Ron Bugado (Ron’s Gone Wrong) é a mais nova animação da 20th Century Studios que vai te encantar do início ao fim com uma história envolvente sobre amizade e a construção de relacionamentos nos tempos da tecnologia, que garante momentos divertidos, boas risadas e cenas emotivas para dar o famoso ‘quentinho no coração’. A trama traz uma mistura de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas com Free Guy, e se você já assistiu e gostou dessas duas produções, talvez Ron Bugado também entre para sua lista de bons filmes.
Com direção de Jean-Phillipe Vine, Sarah Smith e Octavio Rodriguez, Ron Bugado inicia com uma mega apresentação ao estilo da Apple em que a grande multinacional Bolha apresenta o seu mais novo gadget que promete revolucionar as relações sociais, o novo B-Bot, um robô que se tornará o seu melhor amigo, capaz de saber tudo sobre seu usuário a partir do compartilhamento nas redes sociais. Este novo algoritmo garante o match perfeito para que pessoas conquistem amigos que tenham os mesmos gostos, sonhos e favoritismos.
Os B-Bots se tornam uma febre unânime principalmente entre as crianças, menos para Barney, um garoto antissocial do ensino fundamental que sente grande dificuldade em conhecer novas pessoas, enquanto antigas amizades se afastaram com o tempo. Com todos envolvidos com os seus novos B-Bots, Barney se sente ainda mais fora da caixa, sem ter o motivo principal para se aproximar da garotada da sua escola.
No dia do seu aniversário, Barney tem o seu desejo realizado e ganha um B-Bot do pai, porém, o encanto pelo presente logo acaba quando o garoto descobre que seu robô não é igual aos outros, uma vez que um pequeno acidente o deixou defeituoso e com seu software desconfigurado. Agora, cabe ao Barney descobrir como arrumá-lo para torná-lo o seu novo amigo, mas esta jornada promete muitas confusões e grandes descobertas em uma amizade improvável entre garoto e robô.
Crítica: A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
Logo de cara, já quero enaltecer o ótimo visual da animação, que ganha tons coloridos e neutros como branco e azul, além de traços encorpados e fortes, como costuma-se ver nas animações da Pixar (aliás, o diretor Jean-Phillipe é veterano do estúdio Pixar). Além disso, a experiência de assistir esta animação dublada é ótima, pois nota-se o cuidado ao adaptar as piadas e gírias com o toque abrasileirado, rendendo diálogos ainda mais divertidos.
O Menino e o robô
O ponto alto de Ron Bugado, sem dúvidas, é a construção do relacionamento do Barney com o robô, o que garante várias confusões justamente pelo fato do defeito do Ron seja captar a essência do seu usuário, compreender e desfrutar destas informações para se tornar um amigo. Apesar de ser um robô, as funções desconfiguradas garantem que Ron ganhe uma essência mais humanizada, fugindo completamente do algoritmo desenhado com a simples função de fazer amigos no automático.
É a partir daqui que a animação constrói sua narrativa aos moldes de uma amizade simples e verdadeira, cheia de confusões e cenas que arrancam risadas espontâneas do público, como o fato de Ron entender errado o nome de Barney (sempre o chamando de Ambrósio); levar todas as frases ao pé da letra, sem compreender os trocadilhos ou o significado real de como fazer amigos virtualmente, uma vez que Ron procura por amigos para Barney no meio da rua, seja pedindo para olhar e comentar sua foto, curtir e solicitar a amizade ao vivo; colocar o garoto em situações desconfortáveis e constrangedoras, como queimar suas cuecas, dançar com a avó e, até mesmo, entrar em uma briga com o garoto encrenqueiro da escola, Ricardo, que adora trollar o pessoal para conseguir visualizações em seu perfil.
Mas é desta forma que Ron Bugado mostra o significado real de amizade e como a tecnologia corrompe a essência dos relacionamentos. Por mais que os momentos sejam engraçados, a trama também faz o público compreender as motivações para Barney ser um garoto solitário, uma vez que ele perdeu a mãe muito cedo e faz parte de uma família russa divertida, morando com a avó que lhe dá muito amor e garante que o neto tenha o melhor dentro de casa, enquanto o pai se esforça no trabalho para oferecer o que há de melhor ao filho.
Crítica: Free Guy – Assumindo o Controle
No entanto, a falta de comunicação entre os três, além da ausência da figura materna, faz Barney guardar para si todos os seus sentimentos, frustrações, medos, inseguranças, impedindo dele se abrir para a família e novas relações. É Ron quem faz o garoto, finalmente, sair do seu casulo que não o deixa ser feliz.
Tecnologia vs relacionamento
Enquanto que A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas critica a alienação do homem com relação à tecnologia, Ron Bugado faz questão de retratar em como a tecnologia corrompe os relacionamentos interpessoais, em que as pessoas constroem o seu círculo social na base da superficialidade, acreditando que visualizações, curtidas e sucesso nas redes sociais é sinônimo de amor, carinho e amizade verdadeira.
Claro que não se pode tirar o mérito de que a tecnologia ajuda a aproximar as pessoas e criar laços interessantes e fortes, mas também não se pode vendar os olhos e acreditar veemente que tudo são flores e todo mundo é feliz, afinal, nem tudo é o que parece ser em uma telinha brilhante.
E isso é perfeitamente exemplificado pelos colegas de Barney na escola, em que Savannah dedica seu tempo para alimentar as redes sociais, garantindo sua popularidade; Ricardo prepara pegadinhas com as pessoas para manter suas visualizações lá em cima e seu sucesso na internet. Em contrapartida, vemos o próprio Barney ir para o caminho oposto, em que a amizade com um robô se torna mais interpessoal e humanizada.
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Enquanto isso, vemos a empresa Bolha se debruçar para capturar Ron, uma vez que ele se torna uma ameaça ao objetivo do B-Bots idealizados pelo CEO Marc, que tem boas intenções em ajudar a construir boas relações entre as pessoas com o seu algoritmo, enquanto o CEO André demonstra apenas ambição e poder, além do desdém com os usuários dos gadgets, um personagem bem antipático e irritante.
Considerações finais
O terceiro ato de Ron Bugado ganha proporções maiores em que vemos Barney correr contra o tempo para impedir que o software de Ron desapareça para sempre. A reta final faz lembrar ‘A Família Mitchell’ e ‘Free Guy’ e emociona bastante quando o público se depara com o altruísmo e a bondade de Barney e Ron em compartilhar o que há de melhor deles para quem precisa, garantindo uma recompensa ainda maior ao protagonista: amizades verdadeiras e bons relacionamentos.
No entanto, o desfecho se estende um pouco mais do que o necessário, podendo ter sido mais enxuto, mas isso não tira o mérito de toda a construção da trama.
Ron Bugado é uma animação que acerta no visual, nos diálogos divertidos e na ótima dublagem brasileira. Mais do que isso, o filme cativa o público com personagens carismáticos e uma história descontraída e emocionante sobre a amizade de um menino e seu robô, em que os defeitos se tornam as melhores qualidades. Fica aqui a dica de mais uma animação doce, envolvente e boa sobre relacionamentos nos tempos de tecnologia.
Ficha Técnica
Ron Bugado
Direção: Jean-Phillipe Vine, Sarah Smith e Octavio Rodriguez.
Elenco de dublagem: Zach Galifianakis, Jack Dylan Grazer, Olivia Colman, Ed Helms, Justice Smith, Rob Delaney, Kylie Cantrall, Ricardo Hurtado, Marcus Scribner, Thomas Barbusca, Tenley Molzahn, Ava Morse e Iara Nemirovsky.
Duração: 1h46min
Nota: 8,0