O Sessão Pipoca de hoje traz uma adaptação literária gostosa de assistir, que emociona na medida certa e ainda com uma reflexão densa sobre amor, julgamento e a essência do próximo além da aparência física. Do autor David Levithan e dirigido por Michael Sucsy, Todo Dia (Every Day) conta a história de ‘A’, que acorda todos os dias em um corpo e vida diferentes, forçando-o a exercitar a empatia de lidar com o material que lhe foi concedido temporariamente. Um dia, ‘A’ pode ser menino ou uma menina; pode acordar feliz ou triste; pode ser gay ou hétero; saudável ou doente; comportado ou rebelde. Até que, certa vez, ‘A’ ocupa o corpo de um garoto chamado Justin (Justice Smith) e se apaixona por sua namorada, Rhiannon (Angourie Rice).
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Esta é a primeira vez que ‘A’ sente uma conexão forte a fim de ficar com essa pessoa todos os dias. Assim, ‘A’ parte diariamente em busca de Rhiannon, mas a situação não é tão simples assim. Enquanto tentam se reencontrar a cada 24 horas, eles precisam superar limitações, afinal será que Rhiannon é capaz de ficar com alguém que muda a cada dia? E até onde ‘A’ é capaz de ir para ficar com sua amada por mais tempo? Aliás, será que é justo ‘roubar’ a vida de alguém e alterá-la nem que seja por algumas horas?
Todo Dia é um filme teen, ‘água com açúcar’, ao estilo sessão da tarde. Falo assim para vocês entenderem o tipo de filme que vão assistir, mas isso não significa que seja ruim; pelo contrário, o roteiro apresenta uma trama satisfatória que traz reflexões sobre gênero, sensibilidade, amor e aparências sem exagerar no tom dramático. A história tinha tudo para ser mais intensa e triste, mas tanto a proposta do autor, quanto a adaptação cinematográfica parte para um caminho mais flexível e compreensível em sua mensagem.
O filme não tem o objetivo de revelar quem é ‘A’. Podemos dizer que esse personagem é uma alma, uma entidade que ocupa corpos, mas não tão aleatoriamente. Por exatos 24 horas, ‘A’ é transportado para corpos que estão na mesma cidade, no mesmo ambiente. Ou seja, se determinado corpo migrar para local, ‘A’ permanecerá naquele espaço, pois não é capaz de ir tão longe. Por isso ele toma tanto cuidado para não se distanciar, especialmente depois que conhece Rhiannon.
Uma das grandes mensagens de Todo Dia é fazer a protagonista, mas também o espectador a exercitar a empatia e enxergar o próximo além da ‘casca’. Assim, o filme apresenta vários personagens que interagem com Rhiannon, dando sinais para que ela saiba que é ‘A’ e, assim, crie um sentimento cada vez mais forte, complexo e trabalhoso, afinal, ela se apaixona todos os dias por alguém completamente diferente, dos pés a cabeça. Por ter tantos personagens, o filme se estende um pouco para dar um espaço satisfatório para cada um, mas apenas alguns ganham mais profundidade. Como é o caso quando ‘A’ ocupa o corpo de uma garota com depressão; de um rapaz que está prestes a se mudar para outro país; de um garoto que tem uma vida feliz e uma família que o ama incondicionalmente. É aqui que iniciam os questionamentos de ‘A’ sobre sua interferência na vida alheia tanto para ajudar, quanto para se auto beneficiar. Até que ponto ele pode permanecer na vida do outro para satisfazer os seus próprios desejos?
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Além de não revelar quem é ‘A’, o filme também não questiona sobre o caráter dessa alma/entidade que entra na vida das pessoas. No entanto, a história traça um caminho positivo para o personagem, mostrando ao público que sua índole é boa e que suas ações tendem a ser altruístas na maior parte do tempo. O que leva ao público a compreender melhor a decisão final de ‘A’ e o desfecho dessa história.
Se ‘A’ consegue afetar a vida dos corpos que ocupa, pode ter certeza que Rhiannon é uma das principais afetadas. Assim que ela deixa de lado apenas a aparência e aprende a enxergar a essência das pessoas, Rhiannon percebe o quão merece uma vida feliz e pessoas melhores em sua volta. Assim, ela avalia melhor um namoro que lhe rende apenas migalhas e, é claro, sua família que, infelizmente, passa por situações complicadas devido a perda do emprego do pai e a distância da mãe.
Particularmente, eu gostei bastante de Rhiannon e acho que o filme soube aproveitar bem a personagem. No entanto, o plot sobre sua família fica a desejar, pois há um problema interno que poderia ter sido melhor trabalhado. A relação da protagonista com os pais podia ter sido mais explorado, uma vez que a garota estava passando por uma prova de fogo e transformação capaz de ajudá-la a lidar com o relacionamento paternal. Eu entendo que o filme apresenta muitos personagens (muitos mesmo), mas o núcleo da família de Rhiannon merecia uma atenção maior e melhor.
Considerações finais
Todo Dia é um filme leve, teen e emocionante que traz uma história densa e sensível sobre enxergar o próximo além da aparência. O filme acerta nos protagonistas, na química e no desenvolvimento dessa relação, mas capenga um pouco por apresentar tantos personagens e não enfatizar alguns que mereciam uma atenção maior. Mesmo com uma ressalva ou outra, Todo Dia é um filme bonito, reflexivo e que merece uma chance.
Ficha Técnica
Todo Dia
Adaptação: best-seller de David Levithan
Direção: Michael Sucsy
Elenco: Angourie Rice, Justice Smith, Maria Bello, Owen Teague, Debby Ryan, Ian Alexander, Lucas Jade Zumman, Jacob Batalon, Jeni Ross, Rory McDonald, Katie Douglas, Sean Jones, Jake Sim, Nicole Law, Colin Ford, Michael Cram, Amanda Arcuri e Tara Nicodemo.
Duração: 1h38min
Nota: 7,0