As produções brasileiras crescem cada vez mais na Netflix, e a primeira a deslanchar em 2021 é Pai em Dobro, uma comédia infanto-juvenil estrelada por Maisa Silva que, por sinal, é o seu primeiro trabalho oficial e original no serviço de streaming ao lado de Thalita Rebouças, autora de sucesso e roteirista do longa que vai agradar ao público mais jovem, porém, pode ser que não conquiste todo mundo.
Na trama, vamos acompanhar Vincenza (Maisa), uma jovem criada em uma comunidade hippie que acaba de completar 18 anos. Seu maior sonho é saber a verdadeira identidade de seu pai, mas sua mãe (Laila Zaid) se recusa a dizer uma vez que ela alega que a filha ainda não está preparada para saber quem ele é.

Com a partida temporária de sua mãe para Índia, acidentalmente, Vincenza encontra uma foto de sua mãe com um rapaz, na mesma época em que a garota nasceu. Ao fazer as contas, ela está convicta de que Paco seja o seu pai e, assim, ela dá início a sua aventura na cidade grande do Rio de Janeiro para, finalmente, conhecê-lo. Mas coisas novas e outros obstáculos acabam aparecendo.
Pai em Dobro ganha um roteiro original de Thalita Rebouças, que depois transformou a trama em livro, que já pode ser adquirido pela Editora Rocco. Rebouças tem um texto afiado, jovial e divertido, um ponto fortíssimo da autora que acerta no público-alvo: infanto-juvenil.
É possível que até adultos se divirtam e deem boas risadas em certos momentos, com diálogos engraçados e a forma como os personagens são descritos, a começar pelo nome completo de Vincenza que, por sinal, é quase impossível de decorar e falar e engraçado de ouvir. Além disso, é interessante como a comunidade hippie é construída, desde as casas, os figurinos, até os costumes, a cultura e o linguajar que usam, trazendo uma personalidade única para essa ambientação na qual a protagonista foi criada e que levará consigo para a aventura na cidade grande. Junto a isso, o roteiro também trabalha o lado sincero da personagem como alívio cômico no filme, o que dá certo.
Mas qual é o problema de Pai em Dobro? Por mais que o filme seja para o público jovem e foque em mostrar o que há de melhor para a protagonista, como a busca de suas origens (nada contra isso), as resoluções são fáceis demais e muito fantasiosas, fazendo com que a trama seja menos realista e sonhadora demais. Novamente, é possível ter como objetivo os sonhos a serem alcançados em uma história, porém, é necessário que tenha certa cautela para que as coisas não se tornem um pouco absurdas, como é o caso deste roteiro.

As coisas para Vincenza acontecem rapidamente e tudo dá certo como se fosse um conto de fadas: a garota, que nunca viajou para cidade grande, facilmente vende sua bicicleta, compra uma passagem, viaja sozinha, dorme no terminal de ônibus (sorte que ela não foi assaltada e nem roubada) e, por destino do universo e a bondade das pessoas, ela chega à casa de Paco, seu possível pai.
Por um momento, o filme coloca os pés no chão ao explorar a relação de Vincenza e Paco, que ganha uma boa interpretação de Eduardo Moscovis ao entregar um artista perdido, com a criatividade bloqueada e com sentimento constante de fracasso. O encontro assusta Paco, que chega a ser rude com a garota, mas aos poucos, ele aceita a aproximação e tenta entender a paternidade, algo que nunca almejou para si, mas está curtindo a ideia de ter uma filha em sua vida. Acompanhar a dupla traz um frescor ao espectador que cria empatia e torce por eles.
No entanto, o público se depara com a surpresa de outro personagem ser o pai (daí o título do filme, né?), que faz Vincenza ficar dividida, mas novamente toma decisões imediatas que faz novamente a trama ganhar resoluções fáceis e absurdas.

Ao conhecer Giovanni (Marcelo Médici), um empresário de sucesso, a ligação de pai e filha acontece imediatamente, o que pode fazer alguns torcerem o nariz. Como uma garota se aproxima tão rápido de um homem, que só viu em foto e não sabe quem ele é de verdade. Assim como Vincenza, Giovanni também aceita facilmente a ideia de ter uma filha, a ponto de fazer passeios, jantares caseiros e até planejar uma viagem com alguém que conheceu há pouquíssimo tempo.
Como disse, Pai em Dobro voa alto demais em vários momentos com o objetivo de trazer a felicidade imediata para a protagonista, o que pode ser um incômodo para alguns. Mesmo com as ressalvas, é um filme agradável de assistir, que traz diversão, novas amizades e um amor para Vincenza quando ela conhece a galera da pensão que planeja fazer o bloco para o carnaval que está chegando.

O filme tem participações especiais de Fafá de Belém como a Mãe Lua, Roberto Bonfim e a influencer Thaynara OG. São participações mínimas e agradáveis.
Considerações finais
Claro que a reta final é regada de confusão e mentirinhas por conta da indecisão de Vincenza em saber a verdade sobre quem é seu pai. Mas o final traz uma resolução até que boa e bem sonhadora, assim como foi todo o desenvolvimento da história, mas que agradará o público certo do filme, como os mais jovens e fãs de Maisa e Thalita Rebouças.
Ficha Técnica
Pai em Dobro
Direção: Chris D’Amato
Elenco: Maisa Silva, Eduardo Moscovis, Marcelo Médici, Laila Zaid, Pedro Ottoni, Fafá de Belém, Roberto Bonfim, Thaynara OG, Rayana Diniz e Caio Vegatti.
Duração: 1h43min
Nota: 6,0