O Menino Que Queria Ser Rei (The Kid Who Would Be King) traz uma releitura infanto-juvenil de O Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, um filme que encanta crianças, adolescentes e adultos com uma história simples e sem muitas surpresas, mas que envolve em uma jornada sobre bullying, união, autoconhecimento, amizade, família, coragem e perdão.
Dirigido por Joe Cornish, a trama acompanha Alex (Louis Serkis), um menino cuja rotina é simples, mora com a mãe e não sabe sobre o paradeiro de seu pai. Alex tem o complexo de ‘zé ninguém’, por não se achar importante ou útil, especialmente na escola, uma vez que ele e seu amigo Bedders (Dean Chaumoo) sofrem constante bullying de Lance (Tom Taylor) e Kaye (Rhianna Dorris). Em uma das tentativas de fugir dessa dupla, Alex se depara com a mítica espada Excalibur, mas assim que ele a retira da pedra recebe a grande missão de salvar o mundo da feiticeira Morgana (Rebecca Ferguson). Com o tempo se esgotando, o menino precisa fazer exatamente o que a lenda do Rei Arthur diz: reunir cavaleiros fiéis para lutar ao seu lado. No mais improvável cenário, Alex se une justamente aos seus inimigos que, junto a um jovem Merlin, iniciam uma jornada de bravura, honestidade, coragem e união.
Mesmo com algumas ressalvas, O Menino Que Queria Ser Rei é um bom filme que tem chances de atrair o público mirim por trazer a famosa história do Rei Arthur sob a perspectiva de uma criança. No início, a trama faz questão de relembrar a lenda, explicar quem é Arthur e Morgana, como seus caminhos se cruzaram e por qual razão a feiticeira quer retornar à superfície da terra. Assim que Alex encontra a espada, a história resgata o tradicional roteiro da jornada do herói, em que temos o instante em que o protagonista descobre quem é, qual é sua grande missão, a negação de sua identidade heroica, a aceitação da aventura, o ápice e o desfecho.
No entanto, o que atrai a atenção do espectador é a forma descontraída, divertida e um pouco dramática que a história é apresentada, trazendo um protagonista sem pretensão de esconder a sua missão de ninguém e disposto a encarar um desafio que vai além do seu esperado; personagens secundários cujas camadas são descontruídas ao longo do filme, retratando a covardia, coragem, o medo e, o mais importante, a transformação, além de efeitos especiais satisfatórios.
Assim que Alex aceita a missão ao lado de Bedders e Merlim, ele precisa se unir a Lance e Kaye, deixando de lado todas as diferenças a atritos por quais passaram. Ainda assim, o filme utiliza essa rixa para aflorar a vulnerabilidade de cada personagem e trazer dúvidas e inseguranças durante a jornada, ao mesmo tempo em que fortalece e transforma a personalidade e o comportamento de cada um, ressaltando a verdadeira essência e formando um grupo digno de pertencer a Távola Redonda.
Se de um lado temos um grupo que quer salvar o mundo, do outro temos uma vilã vingativa e disposta a destruir tudo. Mais do que isso, o filme faz questão de entregar uma feiticeira Morgana que representa um mal de variadas formas na Terra: crises financeiras, preconceito, raiva, desrespeito, ódio, escassez de água e comida, entre outras coisas. Rebecca Ferguson traz uma interpretação satisfatória, no entanto, a personagem demora muito para entrar em cena, fazendo o público ansiar pelos ataques da antagonista, sendo que as coisas só acontecem no último ato de forma corriqueira.
Designado a ser o Arthur dessa jornada, Alex te cativa na primeira cena. O garoto tem suas inseguranças, mas nada o impede de seguir em frente quando o assunto é salvar o seu planeta. Louis Serkis está bem em seu primeiro papel como protagonista e fica ainda mais divertido quando está ao lado de Bedders, que traz um alívio cômico, mas em alguns momentos sabe se impor quando Alex toma decisões erradas ou tem a pretensão de desistir de tudo, além de conseguir realizar mágicas que irão ajudá-los a combater a vilã.
A dupla Lance e Kaye irrita o público especialmente quando têm atitudes egoístas e agressivas, mas eles conquistam quando mostram quem realmente são em uma transformação positiva.
Uma grata surpresa é Merlim, vivido por Patrick Stewart, no entanto, o personagem tem mais cenas em sua versão jovem, interpretado por Angus Imrie, tornando-se um personagem envolvente, divertido e surpreendente. É bem provável que a criançada aprenda a fazer o famoso gesto das mãos de Merlim ao aplicar alguma mágica ou abrir um portal.
Infelizmente o roteiro tropeça no terceiro ato, levando o público a crer que o filme está acabando, uma vez que o protagonista tem um embate simples, mas definitivo com a vilã, dando um final falso. Isso faz com que a trama perca sua energia que, repentinamente, retoma para o verdadeiro embate, em que o protagonista reúne toda a escola para a batalha final. Chega a ser interessante acompanhar o confronto, no entanto, a quebra de roteiro acaba prejudicando o ritmo da história.
Considerações finais
O Menino Que Queria Ser Rei é uma releitura infanto-juvenil da lenda do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda que se encaixa com a versão bem e mal dos dias atuais. O protagonista é carismático, assim como os personagens secundários, especialmente Merlim. Apesar de ser um filme divertido, ele perde pontos por quebrar o bom ritmo da trama com um final meramente falso.
Ficha Técnica
O Menino Que Queria Ser Rei
Direção: Joe Cornish
Elenco: Louis Serkis, Patrick Stewart, Rebecca Ferguson, Dean Chaumoo Tom Taylor, Rhianna Dorris, Angus Imrie, Denise Gough e Nathan Stewart-Jarrett.
Duração: 2h
Nota: 6,9