Acredita-se que Talvez Uma História de Amor seja mais uma comédia romântica nacional bonita, mas nada inovadora. No entanto, o filme de Rodrigo Bernardo quebra esse estereótipo com uma narrativa rica, uma construção complexa do personagem principal, elementos técnicos que complementam a trama e, é claro, por mergulhar em uma história em que o romance se sobressai.
Adaptado da obra de mesmo nome do autor Martin Page, Talvez Uma História de Amor acompanha Virgílio, um rapaz metódico que acredita que a melhor maneira de não terminar um romance é não começá-la. Ele tenta controlar sua vida de todas as maneiras, mesmo nos mínimos detalhes. Até que, um dia, um recado deixado em sua secretária eletrônica o desconcerta: Clara está terminando com ele e não é mais possível continuar o relacionamento dos dois. A grande pergunta é: quem é Clara? Virgílio não se lembra dela, muito menos de ter se relacionado com ninguém. Os amigos comentam, os colegas de trabalho perguntam, todos de alguma forma sabiam do romance, menos ele. A partir daí, Virgílio decide essa mulher misteriosa e, talvez, o amor de sua vida.
Talvez Uma História de Amor chama a atenção pela forma consistente como a trama é construída. Mais do que uma história de amor, o filme é uma autodescoberta do protagonista, pois à medida que acompanhamos a jornada de Virgílio em busca do paradeiro de Clara, também conhecemos as memórias, a personalidade, as manias e os problemas do personagem. Enquanto a narrativa caminha crescente na trama principal, ela aproveita para desconstruir o protagonista, apresentando camada por camada que, por sinal, é bastante rica.
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Mais do que um protagonista, Virgílio é quem conecta os elementos técnicos e os personagens coadjuvantes. Pode ser que alguns achem que ele tenha TOC ou algum outro problema de saúde justamente por ser muito metódico: ele tem uma rotina padronizada e um trabalho na qual ele não quer que nada mude. O filme explica a razão dele ser assim. Por ele ser extremamente regrado, a presença repentina de Clara o faz questionar sua vida, deixando-o alarmado. É aí que o filme esclarece o ‘talvez’, uma vez que essa palavra nunca esteve no vocabulário de Virgílio e mexe radicalmente com alguém que tem aversão a mudanças.
Mateus Solano está incrível no papel e durante a coletiva de imprensa que o site participou, o ator explicou que o personagem foi construído através da relação que ele tem com o outro e com o mundo a sua volta. E isso é nítido. Praticamente o filme todo apresenta cenas em duplas, em que o público acompanha a busca de Virgílio e as interações que mesclam entre confusões, discussões, emoção e diversão, seja com a despojada vizinha Katy (Bianca Comparato), as conversas e análises com a psicóloga Marcia Bruner (Totia Meirelles), conversas corriqueiras e descobertas inesperadas com as amigas Fernanda (Nathalia Dill), Caroline (Jacqueline Sato) e Melissa (Juliana Didone) e os diálogos engraçados com o colega de trabalho Otavio (Marco Luque). A cada momento com um personagem diferente, o público descobre algo novo sobre Virgílio, cria expectativas e até certa angústia ao saber se o protagonista está perto ou não de encontrar Clara.
Elementos que contam história
Um dos pontos altos de Talvez Uma História de Amor são os objetos, elementos técnicos e cenários que ajudam a desenvolver a trama, como também a construir o protagonista. Quem assistir vai perceber que Virgílio é muito apegado a objetos antiquados como o seu celular ‘tijolão’, a geladeira azul, a secretaria eletrônica antiga, a televisão de tubo com videocassete embutido. Esses objetos não estão por acaso, muito menos para fazer o público rir ao se deparar com tantas relíquias, pelo contrário, esses itens enriquecem a personalidade de Virgílio, dando dicas de como e porque ele é assim.
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Além disso, a maior parte das cenas apresenta uma fotografia bonita e extremamente alinhada, seja com uma câmera plongée mostrando Virgílio no museu; ele alinhado na plataforma enquanto espera o metrô; ou correndo uniformemente pelo aeroporto. Sugiro que você preste atenção nesses detalhes, pois eles fazem a diferença.
Outro destaque é a cidade de São Paulo como cenário do filme. Enquanto no livro temos Paris como a paisagem principal, aqui o urbano paulista é o escolhido, em que o personagem passa por alguns pontos principais como o Edifício Martinelli, MASP e Avenida Paulista que ajudam a moldar poeticamente os momentos marcantes da história. Além desses, também temos cenas essenciais gravadas em Nova York e a participação especial da atriz Cynthia Nixon (conhecida pela série Sex and the City). A interação de Solano e Nixon é curta, mas o suficiente para ser divertida, além de ser o ápice para a reta final da jornada do personagem.
Por fim, a trilha sonora é uma das coisas mais lindas e que enaltece a história, com direito a ‘New York, New York’ (Frank Sinatra), ‘Dirty Paws’ (Of Monsters And Men), ‘Cherry Wine’ (Hozier), entre outros.
Considerações finais
Talvez Uma História de Amor quebra barreiras do gênero comédia romântica, apresentando uma narrativa rica que utiliza de elementos técnicos e objetos para contar a história, um personagem complexo e cativante muito bem interpretado por Mateus Solano, cenários alinhados, bonitos e bem pensados e uma trilha sonora que emociona.
Talvez Uma História de Amor é uma aula de autodescoberta, mudanças, medos e inseguranças que faz refletir no quanto se está aproveitando as chances que a vida dá para você se arriscar mais.
Ficha Técnica
Talvez Uma História de Amor
Direção: Rodrigo Bernardo
Elenco: Mateus Solano, Thaila Ayala, Bianca Comparato, Totia Meirelles, Marco Luque, Nathalia Dill, Paulo Vilhena, Dani Calabresa, Juliana Didone, Jacqueline Sato, Elisa Lucinda, Gero Camilo, Flávia Garrafa e Cynthia Nixon.
Nota: 9,0
Aqui é a Fernanda Lima , gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.