O Inocente é a mais nova minissérie instigante da Netflix que entrega uma boa história de suspense, mistério e investigação nos moldes de uma grande teia de aranha em que as subtramas acontecem paralelamente até chegar a um ponto em comum. Será que tudo está conectado? E se estiver, o que é verdade ou mentira?
A série joga, brinca e esquematiza, desafiando o espectador a juntar as peças com muita atenção para descobrir se o protagonista é culpado ou inocente e até que ponto é o seu envolvimento.
Qual é a história?
O Inocente é baseado no livro de mesmo nome do autor Harlan Coben. Como não li a obra, não farei comparações entre ela e a adaptação, mas sugiro que pesquisem a respeito para saber se houve grandes mudanças na trama.
Ao todo são oito episódios que variam entre 50 a quase 80 minutos de duração. Os três primeiros episódios são introdutórios e enigmáticos ao entregar as primeiras peças do quebra-cabeça que começam a dar sentido à trama e, consequentemente, a surgir dúvidas e teorias de como essas histórias se conectam.
No 1º episódio, o público conhece o protagonista Mateo Vidal (Mat), que está preso. Entre idas e vindas no passado e presente, a série revela que aos 20 anos, ainda estudante de direito, Mat vive uma noite de horror durante uma festa, por conta de uma briga por ciúme, resultando na morte de um dos rapazes do grupo, Dani. No julgamento, as testemunhas depõem contra, o que faz Mat ser condenado por 4 anos em regime fechado.
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Nove anos depois de ser libertado, tudo parece entrar nos eixos. Mat vira sócio do escritório de advocacia do irmão; conhece e se apaixona por Olivia que, agora, está grávida, o que faz o rapaz ir em busca de uma vida e uma casa nova para construir sua família. Mas a alegria acaba quando Mat passa a receber vídeos e imagens misteriosos sobre sua esposa, o que dá início a novos problemas na vida de Mat, podendo arruiná-lo novamente.
Neste episódio de estreia, O Inocente entrega as primeiras informações sobre o passado do protagonista, a razão para ele ir para a cadeia, o que aconteceu com sua família, como ele conhece a Olivia e a volta por cima que ele começa a dar. Ao mesmo tempo, os mistérios dão os primeiros passos, assim como as dúvidas sobre as ações dos personagens.
O primeiro ponto questionável é que Mat se encontra com a mãe de Dani para amenizar o peso na consciência e ajudá-la a superar a perda do filho. Mas tal relação é estranha e aparenta carregar algum segredo. Será? O público também vê o sentimento de culpa do pai, que incentivou o filho a ir à festa e, infelizmente, não voltou mais.
Outra dúvida a ser questionada é a forma como Mat conhece Olivia. Destino ou proposital? Por que há um homem enviando imagens de Olivia, aparentando que ela trai Mat? Quem está seguindo e ameaçando ele, como vemos na cena do atropelamento? Mat fez inimigos na prisão?
No 2º episódio temos uma nova subtrama que relata o assassinato de uma freira, cuja investigação é realizada por Lorena Ortiz, que tem o seu passado contado. O público toma conhecimento da vida de Lorena, o suicídio de seu pai, o abandono da mãe e sua infância e juventude na instituição das freiras. O espectador entende o motivo de Lorena seguir a carreira na polícia e não construir uma família. A partir daí, entende-se a razão dela ser chamada para este caso.
O assassinato da freira revela uma atmosfera mais corrupta e cheia de segredos ao apresentar uma rede perigosa em que nomes importantes e certas autoridades podem estar envolvidos. Emma (a freira) se esconde por medo e não por seguir tal vocação religiosa. De quem ela se escondia? Qual era o seu segredo? Que fitas são estas, na qual estão procurando e a personagem sabia sobre elas?
Assim, chegamos ao 3º episódio que conecta as subtramas, aumentando mais esta rede emaranhada, ligando os primeiros pontos, mas também crescendo ainda mais as dúvidas e questões. Para começar, qual é a conexão verdadeira entre Mat e o assassinato da freira? Ele conheceu alguém na cadeia que esteja ligado a esta morte, ou não passa de uma grande coincidência?
Por que Mat está sendo ameaçado? Seria pela morte de Dani? Alguém quer vingança? Ele fez inimigos na cadeia? Por que Olivia desapareceu e quem está com ela? O que ela esconde do marido?
