Para quem nunca teve contato com o videogame, posso dizer que a adaptação Uncharted: Fora do Mapa é um bom e genérico filme de ação e aventura, além de ser o típico entretenimento ‘sessão da tarde’ para passar o tempo. O que isso significa? O longa apresenta qualidade na produção, tem um elenco de peso que sabe segurar a atenção do público na tela, cenas de ação que empolgam, mas um roteiro que não traz ousadia e inovação, caminhando para a boa e velha trama de caça ao tesouro já visto em outros filmes. É um filme legal e apenas isso.
Com direção de Ruben Fleischer, Uncharted: Fora do Mapa dá início com Nathan Drake despertando de um desmaio em pleno céu aberto durante a queda de um avião. Assim, a cena é cortada e o filme é rebobinado para 15 anos atrás em que conhecemos Nathan (Tiernan Jones), de apenas 12 anos, ao lado do seu irmão Sam (Rudy Pankow), que se infiltram em um museu à procura de um famoso mapa que guarda o caminho secreto que leva a um navio carregado de ouro, cuja busca está registrada em alguns momentos históricos, passando pelas mãos de pessoas ambiciosas e perigosas. Por conta desta invasão, Sam foge para não ser preso pelas autoridades, prometendo um dia, voltar para buscar o irmão.
Os anos se passam e, agora, a trama acompanha a versão jovem adulta de Nathan, que trabalha como barman e faz ‘picos’ roubando alguns clientes para obter um lucro a mais. Mas sua rotina é chacoalhada ao conhecer Victor Sullivan, conhecido por Sully, que admite ter conhecido Sam anos atrás por conta deste tesouro e, agora, deseja da continuidade a esta caçada ao lado de Nathan, que aceita a proposta com o intuito também de reencontrar o seu irmão. Assim, a dupla parte em uma perigosa busca pelo “maior tesouro nunca encontrado”, enquanto rastreiam pistas para achar o paradeiro de Sam.
Como nunca tive contato com o videogame, não tenho propriedade para fazer comparações entre o game e a adaptação. Mas como crítica e espectadora, posso afirmar que Uncharted: Fora do Mapa é mais um filme de ação e aventura de encher os olhos seja com a produção ou o elenco, cumprindo a proposta de entreter o público ao estilo ‘sessão da tarde’.
Em termos de produção, o filme entrega cenas de ação repletas de efeitos especiais engrandecedores, como a cena do leilão que, por sinal, é divertida com a sequência de roubo de uma peça valiosa e chave deste quebra-cabeça, além da fuga de Nathan e Sully; a famosa cena do avião em que Nathan é atingido por vários caixotes – incluindo um carro – e fica preso até cair no mar; todas as cenas de corrida pelas cidades por onde os personagens passam, além das pistas que encontram levando cada um a cair em uma armadilha para, por fim, encontrar o que realmente deseja ou se frustrar com o que se depara.
Isso é apenas alguns dos muitos exemplos que o filme apresenta, uma vez que todo o desenvolvimento da trama é baseado nesta aventura épica, mas também surreal, já que a história se propõe a fugir da realidade em diversos momentos em que os protagonistas são constantemente colocados em situações de perigo sem grandes efeitos colaterais. Quando tal detalhe é lembrado, o personagem ganha um corte na testa, um machucado no braço, assim por diante. Mas quando algo mais intenso ocorre, o público mal enxerga o sangue escorrer da ferida, o que torna certos momentos superficiais e menos empolgantes. Mesmo se tratando de uma adaptação de um videogame, acredito que a produção poderia ter tomado um cuidado maior e melhor em tornar certas ocasiões mais realistas.
Com relação à narrativa, Uncharted: Fora do Mapa acaba se tornando genérico por entregar mais do mesmo que já vimos em outros filmes. Aliás, é possível lembrar de Indiana Jones, Tomb Raider e A Lenda do Tesouro Perdido enquanto se assiste Uncharted, já que a história é genérica ao acompanhar uma dupla vivendo uma grande aventura e enfrentando vários obstáculos e inimigos para encontrar um navio repleto de ouro e um rapaz desaparecido. Em termos de história, o filme não traz ousadia e não sai da zona de conforto ao mergulhar no gênero aventura com foco em caçadas épicas e deslumbrantes. É um entretenimento que satisfaz se o espectador não criar expectativas. Talvez quem seja fã do game, acabe criando uma ilusão com relação à fidelidade do filme com o jogo.
