A cinebiografia Tolkien retrata os bastidores da vida do escritor J.R.R Tolkien, revelando nas entrelinhas narrativas uma trama mais intimista da infância e juventude do autor que sonha em mudar o mundo com o poder da arte, música, escrita e poesia. Mais do que isso, o filme se aprofunda nas grandes amizades, na cumplicidade entre os amigos e como eles e outros eventos influenciaram na construção de uma das histórias de maior sucesso do mundo literário e cinematográfico.
Por se tratar de uma cinebiografia, espera-se uma trama mais densa e cansativa e, de fato, pode ser que alguns encaixem este filme nesta categoria, no entanto, Tolkien consegue entregar um roteiro mais fluído, dinâmico, mesclando passado e presente em uma narrativa não linear em que vamos conhecer a história de John Ronald Reuel Tolkien desde os tempos em que morava na cidade de Bloemfontein até o instante em que ele escreve a palavra ‘Hobbit’ pela primeira vez.
Como disse, o filme se passa entre o passado e o presente, começando com cenas de Tolkien na Batalha de Somme, considerada uma das maiores batalhas da Primeira Guerra Mundial. No início, o público toma apenas o conhecimento do recrutamento do futuro autor, sem saber ainda o grau de importância que esta guerra terá em sua vida. O que se sabe nos primeiros minutos é que o protagonista está em busca de seu amigo Geoffrey B. Smith.
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Assim, o longa retorna ao passado e nos passa a contar a jornada de Tolkien desde a mudança de sua antiga cidade, ficando ele e seu irmão mais novo, Hillary Arthur Reuel, órfãos de mãe, Mabel Tolkien (o pai somente é citado) e sob os cuidados do padre Francis (Colm Meaney), que os leva para morar na casa da Sra Faulkner (Pam Ferris) e estudar em uma escola de elite.
A partir daqui o público toma conhecimento da paixão de Tolkien por idiomas, que o leva, mais tarde, a criar um idioma próprio para sua história, sua relação intimista com os livros e as palavras e o começo de uma grande amizade entre quatro rapazes, criando uma irmandade forte e crescente.
Em vários momentos, o filme caminha pela escola acompanhando o quarteto formado por Tolkien, Geoffrey, Christopher e Robert que, a princípio, se conhecem de forma ríspida, com discussões e brigas, mas assim que o clima é pacificado, eles passam a se conhecer cada vez mais, com encontros divertidos e reflexivos na Casa de Chá, lugar predileto da irmandade para discutir sobre amor, arte, poesia e, além disso, sobre os problemas a serem solvidos e sonhos a serem concretizados para conquistar seus desejados espaços na sociedade.
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O mais interessante é que o filme se aprofunda bem nesta amizade, desenvolvendo brigas rotineiras, discussões calorosas sobre assuntos prediletos, o incentivo quando um deles precisa enfrentar seus medos, até o instante em que o destino dos quatro é traçado com a guerra prestes a eclodir.
Claro que a amizade é o ponto forte do filme, mas a trama não deixa de desenvolver a vida amorosa de Tolkien ao conhecer Edith que, mais pra frente, viria se tornar sua esposa. Eles se conhecem ainda jovens quando vão morar sob o mesmo teto da Sra. Faulkner, criando um relacionamento crescente, forte e verdadeiro, revelando que Edith também foi uma de suas maiores inspirações para sua futura história. Claro que há percalços para interromper esta relação, o que faz cada um julgar suas próprias jornadas de vida e a tomar atitudes radicais, mas que só fortaleceram ainda mais os dois. A química de Nicholas Hoult e Lily Collins é carregada de simplicidade e inocência, entregando uma dupla apaixonada e apaixonante para o público.
Por falar nisso, Hoult está bem confortável na pele de Tolkien, entregando um homem hipnotizado pelas palavras, estudioso, cúmplice de seus amigos, leal às suas convicções, apaixonado por sua amada, duvidoso de certos caminhos a tomar e determinado quando o maior momento de sua vida exige sua alma.
Assim que o filme caminha para o ato em que se aprofunda mais na guerra, a história desenvolve os momentos de inspiração de Tolkien para a criação de seus futuros personagens, mesclando fantasia e alucinação com a realidade brutal que vive na batalha, trazendo um desfecho triste para uma parte de sua jornada e uma luz para o início de uma vida que mudaria tudo ao seu redor.
Por retratar os bastidores da vida de Tolkien, não espere que o filme ganhe um viés mais forte na construção da história de O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Pelo contrário, o papel deste filme é mostrar o cenário, as pessoas e os momentos que influenciaram a mente e a escrita do autor. E é por isso que a história se torna ainda mais simples e bonita de acompanhar. Claro que o livro irá abordar sua trajetória com riqueza de detalhes, mas o filme sabe cumprir o seu papel da forma mais simples e informal.
Ficha Técnica
Tolkien
Direção: Dome Karukosk
Elenco: Nicholas Hoult, Lily Collins, Craig Roberts, Anthony Boyle, Patrick Gibson, Pam Ferris, Colm Meaney, Genevieve O’ Reilly, Harry Gilby, Laura Donnelly, Guillermo Bedward, Albie Marber, Ty Tennant, Adam Bregman, Mimi Keene, James MacCallum e Derek Jacobi.
Duração: 1h52min
Nota: 7,6