Nasce Uma Estrela (A Star Is Born) é aquele filme que não te conquista logo de cara. Ele atrai o espectador aos poucos com uma história que se constrói com sentimentos e canções, levando o filme a se tornar uma ode ao amor e à música. O longa faz você se apaixonar por personagens fortes, densos, realistas, cujo drama pesa de uma forma que o desfecho impacta e emociona, fazendo você digerir a trama por alguns dias de tão espetacular que é.
Dirigido por Bradley Cooper, o filme acompanha Ally (Lady Gaga), uma garçonete que, nas horas vagas, realiza o seu maior sonho que é cantar. Com o incentivo do amigo Ramon (Anthony Ramos), ela se apresenta às noites em um bar onde ela pode colocar pra fora a força da sua voz e ser quem ela é de verdade. Mas ser uma cantora é um caminho difícil a ser percorrido, o que faz Ally pensar em desistir desta realização pessoal/profissional. Um dia, ela é observada por Jackson Maine (Cooper), um músico experiente e de sucesso que vê na moça um potencial estrondoso. Ele não só a convence de seguir em frente, como dá espaço para ela cantar ao seu lado em seus shows. Mais do que uma ajuda profissional, o amor entre Jackson e Ally floresce, transformando em uma parceria forte e romântica. Mas, à medida que Ally cresce e vê a sua carreira decolar, Jackson entra em declínio profundo, passando a lutar contra seus conflitos internos e problemas graves, como o vício ao álcool e drogas. É a partir daqui que vemos como a força desse amor é capaz de superar essas barreiras e se a carreira de ambos é capaz de se manter em equilíbrio em meio a tantos percalços.
Nasce Uma Estrela apresenta um roteiro que caminha a passos curtos e tem um desenvolvimento que não se apressa, pelo contrário, o filme tem como objetivo desmiuçar o drama e, consequentemente, explorar seus personagens, desfrutar de suas camadas e fazer deles a chave principal da história. No primeiro ato, conhecemos quem é Ally e Jackson, o que cada um faz, quais são os seus anseios e medos, como eles se conhecem e quais são os primeiros passos que culminam em uma jornada fantástica de amor e música. O roteiro faz questão de detalhar tudo isso em cenas realistas e naturais, dando a sensação ao público de que está acompanhando o primeiro encontro de dois estranhos.
No segundo ato, temos o engate de Ally ao mundo dos palcos, em que ela tem a primeira chance de colocar a sua voz em jogo e mostrar a que veio. A primeira vez que ela canta ao lado de Jackson é a primeira de muitas cenas marcantes do filme, que faz o espectador se arrepiar com a vibração que sai da garganta da personagem. É como se o público estivesse em um show ao vivo e essa sensação acontece em praticamente todas as canções.
Com a ascensão de Ally, acompanhamos o declínio de Jackson, que entra em uma espiral de desespero, conflito e dificuldades em lidar com os seus próprios problemas. Por um momento, é possível imaginar que o personagem esteja com ciúmes ou até mesmo contra o sucesso de sua parceira, devido a certo desnivelamento que se torna bastante distinto em determinado momento do filme, gerando cenas engraçadas, mas também bem tristes.
Apesar de toda essa mudança, Nasce Uma Estrela não deixa de lado o amor verdadeiro entre os protagonistas, e esta é a peça fundamental que torna o filme singelo. A construção desse sentimento é forte não a ponto de tornar uma relação fantasiosa e superficial, pelo contrário, tudo fica ainda mais verdadeiro diante dos nossos olhos, mostrando que um relacionamento tem seus altos e baixos, alegrias, tristezas e muitas dificuldades, mas que o sentimento é capaz de ajudar a passar por todas essas barreiras.
Claro que todos esses fatores trazem um terceiro ato difícil, estrondoso, triste e difícil de digerir. É na reta final que o filme prova trazer uma das histórias mais lindas do cinema atual. Impossível você não sair da sessão anestesiado com o que acabou de ver.
Trilha Sonora
Muitas cenas de Nasce Uma Estrela são recheadas de canções lindas, colocando à prova o enorme talento de Lady Gaga e Bradley Cooper. Entre as canções temos ‘Black Eyes’, ‘Somewhere Over The Rainbow’, ‘Fabulous French’, ‘La Vie Em Rose’, ‘I’ll Wait For You’, ‘Maybe It’s Time’, ‘Parking Lot’, ‘Alibi’, e outros. Mas a canção ‘Shallow’ a mais linda e impactante de todas, que vai confirmar ao espectador a sua atração ou não pelo filme.
Estrelas apaixonantes
Mais do que um roteiro e as canções, Nasce Uma Estrela se torna fabuloso devido às grandes atuações. Em seu primeiro filme como protagonista, Lady Gaga acerta em cheio em um performance natural que ganha um tom alto e estrondoso assim que ela põe as mãos no microfone. Impossível você não se apaixonar pela personagem, pela voz e por tudo o que acontece em seu caminho. Você torce por Ally o tempo todo, além de admirar o romance entre ela e Jackson.
Se Gaga carrega bem filme, Bradley Cooper é a cereja do bolo, pois ele acerta na direção e roteiro e, é claro, em uma performance densa, intensa e com uma dose crescente de dramaticidade que impacta em todas as formas. Cooper traz um Jackson experiente e de sucesso, mas ele consegue transmitir em sua voz e seu rosto toda a sua angústia e dificuldade ao lidar com o vício. Pra mim, ele é um dos grandes destaques do filme.
Mais do que atuar, Cooper tem uma ótima estreia na cadeira de direção e acerta ao explorar minuciosamente todas as emoções dos personagens, colocando a câmera bem perto dos rostos, como se quisesse fazer o público entrar na mente deles e compreender a fundo o que acontece com cada um.
Acredito que Bradley e Gaga já tenham uma cadeira reservada nas próximas premiações.
Considerações finais
Nasce Uma Estrela é um filme que conquista com um roteiro crescente e bem estruturado, apresentando personagens formidáveis e atuações de deixar o queixo caído. A história pode até ser simples, mas forma como se explora os sentimentos e a música torna o filme uma obra de arte inesquecível.
Ficha Técnica
Nasce Uma Estrela
Direção: Bradley Cooper
Elenco: Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliott, Andrew Dice Clay, Rafi Gravon, Anthony Ramos, Dave Chappelle, Ron Rifkin, Barry Shabaka Henley, Michael D. Roberts, Michael Harney, Rebecca Field, William Belli, Greg Grunberg, Eddie Griffin, Alec Baldwin e Bonnie Somerville.
Duração: 2h16min
Nota: 10