Se você gostou de A Órfã, prepare-se para se surpreender com Órfã 2: A Origem (Orphan: First Kill), um prequel que desvenda o passado sombrio da icônica personagem Esther. O longa aparenta surfar na mesma premissa do primeiro filme, porém entrega um plot twist que deixa o público com um sorriso no rosto tanto pela surpresa quanto pela forma como tal reviravolta dita os novos rumos desta história, resultando em um final plenamente satisfatório. Vale muito a pena assistir e vou te dizer os motivos.
Com direção de William Brent Bell, que dirigiu Boneco do Mal, Órfã 2: A Origem se passa antes dos eventos do primeiro filme, em que o espectador conhece as origens de Leena, desde sua estadia na Estônia até o momento em que ela decide se tornar Esther, vir para os Estados Unidos e se infiltrar em sua mais nova família.
O primeiro ponto positivo é que esta sequência usa bem das referências que conhecemos em A Órfã, ou seja, truques, manias, objetos e lugares citados anteriormente são explicados neste prequel, fazendo uma excelente conexão entre os dois filmes. Assim, a trama se passa em 2007, apresentando Leena no Instituto Saarne, sendo considerada uma das pacientes mais perigosas da clínica psiquiátrica. Tal sequência inicial faz o público entender o grau de periculosidade da protagonista que, desde sempre, domina a arte da manipulação, conhece a forma como os demais pacientes se comportam usando isso a seu favor, além de ter uma força dosada para o uso da violência no timing certo. Claro que o roteiro facilita certas circunstâncias para que a situação aconteça e isso é nítido para o público e possível de relevar, seja nas cenas em que o segurança é manipulado facilmente, a fuga da clínica e a professora de artes que se torna a mais nova vítima da personagem de um jeito bem ‘bobo’.
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Mas isto não é nada do que está prestes a começar na vida de Leena, que agora é Esther, uma garotinha desaparecida de uma família americana. Ao se colocar nesta posição de menina ingênua e perdida, Esther retorna aos braços dos pais Tricia e Allen, além do irmão mais velho, Gunnar, formando a típica família americana bem de vida.
Nitidamente o público nota a felicidade do pai em ter a filha de volta aos braços, acabando com o sentimento de culpa que carrega nas costas por anos. Já a mãe, apresenta certo alívio ao rever a garota já crescida – afinal, ela ficou desaparecida por quatro anos – mas com certos receios tanto nas palavras, quanto nas ações e no olhar, o que já levanta suspeitas que, futuramente, surpreendem a todos. Assim como a mãe, Gunnar observa atentamente as mudanças da irmã, mas não demonstra tanta felicidade em revê-la, outro ponto a se ressaltar no olho do espectador, que acredita estar vendo mais do mesmo do primeiro longa.
Enquanto o primeiro filme foi lançado em 2009 com Isabelle Fuhrman ainda pequena, neste prelúdio temos a atriz no auge dos 25 anos encarnando uma criança cuja aparência ganha bons efeitos especiais com a ajuda de truques, maquiagem e figurinos nos bastidores. Segundo o diretor, foram escalados atores mais altos, enquanto outros usaram plataformas para ganhar uma estatura superior a protagonista. Além disso, também foi aplicada a técnica conhecida como ‘perspectiva forçada’, o mesmo truque usado na trilogia O Senhor dos Anéis para fazer os demais personagens ficarem maiores que os hobbits. Aqui, Fuhrman aparece falando com outro ator na mesma cena, mas ela não estaria olhando diretamente nos olhos da pessoa e, sim, para um ponto marcado a alguma distância atrás do seu parceiro de cena. Na minha opinião, tais truques e efeitos não ficam a desejar no filme.
Claro que, por se tratar de Esther e a forma como já conhecemos sua personalidade, Órfã 2: A Origem garante bons momentos de tensão, com pouquíssimos jump scares, se debruçando mais no bom e velho suspense na qual a personagem está pronta para atacar, garantindo boas e dosadas cenas violentas e sangrentas.
O começo do filme é um pouco lento, assim como foi no primeiro longa, mas a garantia de um ritmo satisfatoriamente dinâmico se inicia com a surpreendente reviravolta que pega todos de surpresa. Assim, sugiro a vocês que não pesquisem, muito menos leiam a respeito do plot twist antes. Assista ao filme sem saber de nada, pois a experiência será significante. O plot transforma completamente a trama ao colocar os personagens em posições de rivalidade ainda mais fortes em circunstâncias inesperadas e absurdas, o que faz o espectador torcer pela Esther. Sim, em um dado momento você fica a favor da protagonista para que ela saia desta situação com o seu jeitinho psicopata de ser.
Se você gostou da Isabelle Fuhrman em A Órfã, você continua gostando dela neste prequel, pois a atriz entrega ainda melhor todas as características psicopatas de Esther, seja na arte da manipulação, na agressividade e na forma como ela coloca a situação a seu favor, como nas sequências das sessões com a psiquiatra e, é claro, todas as vezes em que ela está ao lado do pai, o seu alvo favorito.
