O Que Te Faz Mais Forte (Stronger) é um dos filmes que estava mais curiosa para assistir desde o ano passado, por motivos de ser baseado em uma história real, comovente e triste (em parte) e, é claro, por ser protagonizado por Jake Gyllenhaal (Animais Noturnos), um ator que eu admiro muito. Dirigido por David Gordon Green, o longa retrata a história de Jeff Bauman, um rapaz comum que conquistou vários corações de sua cidade e do mundo ao se tornar o símbolo de esperança após o ataque da Maratona de Boston, em 2013.
Para reconquistar o amor da ex-namorada Erin (Tatiana Maslany), o jovem de 27 anos corre em direção à maratona para esperá-la na linha de chegada. No entanto, uma grande explosão acontece, fazendo Jeff perder as suas duas pernas instantaneamente. Após recuperar a consciência no hospital, Jeff ajuda a polícia a identificar um dos criminosos, no entanto, sua própria batalha está prestes a começar. O filme retrata o dia a dia da reabilitação física e emocional com o apoio forte de Erin e sua família. A trama desenvolve um relato profundamente pessoal do rapaz e sua jornada que testa o vínculo da família, define o orgulho de uma comunidade e inspira sua coragem interior para superar adversidades bastante difíceis.
Essa é a sinopse oficial do filme, porém não foi exatamente dessa forma que eu enxerguei a história. Por se tratar de algo que aconteceu de verdade, O Que Te Faz Mais Forte não tem o propósito de mostrar o protagonista apenas como um herói em ascensão diante de uma grande dificuldade que ele precisa vencer. O longa traz como proposta o lado avesso do personagem, mostrando a sua verdadeira faceta, de um rapaz que sofreu de verdade, enfrentou a rotina as duras penas, se viu derrotado, mas sempre exaltando suas falhas nas entrelinhas.
Assim que a tragédia acontece e Jeff passa pelo procedimento de amputação das pernas e inicia a difícil rotina de recuperação, o filme revela uma família disfuncional do personagem, com uma mãe que adora beber, um pai que está presente apenas no momento crucial e, logo depois, fica ausente, tios barulhentos demais e amigos sem noção. Mas junto com essas características, eles provam ser as melhores pessoas na vida de Jeff, que estão sempre presentes, não importa se é para levá-lo ao bar ou a um jogo, ou apenas estar por perto e em silêncio.
Após situar o público dentro da trama, o filme engrena para um caminho de descaracterização do personagem. Quem está do lado de fora, enxerga Jeff com o herói dos EUA, aquele que não deixou os terroristas vencerem, delatou o criminoso e saiu vitorioso. A sociedade o pinta dessa forma, mas a verdade não é essa. Jeff não vence os terroristas, ele sofre uma consequência muito grave que, infelizmente, não tem retorno, seu estado emocional e psicológico está completamente abalado e, enquanto vemos um Jeff moldado como herói e guerreiro, o ‘Boston Strong’ das mídias, o espectador enxerga a sua derrota, a fraqueza, o medo e um grau de babaquice em Jeff.
Há alguns momentos que o filme pode gerar certo incômodo. Enquanto Jeff dá os primeiros sinais de que está cansado de ser rotulado como herói e usado como figura de sobrevivente a um ataque, sua mãe Patty (Miranda Richardson) abusa dos minutos de fama do filho e, por mais que ela faça isso com boa fé, Patty não enxerga o sofrimento do filho logo de cara. Enquanto isso, o rapaz sofre sem colocar pra fora o que realmente pensa e sente sobre sua nova condição, o que reflete em suas atitudes. De um cara meio bobo e preguiçoso – já que ele não demonstra muito interesse em sair da casa da mãe, ter um bom emprego e crescer na vida – ele se entrega completamente à derrota, vestindo a máscara de fracassado, sem se esforçar nenhum pouco. Aliás, tais atitudes também refletem em seu relacionamento com Erin, que tenta ajudá-lo, uma vez que ela se sente parcialmente culpada por ele ter aparecido na maratona em que participava. As cenas de Jeff jogado no banheiro, as discussões com a namorada, ele e a mãe bêbados, ele e os amigos brincando na cadeira de balanço e depois dirigindo alcoolizados são bons exemplos do que acabei de citar.
Jake Gyllenhaal está bem à vontade na pele de Jeff Bauman, entregando uma transformação boa e completa em sua caracterização física. Mas, mais do que isso, Jake incorpora o personagem, detalhando bem os trejeitos, como o olhar pesado e a expressão constante de abandono e fracasso; o rastejar do corpo e o sobe e desce nas escadas do prédio ou de qualquer outro lugar, o que demanda bastante força; o jeito meio rasteiro de falar, entre outras coisas. Sinceramente, Jake se entrega muito no filme e é por isso que eu admiro muito o trabalho dele.
Tatiana Maslany não fica para trás e de primeira entrega uma Erin machucada e com peso na consciência por saber que é a responsável por Jeff ter aparecido no lugar errado e na hora errada. Mas junto com esse sofrimento, é ela quem dá um basta em Patty ao querer usar o problema do filho para aparecer na mídia e clareia a mente do namorado ao jogar na cara que ele não pode ser o centro das atenções de todo mundo para sempre. É ela quem o tira da posição de vítima e o coloca determinado a vencer essa luta. Ao mesmo tempo em que Erin é direta, nua e crua nas palavras, ela não deixa de demonstrar que faz tudo isso por amor a Jeff.
Considerações finais
O Que Te Faz Mais Forte é uma história que comove, mas também mostra o lado B do sofrimento de quem passou por uma tragédia em grande escala. Ao mesmo tempo em que há cenas que irritam, há também aquelas que fazem o seu coração apertar mais forte. O final é satisfatório, bonito e cheio de superação. O grande mérito do longa vai para as performances do trio Gyllenhaal, Maslany e Richardson. É um filme que vale a pena assistir para conhecer o outro lado de uma história real.
Ficha Técnica
O Que Te Faz Mais Forte
Direção: David Gordon Green
Elenco: Jake Gyllenhaal, Tatiana Maslany, Miranda Richardson, Clancy Brown, Frankie Shaw, Michelle Romano e John Pollono.
Duração: 1h59min
Nota: 7,5