Repleto de fantasia misturado à ficção científica, Uma Dobra no Tempo (A Wrinkle in Time) vai encantar adultos e especialmente as crianças, até porque o filme é voltado ao público de oito a 12 anos e é importante que você saiba disso. Baseado no clássico livro de Madeleine L’Engle e dirigido por Ava DuVernay, a história transporta o público através de dimensões de tempo e espaço por meio da jornada transformadora de uma garota que é liderada por três guias celestiais. Meg Murry (Storm Reid) é uma aluna típica do ensino fundamental grosseira, teimosa e com problemas de autoestima. Filha dos físicos renomados Kate (Gugu Mbatha-Raw) e Alex Murry (Chris Pine), Meg e seu irmão Charles Wallace (Deric McCabe) têm dons excepcionais. O misterioso desaparecimento de seu pai deixa Meg desolada e leva Charles a conhecer três seres celestiais: Sra. Qual (Oprah Winfrey), Sra. Queé (Reese Witherspoon) e Sra. Quem (Mindy Kaling). Ao lado do amigo Calvin (Levi Miller), eles embarcam em uma busca formidável, viajando através de uma dobra no tempo conhecida como ‘Tesserato’. Para trazer o pai, irmão e o amigo sãos e salvos, Meg terá que enfrentar uma matéria escura conhecida por ‘Aquilo’, uma escuridão que está envolvendo o universo e afetando todas as pessoas.
Uma das maiores dificuldades que tive enquanto lia o livro de Madeleine L’Engle foi imaginar o cenário, os personagens e as transformações, além de compreender melhor os termos técnicos utilizados na história e, depois de assistir ao filme de DuVernay, tudo fica claro e reluzente. Esse é um dos grandes pontos positivos de Uma Dobra no Tempo, pois o filme consegue transpor detalhadamente palavra por palavra em formato de imagem, ajudando o espectador a visualizar o cenário fantástico e bastante colorido. Exemplos é o que não faltam. Pra começar, o filme cita bastante a palavra ‘Tesserato’, que é a frequência certa encontrada por Mr. Murry para se teletransportar entre os universos. Além de o público entender o significado, vemos a magia acontecer de uma dimensão a outra.
Além disso, o antagonista do filme não é uma pessoa, muito menos um monstro e, sim, uma massa, uma energia escura que afeta drasticamente quando estamos desprotegidos ou desistimos de lutar por si mesmos e por algo melhor. A diretora utiliza de exemplos práticos e cotidianos para explicar o significado da escuridão e o porquê a protagonista precisa enfrentá-lo: tal matéria escura nada mais é do que a inveja, a raiva, o ódio, o medo, o fracasso, a vingança, fatores negativos que moldam a personalidade e faz o ser humano entrar em desequilíbrio e declínio. A escuridão nada mais é do que a energia ruim que nos rodeia e nos afetar uma vez que desistimos de lutar a favor do bem. A forma como o filme exemplifica um assunto tão abstrato é bom e nítido, justamente por torná-lo simples ao público mirim na qual este filme é voltado. Lembra quando disse lá no começo do texto que Uma Dobra no Tempo é para as crianças? O cenário fantástico não só serve de entretenimento, como também traz uma explicação visual de fácil compreensão sobre a ficção científica embutida na história. Aliás, outro ponto que também contribui no entendimento são os diálogos objetivos que explicam as palavras mais técnicas.
Livro X Filme
É bem possível que nem todos tenham lido o livro (sugiro que leiam, porque é bom), mas devo dizer que o filme respeita a linha narrativa da obra de L’Engle, alterando alguns fatos que, às vezes, acabam pesando na trama. Por exemplo, na obra, Meg tem mais dois irmãos gêmeos extremamente espertos, o que traz um contraste enorme dentro da família Murray que afeta a autoestima da protagonista, uma vez que ela se sente ‘burra’ perto dos irmãos e da mãe. Aliás, é a inteligência do pequeno Charles Wallace que vai guiá-la em direção ao pai, mas também é o que trará problemas, pois o ego de Charles inflará bastante em certos momentos, o que meterá ele, Meg e Calvin em situações de risco. O filme mostra bem isso, mas não deixa tão claro quanto o livro.
O filme dá uma ‘barrigada’ no arco do vidente, interpretado por Zach Galifianakis. Apesar da interpretação do ator ser boa, acho que o longa perde tempo demais em uma cena que é tão simples e passageira no livro. Outro ponto que também poderia ter sido melhor explicado no filme como é no livro é a razão de Calvin estar ajudando Meg e Charles Wallace e porque ele foi o escolhido para completar o time. Por fim, um momento que gostei muito é quando o filme mostra o confronto de Meg e a escuridão, algo que fica bastante difícil de visualizar durante a leitura. A cena é bem feita e prende a atenção até o fim.
Personagens
O que seria de Uma Dobra no Tempo sem as guias celestiais? Enquanto no livro não sabemos ao certo a forma que essas entidades têm, o filme as transforma em bruxas do bem, entidades cuja expressão traz paz, tranquilidade, força e equilíbrio. São elas que escutam o chamado de socorro e reúnem o grupo que para lutar contra o mal. Oprah Winfrey, Reese Witherspoon e Mindy Kaling trazem boas performances e ainda um alívio cômico bem dosado em alguns momentos. Cada uma tem uma personalidade e uma característica peculiar, fatores importantes que fazem a diferença na hora de ajudar o trio.
Talvez você se irrite um pouco com Meg, mas ela é assim: grosseira, rude, teimosa e que não liga para o que os outros falam. Mas a verdade é que esse é o mecanismo de defesa da personagem bem interpretada por Storm Reid. Com o desaparecimento do pai, Meg desiste de seguir em frente, deixando que coisas ruins aconteçam em sua vida como ser taxada de louca, caçoada na escola, ridicularizada pela ‘falta de beleza’, o que nos faz entender a razão dela ter a autoestima tão baixa. Mas são esses defeitos que a farão lutar contra o mal, proteger quem ama e se reerguer.
Por ser um personagem bem peculiar, Deric McCable consegue transpor na tela um Charles Wallace muito inteligente, excêntrico e que não tem medo de arriscar, tomando atitudes bastante impulsivas. Além das entidades, ele é o principal guia da irmã que não deixará desistir da luta. Talvez o público se irrite com o fato da Meg falar o nome completo do irmão o tempo todo. Não seria mais fácil dizer apenas Charles? rs
Considerações finais
Uma Dobra no Tempo consegue transpor visualmente todo o cenário fantasioso da obra de L’Engle, trazendo uma fotografia bonita e uma paleta de cores forte e vibrante. Os diálogos são simples que ajudam tanto a criançada quanto os adultos a compreenderem melhor os termos científicos da trama. Os personagens são carismáticos e acredito que muitos irão se simpatizar com todos eles, especialmente as guias celestiais. Mesmo com aspectos positivos, o filme não deixa de dar uma derrapada em certos momentos. Uma Dobra no Tempo é uma história fantástica e ficcional sobre como as pessoas podem se tornar heróis ao combater o mal dentro e fora de si.
Ficha Técnica
Uma Dobra no Tempo
Direção: Ava DuVernay
Elenco: Storm Reid, Oprah Winfrey, Reese Witherspoon, Mindy Kaling, Levi Miller, Deric McCabe, Chris Pine, Gugu Mbatha-Raw, Zach Galifianakis, Michael Peña, Andre Holland, Rowan Blanchard, Daniel MacPherson, Bellamy Young e Will McComarck.
Duração: 1h50min
Nota: 7,0