Vou começar meu texto sendo bem sincera: Jackie não é um dos meus filmes favoritos nas premiações deste ano, mas reconheço que o trabalho foi muito bem executado do começo ao fim, com uma excelente interpretação da protagonista e um figurino deslumbrante que renderam três indicações ao Oscar: Melhor Atriz, Melhor Trilha Sonora e Melhor Figurino. O diretor chileno Pablo Larraín (Neruda) estreia no cinema hollywoodiano retratando uma das partes mais importantes e traumáticas da história de Jacqueline Kennedy (Natalie Portman) primeira-dama dos Estados Unidos que viu o marido, o presidente John F. Kennedy, ser morto na sua frente.
Ambientado em novembro de 1963, o enredo se concentra nos três dias entre o crime e o funeral de Kennedy. Sob o ponto de vista de Jackie, o filme acompanha os passos da primeira-dama nos primeiros dias após o assassinato brutal do marido, trazendo uma mulher chocada, desolada, confusa e indecisa em meio a tantas decisões que precisam ser tomadas naquele mesmo instante, seja para elaborar um funeral digno ao presidente quanto ao turbilhão de sentimentos que passam em seu coração.
Assinado por Noah Oppenheim, o roteiro, algumas vezes, se torna arrastado e lento, já que Natalie Portman carrega nas costas praticamente todo o filme. Mesmo que certa monotonia tenha me incomodado um pouco, a atriz executa muitíssimo bem o papel mostrando três facetas da personagem, uma vez que a história é contada em três tempos. O filme se inicia uma semana após o assassinato, com Jackie recebendo em sua casa o jornalista Theodore H. White (Billy Crudup) para contar exatamente os detalhes de tudo o que aconteceu. Neste momento, Portman retrata uma Jackie fria, centrada com as palavras e bastante ríspida com o jornalista sobre o que ele deve ou não escrever em sua matéria.
Essas cenas se mesclam com uma Jackie mais doce, gentil, ingênua e extremamente cuidadosa consigo e com os filhos. É com esta faceta que a personagem aparece em um documentário mostrando a Casa Branca e as mudanças que fez no local sob sua perspectiva não só para trazer conforto à família, mas também para deixar a marca registrada dos Kennedy na história política dos Estados Unidos. Inclusive, essas cenas são exibidas em preto em branco. Aqui, a trama faz uma jogada com o uso das cores. Enquanto o preto e o branco retratam momentos felizes e calmos da primeira-dama, as cores vivas e fortes como o vermelho e o rosa registram a tragédia e a tristeza que marcaram a vida de Jackie.
Junto a esses dois registros, conhecemos também uma Jackie vulnerável, chocada e anestesiada após o assassinato, com emoções se contorcendo dentro de si. Natalie Portman executa muito bem o papel, trazendo diálogos intensos, especialmente com três personagens: o cunhado Bobby Kennedy (Peter Sarsgaard) que, mesmo devastado com a morte do irmão, faz de tudo para ajudar a cunhada, especialmente com o funeral, já que Jackie exige que seja algo marcante para que ninguém esqueça aquele momento; com Nancy Tuckerman (Greta Gerwig), mostrando uma relação carinhosa, amigável, afetiva e confidencial que tinha com a assessora; e, por fim, com o padre (John Hurt) que, durante uma caminhada, Jackie confessa tudo o que sente e sentiu pelo marido e o legado da família Kennedy.
Natalie Portman pode não parecer com Jacqueline Kennedy, mas ela se esforça ao máximo para retratar a primeira-dama nas telas, com um sotaque britânico carregado, uma voz doce e um olhar ingênuo.
Além disso, outro ponto alto do filme é a recriação da grande tragédia: após o presidente Kennedy levar o tiro na cabeça, imediatamente Jackie o vê morto em seu colo e tenta pegar os “miolos” espalhados pelo carro, enquanto tenta proteger o grande buraco que foi deixado na cabeça do marido. É aqui também que o figurino se destaca, já que Jackie ficou marcada pelo famoso terno rosa todo manchado de sangue.
Considerações finais
Sob o ponto de vista da protagonista, Jackie é um filme que retrata um dos momentos mais importantes e trágicos da história política dos Estados Unidos com uma visão e estética delicada, melancólica, triste e fria. Aqui, o público verá diferentes facetas de Jackie e uma excelente interpretação de Natalie Portman. Talvez, os telespectadores se incomodem não só com alguns momentos arrastados do filme (como disse anteriormente), mas também com a retratação colorida demais do casal John e Jackie Kennedy quando, na verdade, a relação deles se baseava em uma possível infidelidade de ambas as partes. Mesmo assim, vale a pena assistir ao filme.
E aí, o que acharam de Jackie? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Jackie
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Natalie Portman, Peter Saarsgard, Greta Gerwig, Billy Crudup, John Hurt, Richard E. Grant, John Carroll Lynch e Beth Grant.
Duração: 1h40
Nota: 8,0