Se você pudesse escolher o seu final feliz, como seria? E se você realmente tivesse a chance de vivê-lo, você aceitaria esta oportunidade? Este é só o começo de uma premissa encantadora de Perdida, adaptação do livro da autora brasileira Carina Rissi, que apresenta uma história que prende a atenção com um romance envolvente, ambientação e fotografia que emolduram o nosso olhar, bom elenco e um casal de protagonistas que esbanja uma química de milhões. É um filme gostoso e apaixonante de assistir.
Com direção de Luiza Shelling Tubaldini, Perdida acompanha Sofia (Giovanna Grigio), um mulher super conectada, determinada no que quer para sua vida, progressista e independente. Ela é totalmente focada no seu trabalho, mas quando se trata de amor, ela tenta se esquivar a todo momento e tem pavor da palavra ‘casamento’. Os únicos romances de sua vida são os da autora Jane Austen, única válvula que permite o contato com tal sentimento.
Sofia trabalha em uma editora de livros e seu atual e maior projeto é lançar uma nova edição de Orgulho e Preconceito de Jane Austen completamente repaginado e com informações a mais que atraiam os leitores apaixonados pela autora. Mas quando ela vê a sua ideia indo por água abaixo no momento em que um colega detona o seu trabalho durante uma reunião (porque levou um fora da protagonista), Sofia fica desencantada com todo o esforço que fez para levar este projeto adiante.
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Para complicar um pouco mais, ela recebe a notícia que sua melhor amiga e irmã de coração Nina vai se casar e se mudar para Austrália, o que deixa Sofia sem chão, fazendo com que ela desiluda e magoe a amiga com palavras duras sobre o amor.
Ao pegar um táxi, uma motorista bem peculiar lhe empresta o celular durante a viagem e, acidentalmente, esquece com Sofia. Enquanto sobe as escadas do prédio e atende uma misteriosa chamada, Sofia é magicamente transportada para um mundo diferente, mais precisamente no século XIX, que se assemelha ao universo de Jane Austen.
Enquanto tenta desesperadamente encontrar um meio de retornar ao mundo em que vivia, Sofia é acolhida pela família Clarke e, com a ajuda do prestativo Ian Clarke, embarca numa busca frenética por pistas que possam ajudá-la a resolver esse mistério e voltar para sua tão amada vida moderna. O que ela não sabia é que seu coração tinha outros planos.
Como não li o livro da autora Carina Rissi, não farei comparações entre adaptação e obra original. Esta crítica será totalmente focada no filme.
O primeiro ponto positivo de Perdida é a narrativa doce, envolvente, linear e nada corriqueira que, aos poucos, envolve o espectador na jornada da protagonista em meio ao mistério de viajar para um tempo aquém do seu, o contraste entre as épocas, as personalidades dos personagens carismáticos, os desejos que se dividem entre o emocional e racional e a expectativa sobre qual escolha será feita para o aguardado final feliz.
O filme faz questão de trazer o contemporâneo e antigo mesclá-los de forma nítida e natural, sem soar forçado ou robótico. Nos dias atuais, o filme ganha cenários modernos, trânsito, figurinos despojados, paletas de cores fortes e a típica tecnologia para embalar a contemporaneidade. No instante em que Sofia é levada para o século XIX, a ambientação ganha uma roupagem antiga, com paleta de cores pastéis, paisagens rústicas que podem ser, facilmente, uma pintura para se apreciar, figurinos de época e coloridos, além do linguajar formal e apropriado daquele tempo, assim como a postura e o comportamento cabível aos homens e as mulheres.
Um ponto a se ressaltar é que quando a protagonista é transportada para o século XIX o longa ignora a escravidão no Brasil. No entanto, vemos que o filme adiciona personagens negros nobres, mas não explica a ausência da escravidão ou como os negros fazem parte da nobreza desta época, assim como a série Bridgerton contextualiza em sua trama. Talvez esta tenha sido uma forma encontrada para redimir a não abordagem de um tema relevante que, mesmo se tratando de uma história de fantasia, havia jeitos de ressaltar esta temática e com mais sutileza.
