Se você, assim como eu, é apaixonado pelo universo sherlockiano, sugiro que você dê uma chance e assista Os Irregulares de Baker Street (The Irregulars), nova série da Netflix que é um prato cheio de mistérios sobrenaturais e investigação com um estilo jovial, mas sem perder a essência da trama de origem na qual é baseada. E vou te dizer por que vale a pena conhecer esta história.
Baseada nos lendários personagens criados por Arthur Conan Doyle, Os Irregulares de Baker Street acompanha um grupo de jovens marginalizados que, na Londres do século 19, são contratados pelo Dr. John Watson para solucionar crimes sobrenaturais, em troca de uma boa grana. Mas à medida que os casos se agravam e se tornam mais aterrorizantes, por conta de um poder sinistro que surge na cidade, o grupo de amigos deve se unir para derrotar essas forças que ameaçam dizimar a cidade. Junto a isso, o grupo mergulha e luta com os seus passados, além de descobrir o que realmente está acontecendo com o maior detetive da história, Sherlock Holmes.
Posso dizer que a série é uma grata surpresa em termos de história, personagens e mistérios. Claro, se você é fã do universo de Sherlock Holmes, se sentirá, no mínimo, curioso para conhecer esta trama. Até para aqueles que nunca tiveram contato com as histórias do detetive, Os Irregulares de Baker Street pode ser uma boa dica para começar, afinal, a série trabalha não só com novos personagens, mas também os veteranos da história de origem, como o próprio Sherlock, Watson, o detetive Lestrade, Mycroft Holmes, irmão de Sherlock e a Sra. Hudson. Mas se você não gosta do personagem principal e seu mundo criado, talvez a série não seja do seu agrado.
Esta 1ª temporada tem oito episódios de 50 minutos que, na minha opinião, passam rápidos. É o tipo de série cujo prazer é assistir aos poucos para apreciar cada caso a ser resolvido, mas isso vai do gosto de cada um.
Primeiras impressões de Falcão e o Soldado Invernal
Ambientada na Era Vitoriana de Londres, o primeiro ponto positivo da série é a sua estética. O cenário de Londres ganha tons escuros e uma atmosfera sombria para retratar a frieza, pobreza e os grandes problemas da cidade que, aos poucos, é tomada por este mal que está chegando. Já as cores mais claras, fortes e reluzentes são usadas para retratar o lado da nobreza da série, como o palácio da rainha e quem faz parte deste reinado. Com isso, a série entrega uma fotografia bonita e que conversa bem com a trama. Já os efeitos especiais são satisfatórios, nada extravagantes ou considerados uma obra de arte. São efeitos possíveis de se relevar e que apenas ilustram os momentos em que o sobrenatural se sobressai na cena.
Narrativa
Os Irregulares de Baker Street segue uma narrativa base em que o espectador conhece cada personagem, seus dramas, objetivos e a conexão que há entre eles. Junto a esta narrativa, a série desenvolve um caso a ser investigado em cada episódio, levando os personagens ao clímax principal da trama. Este é outro ponto positivo, pois não torna a série cansativa e nem tediosa de assistir, afinal, algo diferente sempre acontece.
Os Irregulares
A série não só trabalha bem os personagens como também se constrói em cima deles que, por sinal, não ficam a desejar. Na trama, descobrimos que o grupo é formado por Bea, Jess, Spike e Billy, que são órfãos e se conhecem desde pequenos por terem sido criados juntos na ‘Casa de Trabalho’, onde eles também sofreram maus tratos e passaram por maus bocados. Bea e Jess são irmãs inseparáveis, uma sempre protege a outra, mas ambas têm personalidades bem distintas.
Bea (Thaddea Graham) é a personagem principal e que está sempre à frente do grupo. Ela é durona e mais pé no chão diante da realidade que eles vivem, mas tem um coração enorme quando precisa defender quem ama, além de dar a chance para aqueles que tem boas intenções. Ela pode ser considerada ‘a cabeça do grupo’, a principal investigadora, inteligente, que negocia com Dr. Watson e aceita os casos mais medonhos que aparecem.
Jess (Darci Shaw) é a irmã caçula e a mais frágil do grupo, mas há um motivo: ela carrega um dom enigmático que, aos poucos, ela investiga e desvenda o tamanho do seu poder. Mas até lá, ela é descrita como fraca, medrosa e até louca o que, logo de cara, o público já sabe que é mentira. Jess é uma personagem que chama a atenção a cada episódio.
Já assistiu a série Amigas Para Sempre?
Billy e Spike são mais coadjuvantes, mas não deixam de ser importantes na trama. Enquanto Billy (Jojo Macari) representa a força e a bravura para proteger os amigos, Spike (McKell David) usa sua perspicácia e lábia para conseguir as pistas que precisa, além de ser a conexão, a ‘cola’ que une o grupo.
