Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: The Rise of Skywalker) traz o desfecho da terceira trilogia de uma das sagas mais icônicas do cinema. Mas falar de Star Wars é um pouco difícil não pelo filme em si, mas pela legião de fãs conquistada. Ora podem ser ferrenhos ao defender a história; ora podem ser compreensíveis, continuar amando a franquia mesmo com os seus pontos altos e baixos.
Desta vez, Star Wars divide opiniões e sentimentos, uma vez que a nova trilogia começa bem, desperta críticas ariscas com o segundo filme e, agora, cria-se uma divisão com o terceiro filme. É bom? No geral, sim, mas ao prestar a atenção no que, de fato, quer se contar, o desfecho entrega explicações incoerentes e com falhas em meio à nostalgia, cenas de brilhar os olhos e uma despedida agridoce.
Star Wars: A Ascensão Skywalker começa com Kylo Ren e seu exército em busca de quem está por trás de toda a manipulação que vimos desde o primeiro filme, uma vez que Snoke é derrotado ao final do segundo longa. Aqui, fica a dica de que, para chegar ao destino que será importante para muitos personagens, é necessário encontrar um instrumento capaz de guiar ao local correto, uma das válvulas para o início da guerra final. Enquanto Kylo segue com sua mais nova missão, Poe e Finn viajam pelo espaço enquanto Rey permanece na Terra dando continuidade ao seu treinamento Jedi, comandada por sua mestre General Leia. É a partir daqui que toda a história ganha um desenvolvimento que fará muitos ficarem divididos. Não se preocupem, pois, a partir daqui será spoiler e isso ficará por conta de cada um que queira saber mais sem assistir ao filme.
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De um modo geral, Star Wars: A Ascensão Skywalker não é um filme completamente ruim, uma vez que o diretor JJ Abrams consegue “manipular” ao entregar um fan service de extremo peso, momentos recheados de nostalgia, referências clássicas aos filmes anteriores e cenas de lutas com sabres de luz que enchem os olhos do público. De fato, é possível sim se emocionar, se sensibilizar em momentos cruciais e torcer para os personagens e para que o filme entregue o melhor final possível.
Sinceramente, não se sinta mal por gostar do Episódio 9, aliás, nunca se sinta por mal gostar ou não de um filme. Mas como crítica, tenho que ressaltar que, mesmo tendo gostado do filme, é nítido observar alguns tropeços no desenvolvimento do roteiro, falhas que, a meu ver, não deveriam ter acontecido em uma trilogia que merecia um desfecho mais honesto e digno. É bom, mas poderia ter sido melhor, bem melhor.
Uma das grandes ressalvas deste filme é que quebra toda a história construída desde O Despertar da Força, aliás, vai contra o que foi construído desde os primeiros filmes. Um dos pontos mais duvidosos de A Ascensão Skywalker é o retorno do vilão Palpatine. O problema não está no retorno do personagem e, sim, em como e a razão dele voltar, sendo que o filme, em nenhum momento, construiu uma narrativa base que pudesse trilhar este retorno. Palpatine simplesmente está de volta e descobrimos que é ele quem está por trás de toda a manipulação com Kylo Ren. Ele deseja retornar com os Sith e, por sinal, ainda conta com um enorme exército em seu esconderijo. De onde surgiu tantos seguidores? Como ele conseguiu ficar escondido por tanto tempo? O filme simplesmente joga o fato na tela, sem nenhuma contextualização, apenas com o intuito de que o espectador aceite o que está acontecendo.
A partir deste fato, o filme toma uma série de decisões que afeta o desenvolvimento da história, seja positiva ou negativa, dependendo do ponto de vista de quem assistir. De exemplo, temos a tão esperada revelação sobre a origem de Rey, discutida e deixada em aberto sobre ela ser alguém ou simplesmente ninguém. Em Os Últimos Jedi, havia deixado claro sobre não relatar mais o seu passado, no entanto JJ Abrams volta atrás para mostrar o que realmente aconteceu com os pais da protagonista e quem ela é de fato o que, novamente, deixa o público dividido, uma vez que se descobre de qual família ela pertence. Aqui fica a dúvida: teria sido melhor não saber? Será que não haveria outra possibilidade para esta revelação? Será que tudo seria diferente se a origem de Rey fosse outra? Uma vez com a decisão tomada, temos um desenrolar frenético da trama, com cenas abruptas e resoluções fáceis e sem muita coragem.
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Em alguns momentos, Star Wars: A Ascensão Skywalker incomoda com cortes bruscos entre cenas, especialmente quando o público começa a imergir em determinado momento e, logo, é jogado para outra cena e diferente situação. Há uma quebra de clima que se torna um pouco cansativa no início, mas que é reduzida da metade ao final.
