Heartstopper retorna na Netflix em uma 2ª temporada cuja atmosfera continua doce, leve e sensível. Desta vez, a série se aprofunda nos questionamentos dos personagens, expondo camadas mais complexas sobre suas vidas, escolhas, amores, amizades e conflitos internos em meio ao auge da fase juvenil.
Heartstopper volta provando que sabe explorar sua trama em uma narrativa que progride a cada episódio, deixando o espectador com um sorriso estampado no rosto constantemente, enquanto nos emocionamos. Vale muito a pena dar o play na série novamente.
A 2ª temporada de Heartstopper tem oito episódios de 30 a 35 minutos, cuja duração nem é sentida e a história se desenvolve progressivamente. Enquanto a 1ª temporada apresentou este universo, os personagens e as temáticas em torno como amor, sexualidade, representatividade, bullying, preconceito, amizade e escolhas, desta vez, a 2ª temporada desmembra estes temas de acordo com o que cada personagem sente e vive, fugindo completamente da superficialidade e sem perder o tom leve e singelo proposto pela série desde o início.
Heartstopper: crítica da 1ª temporada
Além disso, enquanto a 1ª temporada também apresentou personagens secundários que não ganharam tanto espaço, a 2ª temporada não se esquece deles e os coloca sob holofotes maiores, adicionando mais pontos positivos à série.
Charlie e Nick
Já vamos começar a falar dos protagonistas, as maiores estrelas da história. Sim, o maior foco de Heartstopper são Charlie e Nick e não há como negar isso. Enquanto a 1ª temporada introduziu o romance entre eles, a descoberta da sexualidade e apresentou algumas problemáticas, a nova temporada irá explorar como eles lidam com esses assuntos e como isso afeta não só o relacionamento do casal, mas também quem está em volta.
De um lado, Nick se descobre que é bissexual e revela à sua mãe, que lhe apoia desde o primeiro minuto. Mas agora, Nick precisa dar mais um passo, o que acaba tornando este o seu maior conflito: como contar e lidar com as reações? Este é o plot central do personagem na qual acompanhamos a temporada inteira, seja Nick tentando contar sobre o seu namoro ao pai, irmão e os demais amigos da escola; criando e perdendo a coragem no auge do desejo de revelar sobre quem ele é de verdade; engolindo comentários ariscos e rudes; encarando olhares julgadores, que se intensificam e debocham pela não compreensão de sua bissexualidade, rotulando o personagem de ser somente gay ou hétero. Tudo isso enquanto desfruta do relacionamento e do amor que tem por Charlie, ao mesmo tempo que quer protegê-lo a fim de que tais problemas não lhe atinja também.
Enquanto Nick se debate com este conflito, Charlie afirma sua total paciência em esperá-lo, justamente por saber como é ter a sua sexualidade revelada em meio ao preconceito e suas consequências negativas. Charlie é paciente, doce, complacente e seu amor e compreensão esbanjam em todas as suas atitudes, o que é super fofo de acompanhar.
Mas Heartstopper não mostra só o lado doce da laranja de tudo, e nesta 2ª temporada vemos os efeitos colaterais emergirem diante dos sofrimentos que já ocorreram e que vão ocorrer. Enquanto Nick lida com a importância de contar às pessoas sobre seu namoro, Charlie começa a expor os efeitos do bullying que sofreu, a baixa autoestima alimentada pelo preconceito e o amor próprio que se esvaiu, cujo valor voltou a ser recuperado somente agora.
Nesta 2ª temporada, vemos Charlie ter problemas com a alimentação, distorção da imagem e a vontade de poder gritar aos quatro cantos que está feliz e que alguém o ama e lhe valoriza. Claro que ele respeita o tempo de Nick, enquanto o próprio também deseja sentir o alívio de ser quem é para tirar esse peso de suas costas e também de Charlie. Há uma conversa íntima em que Charlie revela o sofrimento que passou, que é uma das cenas mais sensíveis desta temporada, em que o espectador se coloca na pele do protagonista e deseja que mais ninguém passe por isso.
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Sem tem personagens que ganham camadas mais complexas nesta temporada são Nick e Charlie, que também não hesitam em demonstrar o amor que sentem um pelo outro, na qual a gente se identifica com este amor adolescente, que cria ‘borboletas no estômago’ e faz esquecermos do tempo e das responsabilidades. Inclusive, isso acaba atrapalhando o Charlie na escola, o que faz os seus pais serem mais firmes ao ponto de debater uma certa distância entre ele e Nick, a fim de que não prejudique o filho nos estudos.
Enquanto isso, vemos Nick lidar com a distância e frieza do pai Stephane (Thibault de Montalembert), que nunca se esforçou em ser presente na vida dele; e o irmão mais velho David (Jack Barton), um dos personagens mais babacas da série, especialmente ao revelar seu lado homofóbico ao descobrir que Nick é bissexual. A cena em que a Tori (Jenny Walser) – irmã de Charlie – dá um ultimato em David é simplesmente genial!
