The Last Of Us entrega um 3º episódio simplesmente formidável, singelo e emocionante do início ao fim, provando que é possível construir uma excelente história com poucos personagens e elementos ao redor.
A série prova que o amor em tempos pós-apocalípticos é possível existir; que se importar com o próximo ainda continua sendo um dos maiores atos humanos do universo; que um gesto de carinho, afeto e gentileza pode mudar completamente uma pessoa, um destino; este episódio prova que a representatividade pode ser desenhada em uma narrativa com profundidade sem ser superficial, vulgar ou barato.
O 3º episódio parece ser meio fora da curva para quem nunca teve contato com o jogo e, aqui, temos um recorte na qual conhecemos dois personagens que, desde o início, desperta curiosidade – pelo menos em mim – não só pelos atores que interpretam, mas também sobre o papel que eles exercem nessa história e como isso ajudará ou não na jornada de Ellie e Joel.
Assim, The Last Of Us nos leva novamente para 2003, o início do caos, em que conhecemos Bill, um homem ranzinza, antissocial que consegue se esconder em seu bunker e fugir do exército que está levando as pessoas para a zona de quarentena. Segundo as palavras de Joel, o público tem a informação de que várias pessoas não infectadas morreram nesta época, uma vez que para o governo, quanto mais pessoas mortas, menor é o alastramento da infecção, um pensamento e uma execução simplesmente indescritíveis. Horrível.
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Com esta pequena informação, pode-se pensar que Bill fez a melhor escolher ao se tornar totalmente recluso e construir uma pequena vizinhança para si, na qual ele coleta objetos, ferramentas, produz o próprio alimento e prepara armadilhas formidáveis para qualquer intruso ou infectado que chegar perto de sua propriedade.
Mesmo com tamanha inteligência em construir tudo isso sozinho, The Last Of Us começa a surpreender neste episódio ao mostrar a evolução da solidão do personagem, em que Bill se sente bem, corajoso e destemido por estar só, um isolamento que se torna a sua maior proteção em meio a catástrofe que a Terra está passando. Até ele conhecer Frank.
Frank entra em cena na tentativa de pedir ajuda, e cair em uma das armadilhas faz os dois se conhecerem, na qual Bill dá um voto de confiança ao colocá-lo dentro de sua casa apenas para um banho e uma refeição.
Este é um momento fatídico, e quem nunca jogou o game (como eu) começa a pensar em possibilidades do caos se instalar nesta casa a partir daí: seria uma armadilha para tomar tudo o que o Bill possui? Será que Frank está mesmo sozinho ou há outros companheiros escondidos pela região esperando apenas o momento certo para atacar? Será que, em algum momento, Bill e Frank vão brigar e iniciar um grande conflito dentro de casa?
Eis que The Last Of Us dá um grande tapa de mão de luva e apresenta uma linda e emocionante história de amor em meio ao mundo pós-apocalíptico. A narrativa desenha tal sentimento crescente, singelo e natural, provando que é possível escrever uma trama com representatividade sem ser superficial, vulgar, barata ou forçada. É isso que significa representatividade na televisão ou no cinema. É ver a comunidade LGBTQIA+ ganhar espaço em uma história que não trata com banalidade e, sim, com naturalidade, um ponto que carece em diversas produções.
É ver dois gays se apaixonar, construir um lar, brigar, lidar com as diferenças, continuar amando e lutando sem esquecer sobre o mundo que está vivendo e os perigos a volta. Por isso Frank bate na mesma tecla ao dizer que eles precisam de amigos, de outros contatos lá fora para ter com quem contar futuramente.
Assim, o público descobre como os dois conheceram Joel e Tess, uma vez que Frank conheceu Tess por contato via rádio, criando um laço de amizade entre eles, enquanto Joel e Bill tendem mais como aliados distantes.
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De um homem recluso e antissocial e ranzinza, Bill passa por uma das maiores transformações introspectivas que jamais imaginou que pudesse acontecer. A chegada de Frank na sua vida o torna um homem complacente e generoso, na qual passa a se importar com quem ama.
Os anos passam e tudo o que este episódio mostra é a prova de que o amor é uma das forças mais vitais do ser humano, capaz de transcender até o grande mal que assola o planeta. Os atores Nick Offerman e Murray Bartlett entregam interpretações com excelência, e sabe por quê? Por que o espectador consegue sentir, através de uma tela, a simplicidade de suas essências, consegue enxergar este sentimento costurar duas vidas e transformá-las em algo que, em algum momento, alguém já desejou para si.
Não é só desejo carnal e atração…é amor nos mínimos detalhes, como vemos com o passar dos anos, em que Frank já não se encontra em bom estado de saúde, enquanto Bill carrega os anos vividos nas costas. Os dois viveram juntos todo esse amor e, agora, envelhecem lado a lado cientes de que o fim está chegando. Uma pena que nem todos que assistirem este episódio vão entender, interpretar e compreender dessa forma.
A reta final, sem dúvidas, é uma das mais melancólicas que surpreende o espectador por ter acompanhando algo tão lindo. O episódio termina com a morte do casal, na qual Frank, ciente de que sua saúde não voltará, pede para Bill colocar todos os remédios em sua bebida. A surpresa é ver Bill também bebendo do mesmo vinho “batizado”, afirmando que viveu tudo o que tinha para viver ao lado de quem ele passou a se importar e amar.
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Ao chegar na casa, Joel e Ellie encontram uma carta de despedida de Bill, dizendo que todos os seus pertences passam a ser dele e de Tess. Uma pena não ter visto alguma interação de Bill e Ellie. Eu que nunca joguei o jogo gostaria de ter visto, mas, ainda assim, a série entrega um desfecho formidavelmente agridoce para Bill e Frank, enquanto reforça um pouco mais a conexão de Joel e Ellie. Aliás, depois de um banho e um pequeno upgrade, os personagens ficaram ainda mais parecidos com os do game.
Agora é aguardar para ver o que The Last Of Us reserva em seu 4º episódio e como será a continuação da jornada de Joel e Ellie. Será que Tommy vai aparecer logo?
O que acharam do 3º episódio de The Last Of Us?
Ficha Técnica
The Last Of Us
Série criada: Craig Mazin
Jogo criado por Neil Druckmann
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Anna Torv, Merle Dandridge, Nico Parker, Murray Bartlett, Jeffrey Piecer, Nick Offerman, Brendan Fletcher, Natasha Mumba e Max Montesi.
Duração: (1ª temporada – 09 episódios)
Nota: 4,5/5,0 (3º episódio)