Venom: A Última Rodada (Venom: The Last Dance). encerra a trilogia Venom da mesma forma farofada que começou. De fato, este é melhor que o segundo filme, mas ainda assim, nenhum deles se leva a sério, e nem o espectador deve levar. O terceiro longa marca a despedida de Eddie e simbionte em uma história não bem desenvolvida, com ação, cenas bregas, momentos interessantes (e que poderiam ser melhores) e um desfecho até OK.
Mesmo que tenha começado capenga e derrapado bastante no meio do caminho, a trilogia Venom ganha um desfecho aceitável. Segue o mesmo percurso desde que começou, ainda que com pequenas melhorias, mas nada muito significativo.
Com direção de Kelly Marcel, Venom: A Última Rodada parte dos eventos finais em que Eddie e simbionte estão no México e, temporariamente, são levados para outro universo – como vemos nas cenas pós-créditos de Venom: Tempo de Carnificina e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa – e retornam ao universo original para dar continuidade à sua história.
Com isso, Eddie Brock descobre que está sendo procurado pelas autoridades após a morte do detetive policial Patrick Mulligan (Stephen Graham) no segundo filme (mas descobrimos que não está morto). Enquanto isso, cientistas e o exército americano estão à procura deles para detê-los e, ainda, ter a chance de analisar de perto o poder desse simbionte.
Para completar, tanto os protagonistas quanto o público recebem a informação de que o vilão Knull – o temido criador dos simbiontes – está à procura de Venom, já que ele é a chave para libertar este terrível líder, que vai pôr em risco a vida na Terra em nome da sua liberdade e do poder. Assim, ele envia criaturas malignas capaz de detectar o Córtex, um poder originado entre simbionte e hospedeiro. A verdade é que para libertar Knull, é preciso destruir o Córtex e, para isso, Eddie ou simbionte precisam morrer.
Quando o filme estabelece as tramas que serão acompanhadas, cria-se uma expectativa plausível, mas que é derrubada aos poucos quando notamos a falta de aprofundamento e plots desnecessários.
Para começar, o filme apenas apresenta o vilão Knull preso e a justificativa para sua prisão, uma vez que os simbiontes viviam à mercê de sua maldade. Em nenhum momento, o vilão consegue sair do local, usando apenas do artifício de enviar criaturas capangas para caçar e matar o Venom. O espectador ainda fica à espera de que o vilão possa chegar à Terra para um conflito grandioso entre ele e o protagonista, mas isso não chega a acontecer.
Em outra subtrama, vemos Venom e Eddie sendo procurados pelas autoridades, especificamente pelo exército liderado por Rex Strickland (Chiwetel Ejiofor), que recebe ordens de um superior cuja identidade não é revelada. O propósito é levar o simbionte até a Área 51, famoso local por analisar e guardar seres alienígenas, antes de ser totalmente destruído.
O laboratório da Área 51 é liderado pela Dra. Payne (Juno Temple) que, desde nova, sempre carregou o sonho de seguir na ciência e analisar os segredos por trás destes seres. E tal objetivo fora alimentado junto com o seu irmão, que morreu ainda novo por conta de um raio que atingiu os dois, deixando a personagem com o braço imobilizado e cheio de cicatrizes.
A verdade é que o plot em si é fraco e somente faz o espectador entender a razão para a cientista ter o problema no braço. De resto, não acrescenta em mais nada à história. E com relação aos demais simbiontes, o filme foca na obsessão da Dra. Payne em analisá-los, que logo aumenta quando os cientistas e o exército descobrem sobre a possível chegada de Knull e a destruição que a Terra pode sofrer. E não foge disso.
Enquanto vemos estes percalços internos, Venom: A Última Rodada faz uma ‘road trip’ desastrosa com Eddie e simbionte, uma vez que Nova York possa ser um local seguro para eles. E ao longo do caminho, os dois encaram grandes riscos, com direito a cenas de ação até que bem feitas, cenas bregas e momentos de calmaria antes o ápice final acontecer.
E o que não falta neste terceiro filme é uma aventura doida e assistível, com direito à animais ao estilo Venom (Venom cavalo, sapo), andando de avião pelo lado de fora, perseguição na água, entre outros. A road trip até Las Vegas conta com uma família nômade, em que o pai (Rhys Ifans) tem o grande desejo de ver um alienígena pessoalmente. Esta troca que Eddie tem com a família é interessante, uma conexão singela, juntamente com um instante de calma que o protagonista necessita desde o primeiro filme.
