Dumplin não é só um acerto do gênero romance, como também é mais um acerto da Netflix ao trazer uma ótima adaptação emocionante na medida certa. Baseado a obra da autora Julie Murphy, o filme dirigido por Anne Fletcher acompanha Willowdean Dickison (Danielle Macdonald), uma jovem acima do peso e confiante do seu corpo, mesmo sem o apoio da mãe, uma ex-miss fissurada em concursos de beleza. Um dia, tudo muda quando a garota decide participar do concurso de beleza organizado pela mãe, Rosie, com o objetivo de quebrar esses padrões.
Crítica: Alita – Anjo de Combate
O filme faz o telespectador imaginar no mais óbvio e previsível que, de alguma forma, vai se acalentar em uma trama redondinha e bonita, no entanto, a grande surpresa está em uma história que equilibra boas camadas sobre beleza e autoestima em uma desconstrução natural da quebra de padrões em que os personagens não são obrigados a se enquadrar. Pelo contrário, tais padrões existem, no entanto, o foco está em como a protagonista – e os demais personagens – se enxerga diante de tantas regras impostas ao corpo e a personalidade, sem “vilanizar” aqueles que são contra ou a favor.
Um dos pontos principais que faz com que o filme conquiste o seu enaltecimento é a visão que Willowdean constrói a respeito de si. Mesmo aparentando satisfação com o seu corpo, junto ao imenso apoio de sua tia Lucy desde a infância, dúvidas, inseguranças e anseios vêm à tona com pequenas e constantes provocações que tanto Will quanto outras personagens recebem e, é claro, o fato de ter uma mãe ausente em boa parte de sua vida, devido ao trabalho obsessivo com concursos de beleza.
Com o falecimento e a descoberta de um segredo da tia, Will quer usar do novo concurso de beleza da cidade de Texas para quebrar de vez esses padrões estéticos. Sem cair no clichê de ser aceita por uma sociedade exigente em termos estéticos, o filme engata no autoconhecimento em que a protagonista mergulha em uma espiral distorcida de si própria. Há cenas em que Will se desmerece, auto afirmando ser incapaz de fazer uma performance, não ser digna de ter um parceiro bom, bonito e que realmente goste dela, e ainda julga aquelas que dão uma chance ao concurso no sentido de “entrar na brincadeira”, sem mudar o seu caráter – como Will faz quando suas amigas Ellen e Millie embarcam no concurso de forma despretensiosa e otimista, sem criar tantos obstáculos, como a própria Will faz.
Tal visão distorcida não a torna uma vilã, muito menos heroína em quebrar os padrões da beleza única, pelo contrário, descontrói um Willowdean insegura e desconfortável e molda uma personagem que revê seus pensamentos, seus conceitos e opiniões sobre sua personalidade e seu corpo, sem jamais alterar a sua essência.
A transformação fica ainda mais nítida ao ver que o filme não apresenta nenhuma antagonista (que poderia ser a concorrente Bekah) e ainda traz uma reaproximação singela entre mãe e filha. Com uma atuação confortável, Jennifer Aniston é uma mãe que admite sua ausência, especialmente por não ter aproveitado mais tempo com sua irmã (Lucy) e conhecido melhor a filha, enquanto Will percebe que sua insegurança aumentava o lado megera e superficial de sua mãe, o que não é 100% verdade.
Já assistiu a comédia romântica Uma Nova Chance?
A evolução e o relacionamento de mãe e filha ganha o cenário colorido dos palcos e bastidores do concurso de beleza, que conquistam ainda mais a atenção do telespectador com outras personagens fora do padrão, que gostam e querem estar ali para mostrar quem são de verdade, como é o caso de Millie. Além disso, a emoção aflora ainda mais ao mergulhar no passado da tia Lucy, revelar segredos de uma vida feliz e corajosa, trazer novas amizades empoderadoras para Will e uma trilha sonora com canções clássicas de Dolly Parton.
Considerações finais
Dumplin foge do clichê ao entregar uma personagem que se reconstrói com o autoconhecimento e novas percepções de si, sem perder a essência. Os personagens são carismáticos, a trilha sonora emociona, a relação de mãe e filha é transformadora e funciona, fugindo completamente de um desfecho que poderia ser óbvio e nada surpreendente.
Ficha Técnica
Dumplin
Direção: Anne Fletcher
Elenco: Danielle Macdonald, Jennifer Aniston, Odeya Hush, Dove Cameron, Luke Benward, Bex Taylor-Klaus, Maddie Baillio, Harold Perrineau e Ginger Minj.
Duração: 1h50min
Nota: 8,0