Há clássicos que é melhor deixá-los intocáveis. Mas há aqueles que ganham boas sequências que apresentam tal universo à nova geração, expandem a história e revivem tal nostalgia aos fãs veteranos.
Este é o caso de Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice que, no geral, agrada com uma trama divertida e um elenco fantástico que revive personagens clássicos que firmam sua simpatia ao público, enquanto os novos dão o ar da graça de forma positiva. É possível se envolver e dar boas risadas, mas, é notável que alguns pontos ficam a desejar no desenvolvimento da história. Ainda assim, vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Tim Burton retorna na direção de Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, que apresenta um upgrade em sua clássica assinatura, seja na ambientação, caracterização dos personagens, efeitos especiais e trilha sonora.
Desta vez, a trama leva o público novamente à famosa Casa Assombrada em Winter River para acompanhar três gerações da família Deetz. Lydia é adulta, apresentadora de um programa de TV sobrenatural e mãe da adolescente Astrid, cujo relacionamento anda desequilibrado entre as duas, desde a morte do marido de Lydia. Já Delia Deetz focou e cresceu com o seu trabalho de arte que, agora, faz sucesso.
No entanto, a morte do patriarca Charles Deetz abala a todos e obriga as três mulheres da família a se reunirem para o funeral, o memorial e a possível venda da antiga casa, que fora habitada e assombrada por fantasmas no passado, algo que Lydia ainda carrega consigo.
Quando Astrid conhece o jovem vizinho Jeremy (Arthur Conti), os dois logo se conectam, mesmo sendo opostos: enquanto o rapaz acredita em fantasmas e o universo sobrenatural, Astrid é avessa ao assunto, uma vez que este é o maior problema que distancia ela da mãe, além de não conseguirem falar sobre a morte do pai.
Mas quando Jeremy pede uma chance para provar que o pós-vida é real (e existe um motivo para isso), Astrid vai parar no mundo inferior sem saber o que realmente a espera. Ao descobrir que a filha “viajou” para o outro lado, Lydia não tem escolha, a não ser pedir ajuda para a única pessoa que pode resolver esta situação: Beetlejuice.
Mas é claro que todo favor tem o seu preço e, assim, o fantasma mais extravagante vai causar na vida da família Deetz mais uma vez. Enquanto isso, o próprio Beetlejuice vai desencadear uma série de confusões no submundo com o retorno de uma figura do seu passado, Delores, que deseja se vingar. E tal vingança desperta a atenção das autoridades do mundo inferior, liderados pelo detetive Wolf Jackson.
O primeiro ponto positivo de Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice é a progressão da estética, que fica mais moderna, sem perder aquela famigerada essência da estética de ‘filme B’ em cenas específicas, como a famosa cena dos vermes na areia.
Além disso, as referências do longa de 1988 se encontram nos detalhes, como a trilha sonora, figurinos, cenários, como a clássica Casa da família Deetz e, é claro, o mundo inferior.
A cidade Winter River ganha tons branco, cinza, marrom e toques coloridos com a chegada do Halloween, que até faz o espectador lembrar dos cenários das histórias de Stephen King, como Salem e o Maine. Já o Mundo Inferior ganha uma ambientação que vai além da famosa sala de espera para pegar a senha, com corredores e portas retangulares com ângulos tortos; chão quadriculado; tons preto e branco, além do esverdeado sombrio; mais salas, além da bilheteria e o trem da partida para as almas que se encontram ali.
Além disso, o espectador vai se deparar com figurinos, penteados e personagens do filme original, como o clássico vestido vermelho de Lydia e os famosos ajudantes Cabeça Encolhida, o que alimenta o lado nostálgico juntamente com todo o resto.
Em termos de história, Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice apresenta narrativas simultâneas que se conectam, mas sem aprofundamento. E é aí que as ressalvas são encontradas, um ponto que divide opiniões. No entanto, o filme sem salva muito pelo elenco e atuações fantásticas, especialmente dos veteranos.
De um lado, temos a relação de mãe e filha estremecida pela falta de crença de Astrid ao sobrenatural, enquanto Lydia é mergulhada neste assunto e ainda se vê assombrada pela figura de Beetlejuice. Jenna Ortega está muito bem no papel e entrega uma Astrid afetada por essa distância e a saudade do pai. Ela se conforta ao conhecer Jeremy, mas o encanto se quebra quando as verdadeiras intenções do rapaz são reveladas, levando-a ao desconhecido e perigoso, na qual a garota não hesita em lutar e resistir.
