que odiou lá no primeiro episódio; fez ter simpatia e carinho ao compreender a situação de determinadas detentas; entregou desfechos tristes, crus e realistas; nos livrou de figuras quase insuportáveis; e ainda conseguiu apresentar personagens maravilhosos aos 45 minutos do segundo tempo. Não há como negar que Orange Is The New Black sofreu altos e baixos, especialmente em uma 6ª temporada complicada de assistir, com tramas e personagens mal aproveitados que, infelizmente, não acrescentaram em quase nada. Agora, a série retorna em sua sétima e última temporada, entregando um final doce e amargo, mostrando desfechos tristes para alguns, novas oportunidades para outros e concretizando que a injustiça nunca acaba. Será que este final agradou a todos?
Piper e Alex
A história de amor e drogas que fez Orange Is The New Black começar, finalmente, tem um desfecho justo e digno. O amor mais complicado da série ganha um final positivo, de acordo com os caminhos de cada personagem. Ao final da 6ª temporada, Piper cumpre a sentença e sai da cadeia ciente de que não é mais a mesma. O mais interessante foi acompanhar a jornada de reaprendizado da protagonista para se reajustar na sociedade, afinal, como as pessoas a veriam, uma vez que ela é uma ex-detenta? Esconder uma parte de si não é a melhor saída e, assim, Piper encarou a todos mostrando seu verdadeiro eu, o que foi muito melhor, pois ela faz novas amizades, se restabelece e recupera o carinho da família. E o amor por Alex? Não é fácil manter um relacionamento como este e, em meio a traição, medo, insegurança e distância, elas conseguem encontrar um meio de manter esse amor vivo. Devido a uma relação estranha e até compreensível com a policial McCoullough, Alex é transferida para a prisão de Ohio, fazendo Piper tomar a decisão de se mudar para lá e, finalmente, cuidar da sua própria vida e fazer as escolhas certas. A espera ainda vai ser longa – já que Alex tem alguns anos de sentença – mas o amor das duas consegue segurar as pontas.
Grupo desfeito
Um dos grupos mais adorados desde a 1ª temporada foi desfeito nesta reta final. As circunstâncias tristes obrigam cada uma seguir um caminho em prol da própria saúde mental. Considerada a mais forte de todas, Red foi sendo destruída aos poucos pelas injustiças e a falta de empatia do sistema carcerário. O longo tempo dentro da solitária faz a personagem ser diagnosticada com demência em fase inicial, fazendo ela esquecer do que mais ama (cozinhar) e de quem a ama. Já Lorna, que nunca soube lidar e aceitar os problemas e as circunstâncias que a contrariam, cria uma realidade paralela em que tudo pode ser mais fácil. Com a morte do seu filho recém-nascido, ela entra em crise profunda de aceitação. Assim, não há outra saída a não ser mandá-la para a Flórida, área das detentas com problemas psicológicos. Com as duas melhores amigas e parceiras em um caminho sem volta, Nicky precisa deixá-las partir, ciente de que não havia condições de cuidar das duas sozinha. Além do breve relacionamento com a detenta Shani e a partida de Alex, Nicky segue em frente sozinha.
Luz no fim do túnel
Uma das personagens que mais cresceu e se destacou na série, sem dúvida, é a Taystee que, para mim, é a melhor coisa que Orange Is The New Black deu aos telespectadores. A saída e o retorno à prisão, a morte da melhor amiga, traição de outra amiga e a prisão perpétua fazem Taystee perder o pingo de esperança que tinha, fazendo-a acreditar que a única possibilidade de se livrar de tudo é a morte. A todo instante o público teme pelo pior, mas cada vez a personagem tenta colocar um fim à vida, algo bom faz ela mudar o percurso, seja a verdade descoberta sobre a morte do guarda Piscatella, o castigo e a redenção de Cindy, o monitoramento das aulas do supletivo, a alegria de ver as detentas aprovadas na prova e o início de uma microempresa que irá apoiar as mulheres que vão sair da prisão, incluindo a ajuda da famosa ex-detenta Judy King. Taystee é o maior símbolo de força, transformação e determinação e, mesmo quando anda na corda bamba, ela não se entrega à queda. Infelizmente a sua sentença não muda e a prisão perpétua é fato consumado, mesmo a gente sabendo que ela é inocente com relação ao assassinato do policial, mas ainda assim, ela consegue dar volta por cima com dignidade.
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Quem também dá um pouco de luz à prisão é Tamika, que se torna a nova diretora de Litchfield e dá a oportunidade das detentas voltarem a estudar e a se ocuparem com os novos cursos, além de fazer uma vista mais rígida sobre os guardas. Infelizmente o que é bom dura pouco, e a PolyCon – empresa liderada pela relações públicas, Linda – solicita a demissão de Tamika, que arca com as falhas dos outros.
Deportação
Uma das tramas que chama bastante a atenção nesta 7ª temporada é a deportação de imigrantes dos Estados Unidos, retratando uma justiça embaçada e crua com relação aos estrangeiros. Frios e inflexíveis, muitas mulheres são mandadas de volta à terra natal, mesmo sabendo que o perigo ainda se encontra lá. Neste arco da série, o público conhece personagens com pouca participação, mas que entregam camadas complexas e ricas, como é o caso de Karla, que luta para ficar no país ao lado dos dois filhos; a muçulmana Shani e o medo de retornar a um local que não aceitam a homossexualidade; a indiana que não entende a língua inglesa ou espanhola e tem a necessidade de falar. São histórias curtas e rápidas, mas profundas e tocantes a ponto de conquistar o telespectador de imediato.