Aliás, para quem não captou a referência, o ator Rhys Ifans interpretou o vilão Lagarto na franquia O Espetacular Homem-Aranha. Por estar em outro universo, ele retorna em outro papel, reforçando o multiverso e a possibilidade de os filmes trazerem os mesmos atores com personagens diferentes. Robert Downey Jr é outro já confirmado para retornar como Doutor Destino.
Crítica: Venom – Tempo de Carnificina
Dito isso, Venom: A Última Rodada aproveita deste encerramento para criar uma despedida de Eddie e simbionte, desde momentos caóticos até bregas, como quando Venom dança com a Sra. Chen em uma suíte de luxo, além da promessa de levá-lo para conhecer a Estátua da Liberdade em NY.
Ainda que com momentos meramente agradáveis, a verdade é que a narrativa apresenta as subtramas, segue uma linha base, mas esquece completamente de se aprofundar no desenvolvimento, entregar boas conexões e coerência ao que está sendo mostrado. No fim das contas, há lapsos na história, plots desnecessários e um grande mal aproveito de toda a trama.
Tom Hardy se encaixou bem no papel e gosto dele como Venom, entregando uma atuação até satisfatória. No entanto, quando não se tem um roteiro bem elaborado, automaticamente acaba afetando todo o resto. Ainda assim, Venom é um personagem para não levar a sério, o que não significa que não mereça uma história bem construída.
O ápice final gira em torno da Área 51, onde tudo acontece. Uma sequência interessante que ocorre aqui é quando os simbiontes transformam os cientistas e funcionários do local em hospedeiros, em que o público se depara com várias versões de Venom, o que é genial. No entanto, a cena de luta é bagunçada e caótica, algo que poderia ter sido menos apressado, antes de dar continuidade ao conflito, para que o espectador apreciasse os novos ‘Venom’, justamente por serem legais e chamarem a atenção.
E esses simbiontes tentam ajudar a derrotar as criaturas para que Knull não seja liberto, acarretando em explosões, tiroteios, perseguições e fugas alucinantes. Até a família nômade entra na briga, realizando o sonho de ver um alienígena de perto. Isso soa como um grande absurdo, mas o plot de Eddie e a família é o que há de mais real e palpável na história. É o que mais gostei.
Considerações finais
A reta final de Venom: A Última Rodada culmina em um desfecho já esperado: a despedida de Eddie e Venom. Para salvar o hospedeiro parceiro, o simbionte se sacrifica em uma grande explosão para derrotar as criaturas, destruindo toda a Área 51.
Enquanto luta e foge, a Dra. Payne consegue colocar as mãos em um simbionte sobrevivente, que a torna na nova hospedeira, deixando uma ponta solta de que há um simbionte vivo na Terra.
Por fim, Eddie finalmente tem o controle do seu corpo, retoma a sua vida novamente e recebe o perdão das autoridades em troca do seu silêncio. Ainda assim, a conexão que tinha com Venom gera saudades do amigo simbionte, o que o faz realizar a última promessa de ir visitar a Estátua da Liberdade.
Venom: A Última Rodada é melhor que o segundo filme, se salva com boas cenas de ação, um CGI satisfatório e uma despedida até que decente entre protagonista e simbionte. No entanto, o desfecho poderia ter sido mais digno se a história ganhasse um desenvolvimento mais cuidadoso.
No fim das contas, a trilogia Venom termina como começou: uma grande farofada com grandes derrapadas ao longo do caminho.
Cenas pós-créditos
Venom: A Última Rodada tem duas cenas pós-créditos, sem uma delas apenas meramente relevante. A primeira cena revela o rosto do vilão Knull, que promete voltar para destruir tudo. E isso pode acontecer, pois o Córtex foi destruído com a morte do simbionte preto, que se sacrificou para salvar Eddie.
A segunda cena pós-créditos mostra que o bartender (Cristo Fernández) – capturado pelo exército no começo do filme – sobreviveu a todo massacre na Área 51. Ele sai do local perdido, sem saber exatamente o que aconteceu. Logo em seguida, vemos uma barata viva, confirmando o que a Dra Payne fala, de que ‘baratas sobrevivem a quase tudo’. E ao lado da barata, há um tubo que armazenava um dos simbiontes adquiridos pelo exército.
Ficha Técnica
Venom: A Última Rodada
Direção: Kelly Marcel
Elenco: Tom Hardy, Chiwetel Ejiofor, Juno Templo, Rhys Ifans, Stephen Graham, Cristo Fernández, Peggy Lu, Alanna Ubach, Clark Backo, Hala Finley, Dash McCloud, Brooke Carter, Otis Winston e Ivo Nandi.
Duração: 1h49min
Nota: 2,2/5,0