Toda a aventura épica desta história genérica ainda se salva pelo elenco que sabe segurar as pontas do início ao fim, como é o caso de Tom Holland e Mark Wahlberg. Apesar de nenhum dos protagonistas apresentar um diferencial que ressalte em suas performances, a química da dupla funciona por ser desafiada constantemente com o jogo da confiança, uma vez que Sully não disfarça certo egoísmo em pensar em si mesmo, enquanto Nathan lhe dá um voto de credibilidade, mesmo com um pé atrás.
A dinâmica dos dois tem equilíbrio, junto à construção desta parceria um pouco conturbada, mas que dá certo. Aliás, não tem como negar que o filme esbanja e se aproveita muito da imagem de Tom Holland, sua exuberância e sex appeal como Nathan Drake, seja ele sem camisa, se exercitando, todo molhado ou ao estilo bad boy com jaqueta de couro e gel no cabelo.
Nesta aventura, Nathan e Sully contam com a ajuda de Chloe, interpretada por Sophia Ali, outra personagem que testará a confiança da dupla e trará algumas reviravoltas interessantes para dar uma chacoalhada na narrativa. Chloe é uma adição positiva ao enredo, apesar de não ter sido bem aproveitada na reta final.
Já na parte dos antagonistas, Uncharted: Fora do Mapa conta com a participação de Antonio Banderas como Santiago Moncada, que faz parte de uma antiga família que busca pelo tesouro há anos. Ele toma atitudes radicais e irremediáveis, especialmente com quem tenta ficar no seu caminho. Para isso, ele conta com a ajuda da sua assistente pessoal Braddock, contratada para eliminar todos os obstáculos possíveis, especialmente o Sully, uma vez que ambos já tiveram encontros desagradáveis no passado. A personagem da atriz Tati Gabrielli ganha uma construção genérica, em que ela serve para dificultar a trajetória dos protagonistas. No entanto, Braddock protagoniza uma reviravolta que, talvez, alguns fiquem surpresos, como foi o meu caso.
Aliás, para não dizer que não sei absolutamente nada sobre o jogo, o filme conta com a participação especial do ator Nolan North, que interpreta Nathan Drake no game, em uma cena descontraída e irônica com Nathan e Chloe. Assista e descubra.
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Talvez, um ponto que possa ser um incômodo para alguns são os diálogos que se debruçam em piadinhas sem graças como alívio cômico no filme. Alguns momentos funcionam, enquanto outros tornam-se apenas forçados e desnecessários. No quesito informação, os diálogos são bem diretos na explicação sobre o próximo passo a ser dado pelos personagens.
Considerações finais
A reta final é repleta de ação surreal e fantasiosa, em que é possível até recordar da ambientação dos filmes Piratas do Caribe, com direito a lutas entre navios içados por helicópteros sobrevoando o mar, decisões arriscadas e, finalmente, escolhas certas e altruístas. Mas não pense que a história acaba por aí, já que o filme entrega duas cenas extras indicando uma possível nova aventura de Nathan e Sully.
Uncharted: Fora do Mapa não apresenta ousadia e inovação ao entregar uma história de aventura e ação genérica sobre caça ao tesouro, mas acerta na produção, apesar de não ser tão realista como poderia em certos momentos e se sustenta pelo protagonismo de Tom Holland e Mark Wahlberg em uma trama que, pelo menos, sabe entreter.
Se você curte este gênero e caso seja fã do videogame, Uncharted: Fora do Mapa chega às telonas para você matar a curiosidade, cujas expectativas e opiniões ficarão divididas entre o público.
Ficha Técnica
Uncharted: Fora do Mapa
Direção: Ruben Fleischer
Elenco: Tom Holland, Mark Wahlberg, Sophia Ali, Antonio Banderas, Tati Gabrielle, Rudy Pankow, Tiernan Jones e Alana Boden.
Duração: 1h56min
Nota: 2,5/5,0