Os Órfãos (The Turning) entrega elementos para ser um bom filme de terror: personagens sinistros e misteriosos, uma protagonista que mergulha em uma obscura jornada psicológica, um segredo que mexe com a cabeça de todos e faz ter certa compreensão com relação às crianças e um cenário sombrio e medonho. No entanto, o filme se compromete por inteiro devido às decisões tomadas no desenvolvimento, fazendo o público entender uma coisa, mas se deparar com ações descontextualizadas em alguns momentos e um desfecho decepcionante.
Dirigido por Floria Sigismondi e inspirado na obra ‘A Volta do Parafuso’, de Henry James, Os Órfãos acompanha Kate Mandell, uma jovem professora que é indicada para trabalhar como babá e tutora de uma garotinha que vive em um casarão. O que mais lhe atrai neste novo cargo é o fato de Kate se identificar com a história de vida de Flora que, após a morte dos pais, vive sozinha com uma governanta, enquanto o irmão mais velho, Miles, estuda em um colégio interno. Kate também teve uma infância muito difícil, uma vez que a mãe foi diagnosticada cedo com problemas psicológicos.
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Assim, Kate parte rumo à nova aventura, mas assim que chega ao local, percebe o quão enorme é a casa para apenas pouquíssimas pessoas. Quando conhece a governanta Mrs. Grose e a pequena Flora, ela passa a tomar conhecimento de como funciona o lugar, sendo que algumas regras são peculiares, como o fato de Flora nunca sair do casarão, passeando apenas pela vasta área da propriedade, sem nunca atravessar o portão de saída.
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No entanto, quando o irmão mais velho, Miles, retorna repentinamente para casa, a atmosfera ganha um peso maior de suspense, justamente pelo garoto apresentar uma personalidade estranha, sombria e com um humor macabro, o que faz Kate ter receio de se aproximar dele, ao mesmo tempo em que ela sente necessidade de prestar apoio e ajuda. O clima muda quando a nova tutora descobre os motivos que levaram a última babá ir embora repentinamente, além de descobrir que um antigo professor de Miles nunca foi uma boa influência nem para ele, nem para a irmã. Em meio a essas informações, Kate percebe que coisas estranhas acontecem pela casa, desde sussurros pelos corredores, vultos entre as portas, barulhos até a sensação de que mais pessoas possam estar dentro do casarão. É a partir daqui que a vida de Kate se transforma em uma grande perturbação, sem saber se terá um final bom ou não.
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A princípio, Os Órfãos entrega um roteiro cuja trama tende a dar certo dado aos satisfatórios elementos apresentados, como crianças perturbadas; um cenário gigante como se fosse um labirinto sombrio; atitudes perturbadoras por parte de Miles, o medo de Flora e o que ela realmente enxerga por aqueles corredores, o histórico desta família, assim como a história de vida da própria protagonista que também influencia em suas ações.
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Todos estes pontos fazem com que a trama possa desenvolver uma história sobre espíritos? Sobre um passado que assombra até hoje? Um mal que necessita da coragem de alguém para derrotá-lo? Um possível caso de possessão? Traumas do passado em forma de perturbação psicológica e espiritual? Todos esses pontos citados, de fato, ganham gatilho no filme, fazendo o público acreditar que um destes será o caminho a ser desenvolvido, no entanto, as decisões tomadas na história perdem o fundamento no meio do caminho, fazendo o filme ir ladeira abaixo, uma vez que quer contar tudo, mas acaba não falando nada. Infelizmente, me fez até lembrar do filme Vende-se Esta Casa, que inicia com uma proposta que não chega a lugar nenhum. Os Órfãos tem o mesmo triste destino.
Depois de dois atos compreendendo o que se passa na casa e com os personagens, o filme se perde totalmente no terceiro ato, especialmente quando tenta enganar os olhos do público, fazendo entender uma coisa, utilizar da técnica de ‘imaginação’, retornar a certo ponto de partida para contar o que realmente aconteceu. Entendem o que eu quero dizer? Porém, o roteiro simplesmente não entrega um diálogo explicativo, uma cena visual que faça o espectador captar a mensagem final, tomando apenas o rumo de uma mera perturbação psicológica mal explicada e muito mal feita. Ah, mas se é filme de terror, então há sustos, certo? Infelizmente os jump scares são bem medianos e medíocres, que não causam medo nenhum e, para piorar, os cortes entre uma cena e outra são abruptos, o que diminui ainda mais a atmosfera de medo para o espectador.
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Com relação ao elenco, os atores tentam fazer o máximo possível para entregar algo bom de um roteiro ruim. Mackenzie Davis entrega uma Kate pronta para encarar a nova aventura, mas que vai definhando dia após dia diante de toda a perturbação que lhe é causada. Mas, devido as indecisões do filme, o público fica se saber direito se realmente é o casarão que a modifica ou algo a mais que ela carrega consigo.
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Finn Wolfhard enaltece o que há de mais estranho em seu personagem. Miles retorna para casa após uma atitude agressiva na escola, o que já levanta suspeitas sobre sua personalidade ser violenta. Mas à medida que o garoto vai se revelando para Kate, o público passa a compreender que possa ser uma força exterior agindo sobre ele, no entanto, o filme não decide qual caminho tomar para o personagem. Assim como ele, Brooklynn Prince também entrega uma interpretação satisfatória, uma Flora isolada e solitária, que se vê à mercê do medo que paira sobre o casarão, com receio de fazer algo que possa confrontar algo maior que ela. Mas será que é isso mesmo? Essa é a ideia vendida no filme, mas não há confirmações.
A governanta Mrs Grose (Barbara Marten) está ali apenas para contar a história e instigá-la ainda mais, sem ajudar em muita coisa, o que causa certa frustração e até raiva em quem está assistindo.
Considerações finais
Os Órfãos tem bom elenco, um cenário sombrio e bem construído e elementos funcionais que poderiam fazer a trama dar certo, no entanto, as decisões durante o desenvolvimento fazem a história se perder por completo no último ato, entregando um desfecho desconexo, sem respostas e completamente frustrante.
Ficha Técnica
Os Órfãos
Direção: Floria Sigismondi
Elenco: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten, Joely Richardson, Niall Greig Fulton e Kim Adis.
Duração: 1h34min
Nota: 3,5