Rainhas do Crime (The Kitchen) nada mais é do que um trio de mulheres que mergulham no mundo do crime não só para cuidar da comunidade, como impor o título de liderança feminina, prezar pela família e ressaltar o empoderamento e a força em uma época preconceituosa e perigosa. É uma premissa instigante que desperta a curiosidade do espectador, ainda mais por ganhar uma interpretação de um elenco de ponta de Hollywood. Mas será que, no geral, o filme é bom?
Baseado na série de quadrinhos do selo Vertigo, da DC Entertainment, de Ollie Masters e Ming Doyle, Rainhas do Crime acompanha três mulheres donas de casa que cuidam da família no bairro Hell’s Kitchen, Nova York, em 1978. Quando seus maridos mafiosos são flagrados e levados à prisão por alguns anos, elas são deixadas sem recursos para seguir a diante sem os homens da casa. Assim, Kathy, Claire e Ruby decidem tomar para si as questões da máfia irlandesa provando, repentinamente, que estão prontas para negociar, gerenciar os negócios ilegais, e até eliminar a concorrência. O mundo do crime acaba se tornando um vício irremediável para as três mulheres. Isso faz até lembrar da série Good Girls, não é mesmo?
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Com direção e roteiro de Andrea Berloff, o filme, no geral, paira no meio termo: ora não é ruim, mas também não apresenta um roteiro perfeito, muito menos decisões que podem agradar a todos ou levar a trama a um percurso positivo e forte. Assim que os maridos são presos pela polícia – que os vigiam há tempos – as mulheres sentem um mix de sensações, desde a insegurança e o medo em prover o auto sustento, uma vez que elas não têm uma renda ou um trabalho, até o alívio e a liberdade de viver longe da agressividade e do menosprezo de seus parceiros.
Aqui, o roteiro engata com agilidade fazendo o público acompanhar tal mudança com facilidade e o passo a passo de como entrar no mundo de gângsteres, reunir aliados, procurar aqueles que necessitam de ajuda, as fontes certas para o lucro e uma boa percepção de seus inimigos e traidores. As trocas de favores obtêm bons resultados, enquanto para aqueles que não acatam o acordo, as consequências são trágicas, desde para o salão de beleza que precisa de um certificado para exercer a profissão; condições favoráveis para o açougueiro trabalhar com tranquilidade em seu comércio; a segurança das lojas de joias pertencentes às famílias judaicas, entre outros pontos.
Ao mesmo tempo que o roteiro apresenta certa rapidez ao entregar os fatos e seus desenvolvimentos, há outros em que a história estagna, dando a impressão de que algo vai demorar a acontecer, além de que o filme tem mais de duas horas de duração (e não tem), o que pode ser um fator cansativo e negativo para alguns.
Ainda com este contratempo, Rainhas do Crime ressalta pontos interessantes sob excelente interpretação, como o empoderamento feminino em uma década preconceituosa com as mulheres, especialmente os negros; o preconceito da mulher em exercer uma profissão, a não ser cuidar da casa e dos filhos; relações abusivas, problemas psicológicos, entre outras coisas que conversam muito bem com os dias atuais, uma vez que essas mesmas situações ainda são recorrentes na realidade de muitas mulheres.
O roteiro tem seus altos e baixos, mas o filme prende a atenção dos espectadores graças ao trio de protagonistas bem escolhidas. Melissa McCarthy se torna um camaleão do cinema, funcionando muito bem em filmes de comédia, drama voltados para premiações, aventura e, agora, crimes. A personagem Kathy tem decisões mais ponderadas e determinadas, sempre pensando nos prós e contras para suas amigas e as respectivas famílias.
Tiffany Haddish entrega uma Ruby mais astuta, impetuosa, radical, afiada e sempre com uma carta escondida na manga, pronta para atacar se for preciso. Digamos que ela é se torna uma boa caixinha de surpresas. Suas cenas com a sogra, vivida por Margo Martindale, são ótimas.
Por ter uma experiência formidável em seu papel na série The Handmaid’s Tale, Elisabeth Moss traz uma ótima carga dramática, retratando uma Claire insegura, medrosa, tímida e sofredora por viver anos em um relacionamento extremamente abusivo, passando por uma transformação radical ao entrar no mundo do crime com as amigas e a conviver com Gabriel (Domhnall Gleeson) um amigo do passado. As suas atitudes se tornam um tanto quanto macabras em alguns momentos, chocando um pouco, mas acaba fazendo o público ficar a seu favor o tempo todo.
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Apesar de termos um trio excelente em ação, a história prega peças que, talvez, não agrade muito. Há um plot twist que, a meu ver, torna-se injusto para determinada personagem, o que muda a atmosfera da trama e faz a história caminhar para um desfecho que poderia ter sido um pouco mais empolgante, se tivesse aproveitado melhor tal mudança de rumo, junto com outras revelações que surgem no terceiro ato do filme. O final fica meio balanceado, dando certa satisfação, ao mesmo tempo que faz o público crer que poderia ser mais instigante.
Considerações finais
Rainhas do Crime é um filme de gângsteres protagonizados por um trio de atrizes que entregam ótimas performances. O filme tem agilidade no início, mergulha em boas temáticas, ganha um ótimo cenário de Nova York da década de 70, transformações radicais, mas falha com reviravoltas injustas que fazem o filme perder o ritmo para o seu desfecho.
Vale a pena assistir? Melissa, Elisabeth e Tiffany juntas é um bom motivo para você conferir esta trama, mesmo com alguns tropeços.
Ficha Técnica
Rainhas do Crime
Direção: Andrea Berloff
Elenco: Melissa McCarthy, Elisabeth Moss, Tiffany Haddish, Domhnall Gleeson, James Badge Dale, Brian d’Arcy James, Margo Martindale, Common, Bill Camp, Jeremy Bobb, Alicia Coppola, John Sharian, Myk Watford, Annabella Sciorra, Manny Ureña e Gabriel Rush.
Duração: 1h42min
Nota: 7,0