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Do elenco original, quem não obtém sucesso é Maritza, que se despede da melhor amiga Flaca e é deportada para Colômbia. Já Blanca recupera o green card e sua liberdade, além de conseguir ficar ao lado do seu amor novamente.
Segunda chance
Um grande feito de Orange Is The New Black é fazer o público passar a gostar de personagens que despertaram desprezo logo no primeiro episódio, como é o caso de Tiffany Doggett, que entrega o pior de si no início e passa por uma transformação radical. Uma das melhores coisas que a série faz é formar a parceria entre ela e Suzanne, fazendo Doggett voltar a pensar melhor em si, a reconstruir o amor próprio, corrigir os seus erros e a lidar melhor com os problemas. Mas, mesmo construindo uma jornada positiva, a recaída vem de forma brutal, levando a personagem para um desfecho trágico que, com certeza, muitos não esperavam.
Mesmo fazendo Taystee levar a culpa por algo que não fez – a fim de obter a tão sonhada liberdade – Cindy também arca com o preço do egoísmo e da traição. A verdade sobre a sua filha vem à tona e, agora, ela precisa arcar com as consequências, encarar a realidade e se responsabilizar pelos erros cometidos, dando a ela um desfecho e uma redenção justa.
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Quem também recebe uma segunda chance é Gloria que, devido ao erro de portar um celular, arca com as consequências, mas é salva pelo guarda Luschek, que admite toda a culpa (finalmente!). Assim, ela também cumpre sua sentença e ganha uma nova oportunidade de se juntar a sua família novamente. Restando ainda 10 anos de sentença, Maria também passa por uma transformação em que se redime dos atos cometidos durante a rebelião, aprende a controlar a sua raiva e se torna uma pessoa melhor para, consequentemente, ser uma mãe melhor.
Uma dupla que surpreende nesta temporada é o Sr. Caputo e Nathalie Figueroa (Sra. Fig) que, além formarem um casal, aos poucos, vão admitindo os erros cometidos nas temporadas anteriores e corrigindo da melhor maneira possível. É muito interessante acompanha a mudança dos dois, fazendo a gente acreditar que é possível se tornar uma pessoa melhor.
Sem esperança
Enquanto algumas tiveram uma segunda oportunidade e outras abraçaram a esperança dentro da cadeia, nem todas obtiveram sucesso e partiram rumo à queda do alto de um penhasco. O melhor exemplo é Daya, que mergulha no tráfico de drogas, coloca sua irmã mais nova em risco, cria mais instabilidade com sua mãe, Aleida, e ainda comete o “erro” de matar sua namorada, Daddy, por raiva e vingança. Já Aleida comete o pior erro de voltar à prisão, deixar os filhos à mercê do lado de fora e ainda ver que Daya não é mais a mesma. Mas a cena final das duas fica em aberto, pois termina com Aleida estrangulando a filha. Será que Daya morreu? Nunca vamos saber.
Como a justiça é escassa nesta série, muitos personagens continuam ruins e ainda ganham posicionamentos melhores, como é o caso do guarda Hellman que, além de continuar trazendo drogas, acaba se tornando o novo diretor de Litchfield. Já as relações públicas da PolyCon, Linda, não aprendeu nada durante a rebelião e continua uma mulher mesquinha, egoísta e mão de vaca, retendo todo o dinheiro para a empresa e deixando a prisão cada vez pior. Quem também não vai deixar saudades é Madison, uma das piores adições da série. Uma personagem que não acrescentou em nada e só prejudicou quem estava ao seu redor.
Rostos familiares
Quem aí sentiu saudades de alguns personagens que ficaram de fora na 6ª temporada? Para o público saber no que se sucedeu, a série revela que boa parte das integrantes de Litchfield foram para a prisão de Ohio ao final da rebelião na 5ª temporada, como é caso da Boo, Norma, Yoga Jones, Janae, Gina, Soso, Leanne e Angie. Os fãs matam as saudades de Sophia Burset, que desfruta da sua liberdade com plenitude; revê personagens do passado como o ex-guarda Sam Healy que, agora, trabalha em uma lanchonete; e George ‘Pornstache’ Mendez, que saiu da cadeia e cuida da filha de Daya.
O que vocês acharam do final de Orange Is The New Black?
Ficha Técnica
Orange Is The New Black
Criação: Jenji Kohan
Elenco: Taylor Schilling, Laura Prepon, Kate Mulgrew, Uso Aduba, Danielle Brooks, Dascha Polaco, Selenis Leyva, Nick Sandow, Yael Stone, Taryn Manning, Adrienne C. Moore, Natasha Lyonne, Jackie Cruz, Jessica Pimentel, Elizaneth Rodriguez, Laura Goméz, Michael Harney, Matt Peters, Lea DeLaria, Dale Soules, Diane Guerrero, Vicky Jeudy, Emma Myles, Samira Wiley, Julie Lake, Constance Shulman, Abigail Savage, Alysia Reiner, Annie Golden, Kimiko Glenn, Laverne Cox, Emily Tarver, Beth Dover, Jason Biggs, Hunter Emery, Lori Tan Chinn, Blair Brown, Pablo Schreiber, Michael Chernus e Maria Dizzia.
Duração: 13 episódios (60min. apróx.)
Nota: 7,8