O filme nacional O Juízo, dirigido por Andrucha Waddington e com roteiro de Fernanda Torres, narra a história de Augusto (Felipe Camargo) e Tereza (Carol Castro), um casal que resolve se mudar com seu filho Marinho (Joaquim Torres Waddington) para uma fazenda abandonada que pertencia ao avô de Augusto. Essa decisão é tomada por causa de uma crise no casamento gerada pelo alcoolismo e os problemas financeiros do pai da família. Porém essa mansão esconde uma dívida de mais de 200 anos, com Couraça (Criolo) e sua filha Ana (Kênia Bárbara), escravos mortos depois de uma traição cometida por um dos ancestrais de Augusto. A casa é a grande protagonista e é nela onde acontece os principais episódios, em que aprisiona aquela família e os fazem viver diariamente com sua dívida histórica.
Os planos de Augusto, ao se mudar para a mansão, era de encontrar a origem dos diamantes que seu pai sempre sonhou, e sua ambição só aumenta com a proposta de Couraça em lhe dar os diamantes em troca de almas. No entanto, isso o enlouquece aos poucos, assim como enlouqueceu seu pai. Neste momento, a história traz um mistério que até os dias atuais não foi solucionado, a origem dos diamantes no Brasil, principalmente no estado mineiro.
Crítica: Brooklyn – Sem Pai Nem Mãe
O papel de Couraça, que ganhou vida através de Criolo, parece ter sido feito para o rapper, um personagem poético e místico, assim como o artista é na vida real. Para se preparar para as gravações, Criolo resgatou um pouco das origens dos pais, juntando as crenças da sua mãe que era benzedeira, com a parte imigrante de seu pai, mostrando o verdadeiro Brasil, um país cheio de pluralidades.
A história é um terror psicológico que te faz entrar na cabeça de Augusto e duvidar se tudo o que você vê é realmente verdade ou se você está enlouquecendo junto com o personagem. Tal terror psicológico traz uma temática muito forte sobre nossa eterna responsabilidade histórica, causada pela escravidão que durou mais de 300 anos, sendo o Brasil o último país a aderir a abolição. A locação escolhida foi uma fazenda em Minas Gerais, justamente uma região marcada por diversas histórias envolvendo esse período escravista.
Todo esse clima nebuloso e triste é presente não só na história como também nas lindas imagens, com a falta de iluminação elétrica na fazenda, as cenas dentro de casa foram realmente gravadas com iluminação à base de luz de velas, o que traz um clima todo especial para o enredo. Na coletiva de imprensa, em conversa com o diretor Andrucha, descobrimos que o tempo foi amigo da produção durante as gravações, fazendo apenas dois dias de sol em dois meses de filmagem.
Considerações finais
O Juízo é um terror psicológico que carrega um contexto histórico muito forte que a roteirista Fernanda Torres soube encaixar muito bem. O filme te deixa tenso, esperando os próximos passos de cada personagem.
Os plot twists são realmente surpreendentes, sendo apresentados um atrás do outro, tornando o filme muito mais emocionante e menos cansativo, deixando o público surpreendido, tanto de modo negativo, quanto positivo. Além disso, deixa-se um leve sentimento de raiva pela ambição de Augusto, levando a pensar até que ponto uma pessoa pode chegar por poder.
Se você procura um filme assustador para ficar com medo, não vai se interessar muito por O Juízo, já que é muito mais inclinado para o lado do suspense, deixando o público mais apreensivo do que assustado. O bom disso é que ele consegue alcançar um público mais amplo.
Ficha Técnica
O Juízo
Direção: Andrucha Waddington
Elenco: Felipe Camargo, Carol Castro, Fernanda Montenegro, Fernando Eiras, Lima Duarte, Kênia Bárbara, Joaquim Torres Waddington e Criolo.
Duração: 1h30min
Nota: 9,0