De Volta ao Baile (Senior Year) é a nova produção da Netflix que, à primeira vista, parece que vai ser mais um filme sem graça, tornando-se apenas mais um título adicionado em um catálogo quantitativo, no entanto, a história até surpreende ao trazer uma comédia que abraça o seu humor ao retratar uma trama sobre adaptação e recomeço em uma atmosfera divertida com mistura de gerações que se complementam e aprendem em uma via de mão dupla.
Com direção de Alex Harcastle, De Volta ao Baile se passa no início dos anos 2000 – mais precisamente em 2002 – e acompanha Stephanie (Angourie Rice), uma garota que mudou com a família da Austrália para os Estados Unidos e, mesmo sendo gentil, divertida, esforçada e com amigos, ela se sente deslocada por ser quem é, especialmente na escola.
Para mudar radicalmente, Stephanie transforma o visual e a atitude, tornando-se popular entre os alunos e capitã do líder de torcida do colégio, um posto que será oficial quando for intitulada a rainha do baile, que por sinal, é disputado com sua arqui-inimiga Tiffany (Ana Yi Puig), ex-namorada de Blaine (Tyler Barnhardt), seu atual namorado.
Mas é durante uma apresentação do grupo líder de torcida que faz tudo mudar. Ao realizar uma manobra da coreografia, Stephanie cai e bate a cabeça, o que a deixa em coma por 20 anos. Ao acordar, a protagonista já não é mais uma adolescente e, sim, uma mulher de 37 anos que precisa se adaptar às mudanças em si, as pessoas em sua volta e, obviamente, lidar com a realidade de 2022. Enquanto lida com esta nova vida, Stephanie decide resgatar o que foi interrompido anos atrás, retornando ao ensino médio não só para recuperar o antigo status, como também ser coroada como a rainha do baile de formatura. Mas as coisas já não são como antes.
De Volta ao Baile tem elementos clichês como a garota popular, os amigos deslocados e excluídos, a garota rival, o namorado lindo e perfeito e, é claro, o acidente que é o gatilho que faz a trama ganhar vida. Mas, o mais interessante de acompanhar esta história é ver a adaptação de uma mulher ‘millennial’ que, antes era a ‘popular’, em um mundo dominado pela ‘geração Z’, com novos ideais, concepções, estilos diferentes, pensamentos expansivos, tecnologia a seu favor entre outros pontos. É o ‘cringe’ e a nova geração andando lado a lado, mas, desta vez, com rivalidade reduzida, mostrando a possível adaptação em ambas atmosferas, a aceitação das diferenças e a aprendizagem vinda dos dois lados.
É por este ponto principal que faz De Volta ao Baile ser agradável de assistir, pois a protagonista não perde tempo se julgando pelos 20 anos perdidos de sua vida, pelo contrário, ela quer finalizar o que começou exatamente de onde foi retirada de campo obrigatoriamente.
Muito disso se dá pela atuação de Rebel Wilson que traz o seu estilo tradicional de atuar, já vistos em muitos dos seus papeis (se você já viu os filmes com a atriz, sabe do que estou falando), mas que se encaixa bem nesta personagem justamente por retratar uma mulher na faixa dos 30 ainda com a mente de 17 anos. Confesso, às vezes é possível até ver mais os trejeitos da atriz do que da personagem em si.
Há falta de maturidade da protagonista? Com certeza, mas não porque ela não quis crescer e, sim, porque a vida lhe tirou esta opção temporariamente, outro ponto que a trama desenvolve ao relatar a adaptação de Stephanie e como ela irá evoluir diante disso tudo, afinal, ‘ontem’ ela ainda era uma mera adolescente.
É nesta adaptação com sequências de tropeços que vemos a evolução da protagonista que descobre que seus melhores amigos, Martha (Mary Holland) e Seth (Sam Richardson), estiveram ao seu lado por anos, viram o seu auge e declínio, assim como as mudanças drásticas apenas para ser popular, um ponto que também afetou a vida de ambos que, aproveitaram para transformar em volta, já que ambos trabalham na escola e assistiram certas “bolhas privilegiadas” serem estouradas.
