Cinderela Pop traz a releitura de um dos maiores clássicos dos contos de fada: da gata borralheira, mas que de borralheira não tem nada. É moderna, independente, inteligente e estudiosa, cujo maior sonho é poder estudar produção musical e ser uma DJ de sucesso. Mas há um pequeno detalhe: nossa princesa moderna desdenha do amor, ignora paqueras e acredita que “paixonites” adolescentes são bregas e tiram o foco de qualquer objetivo. No entanto, isso muda quando ela conhece alguém, fazendo sua vida dar um looping. E agora?
Dirigido por Bruno Garotti, a trama apresenta Cintia Dorella, uma garota rica, plena, cuja família é perfeita e totalmente romântica, até que no dia da festa de comemoração do casamento de seus pais, a garota flagra seu pai com a organizadora do evento, Patricia, uma mulher antipática, mal-educada e de nariz empinado. Além de destruir o relacionamento, acaba com toda a magia do amor que, um dia, Cintia acreditou. Dois anos após o ocorrido, a garota se encontra bem e, atualmente, mora com sua tia Elena enquanto sua mãe retoma a profissão de arqueóloga e parte para uma viagem a trabalho.
Além de retomar sua vida após os abalos dentro de casa, Cintia inicia um grande sonho que é se tornar DJ. As aulas com Rafael não só a ajudam a aprimorar suas habilidades com a música, como também lhe rendem as primeiras oportunidades de trabalho, porém, uma delas é tocar na festa das irmãs gêmeas Gisele e Graziele, filhas de Patricia e enteadas de seu pai. Para evitar que o patriarca descubra tudo, Cintia mantém sua identidade escondida, especialmente para Fredy Prince, cantor de sucesso que se vê apaixonado, pela primeira vez, pela DJ misteriosa.
Cinderela Pop é a primeira adaptação da obra da autora Paula Pimenta – que já contém uma série de livros publicados – e posso dizer que, no geral, o filme funciona bem, apesar de uma ressalva e outra. De início, é preciso deixar claro que tanto o longa quanto o livro têm como proposta ser infanto juvenil, trazendo uma narrativa mais jovial, romântica e divertida para o público pré-adolescente e adolescente, o que não impede de crianças e adultos assistirem também.
Por falar em releitura, o grande acerto da narrativa foi modernizar o conto sem perder a sua essência, muito menos deixar de lado elementos principais da história. Aqui, temos o trocadilho com o nome de Cinderela para Cintia Dorella ou DJ Cinderela, algo que o roteiro sabe brincar e acerta em cheio; a figura perfeita da madrasta e como ela aplica suas maldades com a enteada; o famoso vestido azul; a tia de Cintia que retrata a figura da fada madrinha; o icônico sapatinho de cristal transformado em um tênis all star personalizado; o primeiro encontro de Cintia e Fredy, que faz a gente lembrar da primeira dança da gata borralheira com o príncipe; os momentos finais e cruciais da história também ganham um toque moderno, sempre remetendo ao que já conhecemos do conto clássico.
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Outro ponto interessante é que o filme começa com duas narrativas, mostrando a mesma cena sob os pontos de vista de Cintia e Fredy com o intuito de dar uma visão mais detalhada para que o espectador tenha uma ótima compreensão sobre como será o encontro dos dois.
Se Cinderela acredita no amor, no príncipe e de que sua vida pode mudar, no filme, a história conversa com o público sobre os dilemas que Cintia sofre sobre ter perdido a fé e a credibilidade no sentimento. Ela não quer que isso atrapalhe seus sonhos, como se formar na escola e garantir sua passagem para estudar em outro país, mas no fundo, ela quer dar uma chance às emoções no instante em que conhece Fredy, mostrando que é possível equilibrar a razão e a emoção; já o rapaz, que sempre declara o amor em suas músicas, tem a chance de poder viver isso pela primeira vez, sem ficar somente nas palavras.
O filme também debate as questões do amor próprio, retratando a figura da Lara, melhor amiga de Cintia, que é apaixonada por um garoto que a ignora o tempo todo, de forma descarada e desrespeitosa; e da amizade verdadeira, tanto da dupla de amigas, quanto a de Fredy e a youtuber Belinha, amigos de infância que sempre apoiam um ao outro.
Infelizmente nem tudo são flores e Cinderela Pop dá algumas escorregadas principalmente nos diálogos, uma vez que eles são recheados de frases clichês e de efeito, o que prejudica um pouco até na atuação do elenco, além de ter algumas cenas fora de continuidade do que foi retratado e concretizado anteriormente.
Personagens
Maisa Silva é Cintia e, sinceramente, não consigo ver outra pessoa neste papel, uma vez que personagem e atriz se encaixaram perfeitamente. Cintia inspira aos outros por ser destemida, focada, inteligente e determinada em realizar os seus desejos. No quesito amor, ela é bastante teimosa, e ao lidar com a madrasta, ela bate de frente, mesmo que isso custe a relação estremecida com o pai e outros sofrimentos.
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Fernanda Paes Leme está ótima como madrasta e as maldades são impecavelmente ruins, a ponto de deixar o público angustiado e com raiva diante de suas atitudes maléficas, esnobes e egoístas. E isso não é só com a Cintia. Ela pega pesado com as filhas, especialmente Gisele, fazendo questão de provocar as vulnerabilidades da garota, como o fato dela não ser encanada com o corpo e ser uma garota normal, enquanto sua irmã Graziele, é um pouco desprovida de inteligência, superficial e rude, que só tem olhos para Fredy, fazendo-a ter um comportamento não apropriado.
Filipe Bragança entrega uma boa atuação e encarna um Fredy apaixonado, que expressa seus sentimentos na música, desejando poder viver isso de forma intensa e verdadeira. Sua amizade com Belinha é singela e o primeiro encontro com Cintia faz o público torcer para os dois, assim como no conto de fadas, mas sem tirar os pés do chão.
Outros dois que também ganham um bom destaque é a tia Elena com suas enrolações amorosas e conselhos engraçados e funcionais; e César, pai de Cintia, um homem mais racional que demora a enxergar o que realmente está passando com a filha e a madrasta.
Considerações finais
Cinderela Pop traz uma releitura moderna e infanto juvenil do conto de fadas, sem perder a essência e os elementos fundamentais desse clássico. As atuações estão boas, com destaque para a protagonista e a madrasta, porém o excesso de diálogos clichês e frases de efeito incomodam e deixam a desejar em alguns momentos. No geral, é um filme bom, leve, divertido e encantador.
Ficha Técnica
Cinderela Pop
Direção: Bruno Garotti
Adaptação da obra de Paula Pimentoa
Elenco: Maisa Silva, Filipe Bragança, Fernanda Paes Leme, Giovanna Grigio, Marcelo Valle, Miriam Freeland, Elisa Pinheiro, Sérgio Malheiros, Bárbara Maia, Letícia Pedro, Kiria Malheiros, Leo Cidade, Matheus Costa e Isabel Filardis.
Duração: 1h35min
Nota: 7,0