Leopold (Harrison Osterfield) é a surpresa do grupo, afinal, ele é o príncipe de Londres, mas considerado o filho mais fraco da rainha, o que faz ele ficar isolado constantemente no palácio. A forma como ele conhece o grupo é uma grande coincidência, mas como ele se infiltra é um pouco forçada e não há como negar isso. Mas, mesmo assim, é possível relevar, pois o personagem conquista nossa atenção de imediato, uma vez que Leo se torna o ‘cérebro’ do grupo.
Os detetives
Os personagens veteranos do universo sherlockiano ganham uma roupagem diferente na série, o que é normal, já que suas personalidades estão de acordo com a trama desenvolvida. De um lado, temos um Dr. Watson (Royce Pierreson) mais rude, que usa a agressividade nas palavras para esconder seus segredos e um sentimento não correspondido. É ele quem tem o primeiro contato com Bea e, instantaneamente, o espectador desperta a curiosidade em saber a razão de Watson ter escolhido justamente estes jovens. Watson é o braço direito de Sherlock, é ele quem busca pelos casos e faz o detetive brilhar ao trazer soluções mirabolantes e que encantam os olhos de quem os idolatra. Mas um acontecimento no passado faz tudo desmoronar e os segredos surgirem.
Os Irregulares de Baker Street ganha um Sherlock Holmes (Henry Lloyd-Hughes) bem diferente do que estamos acostumados a ver. Já aviso que o personagem aparece a partir do 5º episódio em que a verdade começa a ser desvendada. Sherlock já foi um grande detetive, mas hoje está consumido pelas drogas e pela dor de ter perdido alguém, carregando um passado triste e sombrio que afetou suas grandes habilidades de investigação. Por conta disso, o público acompanha um Sherlock quebrado, frágil e que tenta se reerguer para, pelo menos, fazer a coisa certa pela última vez.
******CONTÊM SPOILERS******
O grande mal
Esta segunda parte do texto conterá alguns SPOILERS para trazer mais detalhes sobre a trama.
Os Irregulares de Baker Street gira em torno de um grande mal que chega para dizimar Londres por conta de uma abertura entre o mundo mortal e o sobrenatural. Esta é a razão dos casos bizarros acontecerem, uma vez que as pessoas adquirem poderes sobrenaturais com o intuito de conseguir o que quer, nem que seja indo para o caminho do mal. A princípio, isso parece algo surreal e extravagante demais, mas a série consegue tornar a trama sobrenatural mais realista, diminuindo o tom fantasioso, o que torna mais agradável de assistir. Dos casos bizarros, os meus favoritos são: O Colecionador, A Fada dos Dentes, o Caso Mycroft e o caso da retirada da pele do rosto das pessoas.
O grande dom
Outro destaque da série é a Jess e o seu grande dom de entrar na mente das pessoas, o que a faz ser intitulada como Ipsissimus, um dos seres mais poderosos da face da Terra, assim como a sua mãe Alice foi. No começo, o público acompanha uma Jess frágil e assustada com os pesadelos sem sentido, mas à medida que ela entende o seu dom, conecta com os casos e passa a ter controle total do seu poder, a personagem vai crescendo cada vez mais e entrega uma evolução até mais madura que a de Bea.
Crítica: Por Trás De Seus Olhos
Aliás, a química de Bea e Jess é fundamental para a dinâmica da série, já que o passado das irmãs tem muito a dizer sobre o que está acontecendo com o grupo no presente. Além disso, é interessante acompanhar como a perda da mãe afetou a Bea e como o mistério da sua morte traz grandes revelações para tudo o que está acontecendo. A série trabalha bem esta subtrama e entrega um desfecho justo e bom.
O mistério do Homem de Terno (Clarke Peters) ganha um desenvolvimento satisfatório e a série engana bem os olhos do espectador e surpreende quando revela as segundas intenções deste homem.
Considerações finais
Mais do que uma história de mistério e investigação, Os Irregulares de Baker Street traz nas entrelinhas uma mensagem bonita sobre a força da verdadeira amizade, mesmo sendo de sangue ou não, em que a união e o amor se sobressaem ao mal. A série entrega um final redondo e sem pontas soltas, caso não haja uma 2ª temporada. Mas acredito que a série ganhará novos episódios.
Ficha Técnica
Os Irregulares de Baker Street
Criação: Tom Bidwell
Elenco: Thaddea Graham, Darci Shaw, Jojo Macari, McKell David, Harrison Osterfield, Royce Pierreson, Henry Lloyd-Hughes e Clarke Peters.
Duração: 1ª temporada (8 episódios 50min)
Nota: 8,0