Em julho, a Netflix traz uma produção que chama a atenção, especialmente dos fãs de terror. A trilogia Rua do Medo (Fear Street) chega no serviço de streaming de forma consecutiva e promete desvendar uma trama de horror, mistério e maldição e muito sangue. Posso dizer que Rua do Medo Parte 1: 1994 começa a história com o pé direito, apresenta bons personagens e uma investigação instigante que mistura humor e bons sustos. Um terror divertido que prende a sua atenção do início ao fim, deixando bons ganchos para o próximo capítulo.
Adaptada da série de horror de R.L Stine, a trilogia Rua do Medo conta a sinistra história de Shadyside. O primeiro filme se passa em 1994 e a trama acompanha um grupo de adolescentes que descobre eventos aterrorizantes que assombram a cidade há gerações e que podem estar conectados, tornando esses amigos as próximas vítimas deste mal.
De imediato, o filme revela que as cidades Shadyside e Sunnyside são completamente opostas. Enquanto uma é marcada por assassinatos e uma maldição que assombra quem vive lá, Sunnyside é a cidade do calor, da paz e do bem-estar, o refúgio certo para quem quer largar o lado sombrio, o que acaba criando certa rivalidade entre os moradores, especialmente os adolescentes.
Assim, a primeira sequência revela o quão perturbador Shadyside é ao mostrar o assassinato sangrento de uma das estudantes do colégio, Heather (Maya Hawke). Apesar de se tornar uma investigação previsível, já que o culpado foi pego, os eventos crescem e mais mortes acontecem, reforçando a lenda da cidade ser amaldiçoada.
Crítica: Um Lugar Silencioso – Parte 2
O próprio filme entrega spoilers da sua trama logo nos créditos iniciais ao contar sobre a existência de uma bruxa na cidade séculos atrás, motivo pelo qual muitos acreditam na maldição. A partir daqui o espectador acompanha o grupo de amigos que vai desvendar os demais assassinatos e descobrir o que ou quem está por trás de tudo isso.
Rua do Medo Parte 1: 1994 é um terror slasher por entregar o melhor do clichê deste gênero: um assassino psicopata que usa uma máscara para cobrir sua identidade e coleciona vítimas; o filme não mede esforços ao entregar cenas bem sangrentas, o que é um ponto funcional e positivo. Além disso, o que torna o longa mais atrativo são os personagens que usam da ousadia, perspicácia e inteligência para desvendar a maldição que assombra a cidade e desperta curiosidade sobre sua origem no espectador.
Com isso, conhecemos Deena (Kiana Madeira), seu irmão Josh e os amigos Kate e Simon que vão mergulhar nesta onda de mortes na cidade, quando uma briga com o grupo da escola de Sunnyside acontece, envolvendo a ex-namorada de Deena, Samantha, que acaba se tornando elemento principal da trama ao se envolver em um acidente e despertar a fúria do mal que atormenta Shadyside.
Como disse, o que torna Rua do Medo Parte 1: 1994 interessante é que o filme desfruta dos melhores talentos e das personalidades dos personagens, sem reduzi-los aos estereótipos de adolescentes bobos, com a mente pequena e fáceis de serem mortos, algo que acontece em muitos filmes de terror, sendo slasher ou não.
O filme trabalha bem a relação de Deena e Samantha e a razão para terem terminado o namoro, culminando na mudança de Sam para Sunnyside, um ponto que ajuda no desenvolvimento da história, especialmente pelo fato dos sentimentos das duas ser algo forte e que ajuda na investigação desta maldição com decisões ousadas, arriscadas e boas.
Do grupo, quem realmente surpreende é Josh (Benjamin Flores Jr), que poderia ser rotulado como o irmão chato da Deena, que não ajuda em nada e só fica na frente do computador conversando em um chat online. O personagem é completamente o oposto e traz com o seu lado nerd, curioso e observador – que inclusive, é zoado e criticado pelos outros – as informações mais relevantes para desvendar a maldição. Josh conta sobre os assassinatos já cometidos na cidade, o padrão disso acontecer, quem pode estar por trás e as possibilidades para desfazer este mal. Tudo isso faz os demais personagens terem um novo olhar sobre Josh, o que faz ele se tornar um dos favoritos do espectador.
Já os amigos de Deena, Kate (Julia Rehwald) e Simon trazem ousadia, astúcia e ação ao filme com atitudes mais radicais e dinâmicas, como ficar de frente com o assassino, ir até o local de origem amaldiçoado e não ter medo de dizer palavras duras e verdadeiras para as pessoas que amam, como é o caso de Kate e Deena, uma amizade na qual você torce o tempo todo para que nada dê errado. Já Simon (Fred Hechinger) aparenta ser o amigo bobo, mas também sai do círculo da previsibilidade e entrega momentos que conquistam ainda mais o público.
De todos, a personagem que conquista menos é a Sam (Olivia Scott Welch). É possível entender certas atitudes da garota por tudo que ela está passando, inclusive ser o alvo principal do mal, mas a garota não causa uma empatia maior ou tem atitudes mais divertidas com o grupo a ponto de despertar a simpatia do público. Você não quer que o pior aconteça com ela, mas também não se importa tanto como com os demais personagens que são muito melhores.
Se o filme funciona bem é graças aos personagens principais que não perdem tempo e elaboram planos arriscados e bons para quebrar a maldição. As cenas são sombrias, assustadoras na medida certa e regadas de sangue, mas sem se debruçar somente neste elemento.
Crítica: Em Um Bairro de Nova York
Claro que todo filme de terror tem a polícia que não ajuda em quase nada, e em Rua do Medo Parte 1: 1994 não seria diferente. No entanto, o policial Nick Goode (Ashley Zuckerman) aparenta carregar segredos e saber o que realmente acontece na cidade, como na cena em que deixa um bilhete na casa de alguém dizendo que tudo está acontecendo de novo. Para quem ele escreveu esta mensagem? O que ele realmente sabe sobre a maldição?
Considerações finais
A reta final do filme é repleta de cenas sangrentas e boas reviravoltas em que alguns acabam deixando momentos tristes na qual o público torcia para não acontecer. Por ser tratar de uma trilogia, o primeiro filme é uma grande introdução de muita coisa a ser desvendada, afinal, a trama trata de uma maldição de séculos atrás, em que há sobreviventes, novas mortes vão acontecer e a investigação sobre este mistério está apenas começando.
Rua do Medo Parte 1: 1994 deixa bons ganchos para o segundo filme que irá se passar em 1978, quando uma série de assassinatos acontece em um camping. O filme agrada com uma história envolvente sobre mistério, morte e maldição, acerta nos elementos do gênero slasher e apresenta personagens cativantes por quem você torce até o fim.
Se você curte este tipo de filme de terror, fica a dica e assista o primeiro filme da trilogia Rua do Medo. Espero que os outros filmes sejam bons ou até melhores que este.
Ficha Técnica
Trilogia Rua do Medo
Rua do Medo Parte 1: 1994
Direção: Leigh Janiak
Elenco: Kiana Madeira, Olivia Scott Welch, Benjamin Flores Jr, Julia Rehwald, Fred Hechinger, Ashley Zukerman, David W. Thompson, Noah Bain Garrett, Charlene Amoia e Jeremy Ford.
Duração: 1h45min
Nota: 7,9