Winona Ryder continua fantástica como Lydia, que deixa a sua personalidade de gótica rebelde de lado na vida adulta para ser mãe, apresentadora e ainda namorar Rory, que trabalha no programa. Justin Theroux traz bom alívio cômico com o seu personagem, especialmente nos momentos caóticos ao ter que lidar com o lado sobrenatural.
E o que dizer de Catherine O’Hara, que rouba a cena como Delia? Para mim, ela não só continua excelente como entrega uma atuação ainda melhor nesta sequência. Prepare-se para dar boas risadas com suas expressões e diálogos fantásticos e certeiros.
Claro que não se pode falar de Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice sem mencionar Michael Keaton que é a cereja no topo do bolo. Beetlejuice continua esquisito, intrometido, extravagante, debochado, sarcástico e aproveitador. Toda a sua essência continua nesta sequência, além de expandir mais a sua história e deixa-lo em tela quase que o tempo todo, diferente do original em que o personagem tem apenas 14,5 minutos de aparição.
O fantasma nunca esqueceu de Lydia, e quando a oportunidade surge para unir esta dupla novamente, o filme entrega cenas divertidas, na qual Beetlejuice realmente ajuda a protagonista a salvar a filha. No entanto, todo favor tem o seu preço e, é claro, que ele cobra isso de Lydia com o famigerado enlace matrimonial.
Porém, o passado de Beetlejuice retorna com a figura de Delores (Monica Bellucci), conhecida como ‘Sugadora de Almas’, que deseja se vingar do amado que, um dia, a partiu em pedaços quando tentou ‘roubar’ a alma do Sr. Juice.
No entanto, o maior problema deste plot é o mal aproveitamento da personagem, uma vez que ela fica apenas vagando pelo mundo inferior à procura de Beetlejuice, suga as almas das vítimas pelo caminho, tem pouquíssimas falas e, quando finalmente os dois se encontram, a resolução é corriqueira e fajuta diante de uma personagem que apresenta potencial, mas que fora totalmente desperdiçado. No fim das contas, o espectador se pergunta: para quê a personagem existe?
Para não dizer que seu plot é totalmente ruim, a cena em que Beetlejuice conta a história sua história e de Delores em italiano é engraçada, além de ser uma sequência bem feita em termos de estética.
Entre vingança, confusão, fuga, mortes, casamento à vista e mortais vagando pelo submundo, todo o caos é investigado por Wolf que, na verdade, é um ator que tenta deixar tudo o mais autêntico possível, muito bem interpretado por Willem Dafoe, que sempre entrega o seu melhor.
Como disse, o público companha mais de uma linha narrativa no filme, mas ao fazer uma análise mais à finco, nota-se certa falta de profundidade, mesmo que a conexão entre as subtramas exista. Por exemplo, ao invés de colocar o plot de Jeremy, poderia ter focado no objetivo de Astrid em falar com o pai, criando uma dualidade na mente da garota entre acreditar na ciência e no sobrenatural.
Mesmo com estas ressalvas, o roteiro ainda consegue amarrar bem as subtramas. A reta final ganha duas grandes sequências, em que a primeira é sombriamente musical, com direito dos personagens cantando na Igreja, enquanto Beetlejuice se delicia do seu triunfo, tornando tudo deliciosamente cômico de assistir.
Em contrapartida, a última cena dá um susto com uma sequência de acontecimentos repentinos que faz o espectador acreditar que o filme acabará daquele jeito quando, na verdade, tudo não passara de um sonho. Ainda assim, acredito que alguns podem torcer o nariz para este finalzinho, que poderia ter sido melhor.
A versão legendada é boa, mas acredito que muitos se conectarão mais com a versão dublada, especialmente aqueles que assistiram ao primeiro filme dublado na TV.
Considerações finais
Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice agrada em termos de elenco, personagens, atuações, ambientações e referências nostálgicas. A história, no geral, apresenta subtramas que se conectam e, mesmo que o desenvolvimento não seja dos melhores, sabe prender a atenção do público que vai se divertir, mas também vai notar cenas descartáveis e personagens mal aproveitados aqui.
Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice não é perfeito, mas é uma sequência que consegue manter a essência do clássico original, que pode agradar a maioria.
Ficha Técnica
Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice
Direção: Tim Burton
Elenco: Michael Keaton, Winonna Ryder, Catherine O’Hara, Jenna Ortega, Justin Theroux, Monica Bellucci, Arthur Conti, Willem Dafoe, Danny DeVito, Santiago Cabrera, Burn Gorman, Sami Slimane, Amy Nuttall e Olga Spencer.
Duração: 1h44min
Nota: 3,0/5,0