O cinema abre as portas para receber um novo romance que sabe emocionar na medida certa. Todo Tempo Que Temos (We Live In Time) nos envolve em uma história de amor que entrega conexão e cumplicidade em uma trama palpável que não foge da realidade de um relacionamento.
Os protagonistas são apaixonantes e guiam o espectador neste romance de momentos que se eternizam. A tristeza aqui é inevitável e o choro é relativo para cada um, mas é certeza que se sentirá tocado com o que presenciou. Vale muito a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Com direção de John Crowley (Brooklyn), Todo Tempo Que Temos acompanha a talentosa chef de cozinha Almut e o recém-divorciado Tobias, cujos destinos se cruzam de uma forma inesperada: acidentalmente, Tobias é atropelado por Almut, que o leva imediatamente ao hospital, ficando ao seu lado até saber se está tudo bem. A partir daí, uma faísca é acendida e ambos dão a chance de se conhecerem melhor, engatando em encontros que alimentam este romance.
Assim, o público começa a acompanhar a história de amor através de momentos significativos ao longo dos anos, desde o encontro nada casual, a solidez do relacionamento, a construção da família, dificuldades, escolhas, alegrias e tristezas em meio a um destino traçado precocemente.
O primeiro ponto positivo de Todo Tempo Que Temos é a narrativa que opta em não ser linear, alternando as cenas entre passado e presente que não se apoia em datas e nomes para anunciar qual momento estamos acompanhando. O espectador identifica a época de acordo com o figurino, corte de cabelo, cenários e, é claro, a ocasião que, juntamente com os diálogos, informa o tempo na timeline que estamos assistindo.
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De um lado, vemos Tobias lidar com o pós-divórcio, enquanto Almut se dedica ferozmente a sua carreira na gastronomia, enquanto lida com sua saúde que já passou por debilitações. Mesmo em situações bem opostas, vulneráveis e meramente caóticas, a conexão acontece e se torna verdadeira, sem forçar as circunstâncias para o romance acontecer.
E isso é confirmado ao mostrar um relacionamento palpável e real em um retrato de altos e baixos, alegrias, discussões, sacrifícios, apoio, confiança, honestidade e cumplicidade. O amor é terno, mas também tem seu lado sombrio e desafiador que coloca as pessoas diante de suas provações. E é exatamente isso que vemos passar com Almut e Tobias, seja na tentativa de engatar de vez na relação, a apresentação das famílias, o respeito às profissões cada um escolheu, assim como a personalidade e os conceitos estabelecidos individualmente, mas que se moldam para se encaixar na nova vida à dois.
De exemplo, Todo Tempo Que Temos traz a discussão sobre maternidade, em que Almut afirma não querer ser mãe, enquanto Tobias deseja ter filhos, mas respeita a decisão da parceira, colocando esta relação em primeiro lugar. Com o passar do tempo, Almut muda de opinião, uma decisão tomada por ela mesma, pelo seu próprio desejo, e não para agradar ao outro.
Entre passado e presente, o espectador tem os seus sentimentos divididos na tela ao presenciar uma dinâmica que mescla diversão e provações bem desafiadoras, cujo final promete não ser tão feliz. Você vai ter um sorriso estampado no rosto com diálogos leves, dar risadas em situações que dão nervoso, como a sequência do parto de Almut, que acontece de um jeito ainda mais inusitado, se sobressaindo ao primeiro encontro do atropelamento.
O público se sente inspirado com a determinação de Almut ao participar de um programa de competição de culinária – ao estilo Masterchef – em que vemos a protagonista alimentando seu lado competidor não para vencer, mas para deixar uma marca de quem realmente ela é, de quem a sua filha sentirá orgulho, e seu marido uma grande admiração.
Todo Tempo Que Temos faz o público se deliciar mais com a leveza das boas memórias e do amadurecimento desta história de amor, ao invés de pesar a mão nas dificuldades que o casal enfrenta. No entanto, a tristeza é inevitável quando tomamos consciência sobre a doença de Almut, que lutara anteriormente, e agora retorna de forma agressiva, o que coloca mais coisas em jogo, uma vez que sua vida é completamente diferente e há mais pessoas envolvidas.
Quem viu o trailer, não terá surpresas, mas quem não viu, o impacto será maior enquanto assiste. Almut tem um câncer agressivo e o filme não esconde um destino já previsto. E, mesmo assim, a trama consegue trazer momentos incrivelmente delicados, divertidos e leves em meio a uma situação tragicamente traçada.
E se a história de Todo Tempo Que Temos é boa, fica ainda melhor com o protagonismo de Florence Pugh e Andrew Garfield, cujo match é perfeito. Há química, conexão e cumplicidade entre os personagens, que conseguem transmitir muito bem isso na tela. O público sente as dores e as alegrias do casal, torce por eles, mesmo ciente de que haverá um ponto final para um deles. E ainda assim, temos a esperança de um final feliz ao estilo conto de fadas, mas a verdade é que a realidade não é bem assim, e a vida continua seguindo, mesmo com os percalços e ciclos sendo encerrados.
Considerações finais
Todo Tempo Que Temos entrega um desfecho agridoce, que nos mostra que o inevitável acontece. A partida de Almut não é desenhada da forma tradicional que estamos acostumados. A cena final desta família é metafórica, ao vermos Almut performando lindamente na patinação de gelo, se despedindo da filha e de Tobias do outro lado da quadra, feliz por ter vivido uma vida plena e de conquistas, ciente de que deixou um legado, uma marca para a filha e o marido, que ficarão bem.
Todo Tempo Que Temos é um romance singelo e pé no chão sobre uma história de amor que diverte em sua leveza, mas também emociona na medida certa ao tecer uma teia de memórias sobre a vida como ela é. É o retrato sobre as experiências que vivemos, que não devem passar despercebidos.
Ficha Técnica
Todo Tempo Que Temos
Direção: John Crowey
Elenco: Florence Pugh, Andrew Garfield, Grace Delaney, Lee Braithwaite, Aoife Hinds, Adam James, Amy Morgan, Douglas Hodge, Lucy Briers, Niamh Cusack, Robert Boulter e Matt Kennard.
Duração: 1h48min
Nota: 3,9/5,0