Enquanto Stephanie representa o lado cringe divertido, seja nas roupas, nas palavras que usa, na personalidade e até nos gostos – ela ainda ama Britney Spears e isso não é nada cringe! – a ambientação escolar e os amigos da protagonista entregam um choque de cultura, como a tecnologia avançada (celular, televisão), os novos conceitos e pensamentos e, é claro, a geração influencers digitais, como é o caso dos seu novo grupo de amigos como Yaz (Joshua Colley), Janet (Avantika) e Neil (Jeremy Ray Taylor), além dos maiores influencers da escola, Bri (Jade Bender) e Lance (Michael Cimino) que, por sinal, surpreendem com suas personalidades.
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Claro que a antiga rivalidade entre Stephanie e Tiffany (Zoe Chao) é reacendida, uma vez que remorsos e rancores ficaram guardados por anos, o que dá mais gás à história e traz mais consequências levando ao grande conflito final da trama que, na minha opinião, é divertido e bom, uma vez que o filme opta em seguir pela comédia leve e, às vezes, escrachada, do que, de fato, o drama que até poderia ter sido injetado em alguns momentos.
As antigas e verdadeiras amizades, os sentimentos mal resolvidos, amores interrompidos, recomeços, a adaptação, os erros e acertos contribuem positivamente no desenvolvimento sobre o amadurecimento da protagonista, levando a um desfecho simples, divertido e feliz com direito a cena de dança do elenco como se fosse um musical. Clichezão né? Faz parte.
Considerações finais
De Volta ao Baile é uma comédia que abraça o seu tom de humor, é fiel à sua proposta sem optar em cair em um drama que até funcionaria aqui. Apesar de entregar uma atuação formulaica e repetitiva, Rebel Wilson consegue enraizar bem uma adolescente de 17 em um corpo de 30, ora abraçando a ridicularização das ações, ora firmando os pés no chão quando a realidade bate de frente, ao lado de um elenco agradável amparados por um roteiro leve e satisfatório.
******COM SPOILERS******
Preciso comentar sobre um momento de De Volta ao Baile na qual gerou uma grande dúvida ao final. Com relação à queda da Stephanie, sabe-se que não foi exatamente um acidente, uma vez que Tiffany pede para duas colegas sabotarem a coreografia para, assim, a garota cair. No entanto, ninguém esperava que Stephanie fosse ficar em coma por 20 anos.
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Além disso, há um vídeo gravado com o tutorial que mostra a coreografia correta que, aliás, foi assistido pela Martha. Em algum momento, ninguém percebeu que havia algo de errado na coreografia? Por que não seguraram propositalmente a Stephanie durante a manobra? Há a gravação tanto da dança correta quanto do dia do acidente. Ninguém fez uma comparação? Ninguém pensou na possibilidade da Tiffany ser a verdadeira culpada de tudo, em que ela poderia até responder na justiça? Quando Tiffany pede desculpas por tudo que fez, será que, em seu subconsciente, ela pediu perdão pelo acidente que foi responsabilidade dela, já que foi sua sabotagem? Afinal, uma pessoa ficou em coma e teve a vida prejudicada.
É possível pensar em tudo isso enquanto se assiste ao filme, especialmente na reta final, mas como disse, o roteiro opta em seguir pelo lado da comédia e não o drama, na qual esta reviravolta teria um encaixe melhor. Fica a reflexão.
Ficha Técnica
De Volta ao Baile
Direção: Alex Hardcastle
Elenco: Rebel Wilson, Angourie Rice, Sam Richardson, Mary Holland, Zoe Chao, Chris Parnell, Justin Hartley, Molly Brown, Zaire Adams, Ana Yi Puig, Michael Cimino, Avantika, Jade Bender, Joshua Colley, Tyler Barnhardt, Jeremy Ray Taylor, Brandon Scott Jones e Tiffany Denise Hobbs.
Duração: 1h53min
Nota: 2.9/5.0
Camila, achei maravilhoso o texto. Seu ponto de vista é muito bom. Assisti o filme agora a pouco, e preciso dizer que apesar de ter gostado, eu esperava algo a mais. Você citando sobre o fato de a Thiffany ter sido a culpada, eu penso que deixaram tão pra lá esse fato, que pareceu desnecessário ter colocado no filme. Acho que ficaram até como fios soltos que a gente entendeu, mas precisava de algo a mais. E olha, eu amo a Rebel.