Outro ponto que – analisado friamente e clinicamente – fica a desejar são algumas decisões que, ao final, perdem completamente a coragem. Há situações que levam para possíveis mortes e sacrifícios, no entanto, o filme engana tanto os personagens quanto o público quando tal decisão é revogada, ou seja, você acredita que algo aconteceu com determinado personagem, mas depois ele está são e salvo. Tais situações como esta tiram a credibilidade e mostra não saber o que realmente quer.
Personagens
Os desfechos para alguns personagens são satisfatórios, enquanto outros ganham um novo caminho que, ao final, é decepcionante. Rey (Daisy Ridley) evoluiu, está mais forte e com uma força ainda mais desperta que surpreende o público. Ela está sempre um passo à frente de todos para querer chegar ao destino, derrotar o inimigo, acabar com a guerra e equilibrar tudo novamente, mas, às vezes, isso incomoda, pois ela sempre deixa o grupo para trás como se não importasse com mais nada, e isso realmente é um pouco chato de acompanhar. A origem da Rey é obrigatoriamente aceitável e muito duvidosa, uma vez que não temos uma narrativa base para uma compreensão maior por trás da árvore genealógica da personagem.
Junto com Rey está sempre Finn e Poe que, juntos, entregam cenas divertidas e com boas aventuras, seja pilotando em meio ao combate, ou em lutas na terra. Individualmente, eles crescem pouco na trama. Se em Os Últimos Jedi, Finn (John Boyega) ganha um arco que não acrescenta em quase nada na trama, em A Ascensão Skywalker, ele torna-se mera sombra da Rey, sempre indo atrás dela a fim de trabalhar em grupo, enquanto a própria sempre resolve as coisas sozinha. Já Poe (Oscar Isaac) tem uma evolução um pouco melhor, em que descobrimos um pouco sobre seu passado e ainda apresenta um bom amadurecimento.
De todos, Kylo Ren (Adam Driver) é que o tem a melhor evolução como vilão e redenção como Ben Solo, por todos os erros que cometeu desde O Despertar da Força, especialmente ao que ele fez com o pai, Han Solo (Harrison Ford). O filme tenta deixar de lado a vilania do personagem, mas felizmente não comete este erro, dando um final justo ao antagonista.
A ilustre General Leia (Carrie Fisher) tem um dos desfechos mais singelos, emocionantes e bonitos, dando um final justo e digno a uma das personagens icônicas do cinema. Mark Hammil tem participação única e mínima, que também poderá dividir opiniões.
Star Wars: A Ascensão Skywalker conta também com participações especiais de Lando Calrissian (Billy Dee Williams), Zori Bliss (Keri Russell) e Jannah (Naomi Ackie). São personagens coadjuvantes que acrescentam pouco à trama, mas que não prejudicam em nada.
Já o General Pryde (Richard E. Grant) e o General Lux (Domnhall Gleeson) ganham desenvolvimentos abruptos devido às decisões repentinas que o roteiro entrega para estes personagens. Alguns podem gostar, outros nem tanto.
Uma das grandes decepções é o desenvolvimento da personagem Rose (Kelly Marie Tran), que mesmo apresentada em um arco estranho em Os Últimos Jedi, ela mostrou força, disposição e coragem para lutar. Em A Ascensão Skywalker, Rose fica escondida, não se propõe a participar de viagens ao lado de Finn e do grupo, sempre ficando à espreita e ajudando nos bastidores. O que fizeram com ela? Por que tomaram uma decisão tão ruim para esta personagem? Uma pena terem desperdiçado tal potencial.
Considerações finais
O desfecho vai dividir opiniões e sentimentos. Ora vai satisfazer e emocionar alguns, mesmo com as falhas; ora vai frustrar outros devido a todas decisões tomadas durante o filme. Star Wars: A Ascensão Skywalker traz cenas de lutas épicas, efeitos especiais deslumbrantes, entrega o extremo do fan service e referências aos demais filmes da saga do começo ao fim. No entanto, a história poderia ter menos falhas, decisões mais contextualizadas e corajosas e personagens cujo potencial não deveria ter sido excluído.
Star Wars: A Ascensão Skywalker é um desfecho, no geral, bom, mas que poderia ter sido melhor. Da trilogia, O Despertar da Força continua sendo o favorito.
Ficha Técnica
Star Wars: A Ascensão Skywalker
Direção: JJ Abrams
Elenco: Daisy Ridley, Adam Driver, John Boyega, Oscar Isaac, Ian McDiarmid, Kelly Marie Tran, Billy Dee Williams, Naomi Ackie, Joonas Suotamo, Keri Russell, Richard E. Grant, Domhnall Gleeson, Lupita Nyong’o, Mark Hamill, Carrie Fisher e Billy Lourd.
Duração: 2h22min
Nota: 7,0