Aliás, outro ponto positivo de Heartstopper é que uma parte da 2ª temporada se passa na sequência em que a escola leva os alunos a um passeio em Paris, com cena lindas no Louvre, Arco do Triunfo e a Torre Eiffel, onde não só acompanhamos com minuciosidade a trama de Charlie e Nick, mas também desfrutamos das subtramas dos demais personagens.
Coadjuvantes sob holofotes
Juntamente com os protagonistas, a 2ª temporada de Heartstopper aumenta os holofotes aos personagens secundários, inclusive aqueles que ficaram mais apagados na temporada anterior.
Finalmente vemos o clima romântico rolar entre Tao e Elle, cujo sentimento fora criado e alimentado na 1ª temporada. Agora, os dois encaram o que sentem um pelo outro, enquanto cuidam da forte amizade entre eles, algo que ambos jamais querem destruir. Mas claro que o sentimento fala mais alto, enquanto novos desafios surgem, o que dá uma chacoalhada em Tao, uma vez que ele não quer perder esta amizade e amor, mas também está ciente do quão importante é esta nova oportunidade que Elle recebeu.
Heartstopper também dá espaço para explorar o relacionamento de Tara e Darcy, duas personagens bem cientes e firmes com relação à sua sexualidade. Se a 1ª temporada vimos este casal convicto sobre seus sentimentos, os novos episódios revelam alguns buracos escondidos nesta relação, como alguns segredos de Darcy que são expostos aqui na trama, como por exemplo, o relacionamento conturbado dela com a mãe e o fato de Tara nunca ter ido à casa da namorada. Aliás, a série usa das inserções animadas para mostrar que há algo mais nebuloso no plot da Darcy – desenho da nuvem escura em torno da casa dela é genial.
Outro personagem que dá uma guinada e surpreende é Isaac, que continua firme e forte em suas leituras e também dá ótimas dicas de livros nesta nova temporada. Agora, o personagem vai além das páginas de sua zona de conforto e começa a mostrar como ele enxerga, sente e entende sobre o que é amor e sexo para ele, o que faz o espectador tem uma compreensão e um carinho mais amplo a este personagem.
Aliás, as cenas em que ele está na roda dos amigos em casal, enquanto ele é o único que está sozinho é de partir o coração, pois são estas cenas que faz Isaac finalmente descobrir quem ele é, dando os primeiros passos para se aprofundar e entender melhor sobre sua sexualidade. No entanto, gostaria que os demais personagens dessem um apoio maior ao Isaac, da mesma forma como dão quando Charlie, Nick, Tao ou Elle estão com problemas. Espero que façam isso na 3ª temporada.
Por fim, quem também ganha camadas satisfatoriamente intensas é Ben, que demonstra remorso pelo que fez ao Charlie na 1ª temporada, um sentimento dúbio diante do olhar do espectador. Ben sente ciúmes ao ver que Charlie é querido, amado e valorizado por Nick e os amigos. Isso faz o público questionar se tal arrependimento é verdadeiro ou apenas um ressentimento enciumado por ter perdido alguém que estava sob seu controle? Aliás, há um diálogo muito bom entre o Charlie e o Ben na reta final da temporada, em que o público finalmente entende como o Charlie se sentia dentro deste relacionamento tóxico. O desfecho de Ben é muito interessante, deixando dúvidas sob o seu retorno na 3ª temporada.
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Heartstopper também presenteia os fãs com mais cenas doces e maravilhosas de Olivia Colman como a mãe de Nick, além de um plot interessante dos professores Ajayi e Farouk. Assistam e descubram.
Considerações finais
A 2ª temporada de Heartstopper eleva o grau de superioridade da série ao mostrar sensibilidade e amadurecimento em explorar camadas complexas dos personagens e temas envolventes e atuais, especialmente voltados à comunidade LGBTQIAPN+, sem jamais deixar de lado a leveza, diversão e a atmosfera romântica da história.
Heartstopper entrega uma 2ª temporada progressiva e envolvente, na qual você se emociona e se sensibiliza em momentos cruciais, começando e terminando cada episódio com um sorriso estampado no rosto.
OBS: Lembrando que Heartstopper já está renovada para 3ª temporada.
Ficha Técnica
Heartstopper
Criação: adaptação das HQ’s de Alice Oseman
Elenco: Joe Locke, Kit Connor, Sebastian Croft, Yasmin Finney, Chetna Pandya, William Gao, Fisayo Akinade, Joseph Balderrama, Cormac Hyde-Corrin, Alan Turkington, Rhea Norwood, Corinna Brown, Kizzy Edgell, Tobie Donovan, Olivia Colman, Jenny Walsh, Nima Taleghani, Leila Khan, Araloyin Oshunremi, Chetna Pandya, Georgina Rich, Joseph Balderrama, Thibault de Montalembert e Jack Barton.
Duração: 2ª temporada (8 episódios 30min)
Nota: 4,0/5,0