A atriz Julia Stiles é um dos maiores acertos do elenco de A Órfã 2: A Origem. Ela entrega uma Tricia cujas camadas são misteriosas desde o início, em que você desconfia da forma como e porque ela age e reage com a filha e, ainda assim, a reviravolta eleva o seu potencial que faz o público dar risadas de nervoso, além de ficar abismado com os próximos passos e diálogos desta personagem.
Já o ator Matthew Finlan entrega um Gunnar que desperta desprezo, torção de nariz e raiva no público. Assistam para descobrir a razão para não gostar deste personagem. Por fim, Rossif Sutherland entrega um Allen aliviado com o retorno da filha, cuja postura muda por conta da culpa se esvair aos poucos, mas assim como no primeiro filme, este pai também é enganado, cuja cegueira com relação à sua família vai até aos 45 minutos do segundo tempo.
Os demais personagens coadjuvantes complementam a trama, como o detetive Donnan (Hiro Kanagawa) e a psiquiatria Dra. Segar (Samantha Walkes), que ajudam no desenrolar da história, especialmente na reviravolta, porém gostaria de ter visto um pouco mais da investigação por parte do detetive, já que ele é o primeiro a desconfiar de Esther.
Com relação ao final, temos a fatídica cena do incêndio da casa, um ponto já citado no primeiro filme que faz a gente entender como Esther foi para o lar de adoção e, consequentemente, adotada por uma nova família. Esta reta final faz o público compreender como o primeiro arco da vida da protagonista resultou em um desfecho trágico e bem satisfatório. Aliás, a cena do incêndio deixa nítido os efeitos falsos do fogo, mas que também são possíveis de relevar.
Final explicado (com spoilers)
Se estiver muito curioso, continue lendo este texto para saber sobre o plot twist de Órfã 2: A Origem. Se não estiver, pare por aqui e vá assistir ao filme.
Com relação a este prelúdio, à medida que o primeiro ato do longa discorre, o espectador acredita que vai acompanhar a mesma fórmula do original, diminuindo as expectativas. Porém, a surpresa vem com a grande reviravolta que acontece no momento em que Esther mata o detetive Donnan em sua casa, quando ele está prestes a descobrir mais sobre a identidade da protagonista.
No instante em que Esther esfaqueia Donnan e ele não morre imediatamente, o serviço é finalizado por Tricia, que chega no local e se depara com a suposta filha em ação. Ela atira no detetive e, consequentemente, descobre que Esther é Leena, além do seu distúrbio de crescimento e o seu lado psicopata.
Mas a surpresa não para por aí, pois Tricia é quem realmente surpreende neste filme ao revelar que sua verdadeira filha Esther está morta há quatro anos, pois o irmão Gunnar a matou acidentalmente, enquanto a mãe escondeu o corpo e cobriu todas as pistas para não perder o outro filho e a família não desmoronar.
Porém, Tricia coloca a sua psicopatia em jogo ao chantagear Esther/Leena, afinal, ambas sabem de seus respectivos segredos, colocando as duas em um jogo macabro de gato e rato, uma vez que a mãe entende as artimanhas da suposta filha, enquanto Esther tenta conquistar o que tanto quer, enquanto lida com as pressões e a manipulação de Tricia.
A química de Isabelle Fuhrman e Julia Stiles ganha um tom cômico justamente pela nova situação que é criada, já que Tricia mostra ser ainda pior. Ao menos, Esther tem uma psicopatia doentia constatada, mas e a mãe? O que ela fez com a verdadeira filha, além de encobrir o crime do filho e enganar o marido ganha um grau tão absurdo que faz o espectador torcer para Esther se salvar.
Claro que o ponto final é dado pela protagonista que, satisfatoriamente, entrega sequências de tensão e lutas corporais com Tricia e Gunnar, culminando na morte de toda a família (o pai também morre ao cair do telhado da casa quando descobre a verdade, assim como Tricia também caiu) e, é claro, no incêndio, amarrando esta trama ao início do filme original de 2009.
Considerações finais
Órfã 2: A Origem desenvolve um bom prelúdio que faz ótimas referências e conexões ao primeiro filme, apresenta novos e bons personagens com destaque para Julia Stiles, efeitos especiais satisfatórios e com pequenas ressalvas, além de uma grande reviravolta que foge da fórmula do filme anterior e molda uma nova trama da metade ao final, que surpreende positivamente. Para mim, os dois filmes são ótimos, se complementam e entregam propostas que são bem apreciadas pelo público.
Ficha Técnica
Órfã 2: A Origem
Direção: William Brent Bell
Elenco: Isabelle Fuhrman, Julia Stiles, Rossif Sutherland, Hiro Kanagawa, Matthew Finlan, Samantha Walkes, Gwendolyn Collins, David Lawrence Brown e Alec Carlos.
Duração: 1h39min
Nota: 3,9,/5,0