Com relação ao elenco, posso dizer que Perdida acerta em cheio, especialmente no casal de protagonistas. A atriz Giovanna Grigio é a escolha certa para interpretar Sofia e ela entrega uma personagem forte e dedicada aos seus objetivos. Mas quando se trata do amor, seu coração fica completamente fechado, o que a impede de dar uma chance a felicidade, não botando fé também na felicidade dos outros, como ela acaba fazendo com a amiga Nina e a magoa sem querer.
Mas é a paixão pelos romances de Jane Austen que faz Sofia viver este amor de época igual ao que lê nas páginas, fazendo ela ter um contato intenso ao sentimento quando se depara com o jovem Ian Clarke. Interpretado por Bruno Montaleone, Ian é um rapaz super cobiçado pela corte feminina, afinal, ele precisa casar, o que não é sua prioridade (mesmo sendo imposta pela sociedade) quando tem o carinho e a necessidade de cuidar da casa, dos negócios e de sua irmã mais nova, Elisa, depois da morte de seus pais. Ian é a personificação do homem ideal dos livros de romance, não é à toa que Sofia se encanta por ele, mas também não facilita a aproximação, o que aumenta ainda mais o desejo.
Ian se vê encantado com a modernidade de Sofia, que não abaixa a cabeça para ninguém, fala o que pensa e sempre tem a resposta na ponta da língua, algo que contrasta fortemente com a época. Uma mulher independente, imponente e com opiniões no século XIX? Quanta ousadia!
E não dá para negar que Grigio e Montaleone entregam uma química fortíssima na tela que dá gosto de acompanhar. O desejo entre eles fala alto e a satisfação é realizada com beijos quentes, sem firulas ou poucos toques. É disso que o fã de romance gosta.
Com relação aos demais do elenco, os personagens coadjuvantes são bons e complementam bem a história. No entanto, senti que alguns poderiam ter feito uma diferença maior, aumentando o caos para deixar a trama mais aflorada e desafiadora. De um lado, o espectador se encanta com a doçura e o companheirismo de Elisa (Nathália Falcão); se envolve e torce para que Valentina (Emira Sophia) alcance sua independência e autossuficiência, saindo do controle de sua avó, Sra. Albuquerque (Lucinha Lins); e se diverte com Abigail (Luciana Paes), responsável para deixar Sofia na situação que se encontra (apenas direi isso).
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Outros personagens que poderiam ter oferecido algo a mais são Teodora (Bia Arantes) e o Dr. Almeida (Hélio de la Peña), já que ambos ganham uma roupagem vilanesca. De um lado, Teodora quer conquistar o coração de Ian e tomar o posto de esposa; Dr. Almeida impõe que Ian se case o quanto antes e é contra toda a postura e o comportamento de Sofia. Se esses antagonismos tivessem ganhando mais força na trama, a protagonista seria mais desafiada. Ainda assim, isso não deixa a história ruim e o público fica envolvido até o fim.
Considerações finais
A reta final de Perdida gera uma expectativa gostosa e torcida para qual final Sofia quer ter em sua vida: retornar a uma realidade moderna em que o amor é apenas um coadjuvante apagado? Ou viver um amor de época que contrasta com quem ela é, mas sua personalidade agrega positivamente a este tempo? Essa resposta você só vai ter se assistir.
Perdida apresenta um romance de época moderno emocionante, divertido, leve e que dá gosto de acompanhar. Mesmo sem ler o livro, o encanto pela história é imediato, assim como os protagonistas cuja química é invejável. Um filme gostoso de assistir a qualquer momento.
Ficha Técnica
Perdida
Adaptação da obra de Carina Rissi
Elenco: Giovanna Grigio, Bruno Montaleone, Nathália Falcão, Bia Arantes, Emira Sophia, Sergio Malheiros, Luciana Paes, Lucinha Lins e Hélio de La Peña.
Nota: 3,8/5,0