Com o sucesso estrondoso de La Casa de Papel, a Netflix traz novamente uma série espanhola que promete prender a sua atenção até o fim. Dirigida por Ramón Salazar e Dani de la Orden, Elite é a mais nova série teen que vale a pena assistir, pois mais do que uma história sobre adolescentes, ela traz subtramas intrigantes como sexo, amor, confiança, diferenças sociais e raciais, preconceito, inveja, poder, entre outros, sob a grande trama base que é o assassinato. Mas logo de cara posso dizer que Elite tem suas ressalvas e acaba pecando em alguns pontos, mas, ainda assim, merece uma chance de ser prestigiada.
Com uma mistura de Rebelde, Gossip Girl, Pretty Little Liars e How To Get Away With Murder, Elite nos introduz novamente no mundo do ensino médio, onde jovens ricos desfrutam dos prestígios e abusam do poder que o dinheiro lhe dá. Na trama, três alunos menos favorecidos ganham bolsas para estudar na escola de elite Las Encinas e, de fato, essa chance é uma das melhores para eles pensarem em um futuro promissor. No entanto, a convivência na escola, as amizades e a diferença social pesa bastante na rotina de cada um deles, culminando em um assassinato repentino e frio. Afinal o que leva alguém a matar uma pessoa? Quais motivos são engrenados para culminar em uma tragédia como esta? Qual é o nível de maldade que paira sob as cabeças desses personagens?
Assista ao trailer oficial da série
O primeiro ponto positivo é que Elite apresenta uma narrativa não-linear, ou seja, a série já começa com o assassinato cometido e o início da investigação, mostrando a detetive interrogando os suspeitos no local do crime. A partir dos depoimentos, a série dirige o telespectador ao passado para saber como tudo começou, conhecer a história de cada um e em que determinado momento os arcos de cada personagem se conectam para o ápice da história.
Ao caminhar sob os cenários como escola, casas, vizinhanças e lojas, a série apresenta o mundo de cada personagem, o tipo de atmosfera que ajuda na construção das personalidades e, consequentemente, em suas atitudes (boas ou ruins). Além disso, por termos vários personagens a serem desenvolvidos, a série trata de juntá-los em duplas ou trios para que, ao final, crie uma conexão que vai moldar a trama do assassinato. Posso dizer que alguns arcos são bons, enquanto outros ficam um pouco a desejar, assim como dentro de cada subtrama há personagens que ganham um destaque maior que o outro.
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Outro ponto que talvez possa frustrar um pouco (como foi o meu caso) é que, por se tratar de um assassinato, a investigação em si fica a desejar. Nesta primeira temporada, a série se concentra mais na história dos personagens – o que está certo, afinal, o público precisa saber quem está acompanhando – no entanto, a série perde um pouco do entusiasmo no momento em que a história se afasta de uma investigação mais minuciosa, ficando apenas nos interrogatórios. Por se tratar de um mistério, Elite poderia mergulhar um pouco nos detalhes da investigação, entregando pistas que deixariam o telespectador mais envolvido, angustiado e impactado. Aliás, a série até consegue fazer isso no começo, pois ao final de cada episódio temos uma descoberta que faz com que a gente continue assistindo, no entanto, essa sacada vai diminuindo lá pela metade da temporada. Mesmo assim, você continua assistindo porque quer descobrir o que exatamente aconteceu.
Elitizados e rejeitados
Como disse, a série apresenta os personagens em formato de duplas e/ou trios, o que torna mais fácil conhecer cada um, além de engrenar rapidamente nas subtramas e na química entre eles. Como trio principal, temos a jovem Marina (María Pedraza) que inicia uma amizade com o novato bolsista Samuel (Itzan Escamilla) e seu irmão, Nano (Jaime Lorente), que saiu recentemente da cadeia e, agora, precisa de uma nova chance para se reerguer, além de pagar dívidas pendentes. A trama dos três é bem envolvente e esse triângulo é o que mais rende plots intrigantes, no entanto, é um pouco difícil sentir certo carisma por todos, mas ainda assim é impossível não deixar de acompanhá-los. O mais difícil de se conectar é com Samuel, um dos principais protagonistas. Isso acontece, pois o personagem é impulsivo demais e toma decisões muito precipitadas, culminando em consequências bobas e que até pioram a situação. Marina é a típica garota rica, mas que tem um passado triste que faz a personagem entrar em declínio, fazendo com que tudo dê errado em sua volta. É bem interessante acompanhá-la e ver um desenvolvimento denso da personagem.
Do outro lado temos o triângulo Carla (Ester Expósito), Polo (Álvaro Rico) e Christian (Miguel Herrán). Sinceramente, este é o arco que mais demora para se conectar com a trama principal, tornando-se bastante superficial por vários episódios. Entre eles, Christian é o mais carismático, pois ele não usa máscaras e mostra o que realmente quer, que não é somente estudar.
Temos também Nadia (Mina El Hammani), Guzmán (Miguel Bernardeau) e Lucrécia (Danna Paola), o trio que mais evolui em termos de personalidade. Enquanto Lucrécia é a verdadeira maldade em pessoa, cínica, egoísta, mentirosa, chantagista e não esconde isso de ninguém, Guzmán é o que mais evolui nesta temporada ao se envolver com Nadia, uma muçulmana que segue a risca a cultura e os conhecimentos pregados pela família, mas que sente um carinho especial pelo rapaz, além de começar a entrar no mundo dele. É uma trama que prende sua atenção em todos os episódios.
Outro ponto positivo de Elite é que a série traz um pouco de diversidade na história ao introduzir uma cultura diferente, além do assunto LGBTQ com os personagens Omar (Omar Ayuso) e Ander (Arón Piper). Ver o relacionamento dos rapazes bater de frente com a cultura e os costumes distintos é muito interessante e o espectador torce o tempo todo para os dois, mesmo que as situações tentam mantê-los separados.
O final da série é bom, deixa bons ganchos para uma possível segunda temporada e, sim, há a revelação do assassino, no entanto, não impacta tanto quanto eu esperava. É bom? Sim, mas acho que se a série tivesse se aprofundado um pouco mais na investigação, talvez o plot twist teria sido um pouco mais impactante.
Considerações finais
Elite é uma série teen novelesca que mistura drama, poder, mistério, mentiras, preconceitos, diferenças sociais, amores e amizades. A história sabe engatar muito bem, mas se perde em alguns momentos, resultando em um final bom, mas não excelente. Mas isso não significa que seja ruim: a série é divertida, cínica, empolgante em vários momentos e ainda tem bons personagens que vão chamar a atenção. Vale a pena fazer uma maratona.
Ficha Técnica
Elite
Direção: Ramón Salazar e Dani de la Orden
Roteiro: Carlos Montero e Dario Madrona
Elenco: María Pedraza, Itzan Escamilla, Miguel Herrán, Jaime Lorente, Miguel Bernardeau, Danna Paola, Mina El Hammani, Ester Expósito, Álvaro Rico, Arón Piper, Omar Ayuso e Jorge Suquet.
Duração: oito episódios (40 a 50 min. apróx.)
Nota: 7,9