Neste vasto mundo das animações, pode-se considerar Pé Pequeno (Smallfoot) mais um acerto do cinema, não só em termos de ótima produção e design, mas também por desdobrar uma história genérica em boas lições de vida, fugindo completamente do clichê sobre amizade, amor e família.
Dirigido por Karey Kirkpatrick, o filme acompanha as aventuras de Migo, um jovem e genial yeti que vive feliz em sua comunidade no alto das montanhas geladas ao lado de sua família e seus amigos. Seu grande sonho é seguir os passos de seu pai, um grande tocador do gongo que faz o sol nascer e despertar todos os dias no local. Todos da cidade seguem as regras e leis descritas nas sagradas pedras, pois são elas que ditam o certo e o errado, fazendo tudo funcionar ao seu redor. Um dia, acidentalmente, Migo encontra um ‘pé pequeno’, um fato que, até então, era apenas uma lenda para o seu povo. Ao retornar para casa, ele revela que há muito mais coisas além das montanhas, deixando todos surpresos. No entanto, Migo precisa provar o que realmente viu e, assim, ele vai contar com a ajuda inesperada de um grupo de amigos que vão fazer de tudo para abrir a mente da comunidade dos yetis.
Pé Pequeno abraça a trama e os elementos clichês e entrega uma história cativante e formidável que foge da tradicional fórmula sobre amor e amizade, como já vimos em muitas animações. Sob a lenda do famoso pé grande, o filme inverte a situação e transforma o ser humano em lenda para os yetis que, antes, somente ouviram falar. Assim que eles descobrem que o homem realmente existe, inicia-se a jornada do conhecimento e da quebra de preconceitos, uma vez que o encontro entre Migo e Percy cria laços afetivos, mesmo que o início tenha sido um pouco estranho, uma vez que essa reunião torna-se surpreendente para ambos.
É a partir daí que a animação dá saltos positivos, pois o roteiro explora não só a amizade entre o homem e o yeti, como também desenvolve bem a linha de raciocínio sobre as diferenças entre espécies, a quebra de padrões, o direito de adquirir novos conhecimentos, ter a mente aberta para novas ideias e, por último, a importância de saber escutar o outro. Todos esses pontos são abordados de forma leve, agradável, divertida e com ótimas ‘indiretas’, como é o caso quando Percy mostra só se importar com sua imagem, visibilidade e sucesso na internet e, para isso, faz de tudo para ir atrás do Pé Grande; Já Migo arrisca sua moradia, amizades e até o laço com o seu pai para provar a todos que está dizendo a verdade, colocando o próprio líder da comunidade, o Guardião das Pedras, contra a parede, uma vez que ele prega sempre a mesma verdade, sem dar a chance de escutar o que o próximo tem a dizer ou, pelo menos, saber se os outros têm o direito de novas repostas, novos saberes.
As diferenças entre espécies é algo já declarado e Pé Pequeno aborda isso em uma cena musical formidável, misturando rap com momentos sombrios ao revelar a verdade por trás do homem e do yeti. Pra mim este é um dos melhores plots do filme. Aliás, há outras cenas musicais bonitas que fortalecem o desejo de Migo em explorar o que há além das montanhas e estreitar as amizades que tem.
Os personagens são cativantes e cada um se destaca com seu jeito peculiar e divertido como é o caso de Migo, a audácia, esperteza e curiosidade de Meeche, a acidez e a sinceridade de Fleem, a gratidão e o amor paterno de Dorgle, a liderança do Guardião das Pedras; a sede de conhecimento e a mente aberta de Gwangi, a irreverência de Kolka, entre outros. É possível se identificar com cada um deles.
Outro ponto positivo é a dublagem brasileira que está ótima e, acredito que a dublagem original também esteja, uma vez que conta com as vozes de Channing Tatum, Zendaya, James Corden, Danny DeVito, Gina Rodriguez, Common, LeBron James, Yara Shahidi, entre outros. Quem tiver a oportunidade, veja na versão original também.
Assista ao primeiro trailer de X-Men: Fênix Negra
Além disso, outro ponto que deve se levar em conta é o fato da animação não forçar que as espécies entendam a linguagem um do outro, pelo contrário, o filme faz questão que os personagens encontrem novos meios de compreensão – seja por mímica, desenhos e atitudes – tornando o conhecimento ainda maior e quebrando todas as camadas do preconceito entre homens e yetis. No entanto, a forma como cada espécie escuta um ao outro é engraçada demais. A cena de Migo discutindo com a ursa dentro da caverna é sensacional.
Considerações finais
Pé Pequeno é mais um acerto no universo das animações por aproveitar um tema até então clichê e desdobrá-lo em assuntos de suma importância como preconceito, diferenças entre espécies, quebra de padrões, o direito de escutar, adquirir novos conhecimentos e ter novas ideias, sem deixar de fora o clima de amizade, amor e família, o trio tradicional que ajuda a história a caminhar gradativamente.
Pé Pequeno é aquele filme que entra para a lista de ótimas animações do ano.
Ficha Técnica
Pé Pequeno
Direção: Karey Kirkpatrick
Elenco (dublagem): Channing Tatum, Zendaya, James Corden, Common, LeBron James, Danny DeVito, Gina Rodriguez, Yara Shahidi, Patricia Heaton, Justin Rolland, Jack Quaid, Sarah Baker e Jimmy Tatro.
Dublagem brasileira: Wellignton Muniz
Duração: 1h37min
Nota: 7,9