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O passado volta a assombrar o protagonista quando ele reencontra ex-colegas que estavam presentes na briga na festa. O rapaz tenta prejudicar Mat para a detetive, enquanto Mat o confronta dizendo que eles guardam um segredo. Qual? As testemunhas depuseram injustamente no passado? Mentiram para Mat levar a culpa?
Estrutura da narrativa
Os três primeiros episódios trazem várias informações que exigem atenção do espectador para ir juntando as peças. Algumas cenas são bastante tensas, intensas e fortes, como a morte da freira, em que as imagens do cadáver são gráficas e nítidas, algo que pode incomodar quem assiste.
A partir do quarto episódio até o final, O Inocente estipula um padrão em sua narrativa em que cada episódio entrega um ponto de vista de um personagem envolvido nesta história. Assim, a cada episódio temos uma perspectiva diferente sobre a mesma situação, na qual uma peça por vez se encaixa neste quebra-cabeça. Cada subtrama é envolvente, dinâmica, misteriosa e forte, entregando revelações estrondosas e reviravoltas que chocam e fazem sentido, revelando uma narrativa no formato de caracol, que vai aumentando e envolvendo mais pessoas, até fechar este círculo que, aparenta ser infinito.
À medida que a trama é desenvolvida, a história ganha uma profundidade maior e uma atmosfera ainda mais sombria, trazendo cenas fortes de sexo, violência e mortes que podem incomodar o público. Existe um propósito para essas cenas? Sim, elas revelam o assunto a ser descoberto, uma temática pesada a se debater.
Personagens
Como O Inocente ganha várias perspectivas, praticamente todos os personagens estão envolvidos, são importantes para amarrar a trama e não ficam a desejar. Mas entre todos, há três personagens em grande destaque na série que puxam os demais para o desenvolvimento da história.
Mario Casas (Um Contratempo) já se tornou o queridinho das produções espanholas da Netflix e, mais uma vez, entrega um bom protagonismo. Mat é um rapaz sofrido pelas circunstâncias da vida e arrependido pelo o que aconteceu no passado. A atuação de Mario deixa claro o quanto o personagem quer dar a volta por cima e se vê puxado involuntariamente em uma teia repleta de segredos na qual ele precisa correr atrás da verdade para provar a sua inocência e salvar as pessoas que ama.
A atriz Aura Garrido entrega uma Olivia repleta de camadas e com os segredos mais instigantes que trazem as maiores revelações da série. Olivia tem um passado conturbado, pesado e forte que a fez se envolver em algo perigoso e, agora, para sair dessa situação, precisa tomar decisões arriscadas uma vez que o perigo volta a lhe rodear. Mas para sair desta situação, ela precisa envolver outras pessoas, especialmente Mat.
Quem também não fica para trás em nenhum momento é a detetive Lorena Ortiz (Alexandra Jiménez), que não só está encarregada da investigação, como a personagem é o elo que conecta todas as subtramas e os personagens. Entender o seu passado ajuda o espectador a compreender certas atitudes da detetive e a forma como ela lida com este caso, sem impulsividade, mas sempre seguindo o seu instinto e dando voz para aqueles que têm algo a dizer. Ortiz é inteligente, sensata, perspicaz e vai direto ao ponto sem rodeios. É uma das minhas personagens favoritas da série.
Como disse, junto com estes três protagonistas, a série apresenta outros personagens fundamentais à trama que, além de ajudar a contar a história entregam detalhes minuciosos para desvendar o mistério. Por isso, sugiro que você sempre preste atenção aos objetos, trejeitos e manias de cada um, pois pequenas descobertas são feitas a partir de certas características e atos.
E o final?
O Inocente constrói uma narrativa no formato caracol que aparenta não ter um fim, mas há um ponto final para tudo. A série entrega uma trama repleta de dúvidas e interrogações, mas à medida que o mistério é desvendado, as explicações surgem para cada teoria implantada, fazendo esta história se tornar bem elaborada.
Quando o espectador acha que ainda falta respostas, a série prega uma pequena peça, fazendo o público acreditar que a história irá acabar, quando a última verdade vem à tona, finalizando a trama com maestria.
O que acharam da minissérie O Inocente?
Ficha Técnica
O Inocente
Adaptação da obra de Harlan Coben
Direção: Oriol Paulo
Elenco: Mario Casas, Aura Garrido, Alexandra Jiménez, Xavi Sáez, Santi Pons, Sam Feuer, Jose Coronado, Ana Wagener, Gonzalo de Castro, Anna Alarcón, Martina Gusman, Miki Esparbé, Juana Costa, Susi Sánchez, Josean Bengoetxea, Javier Beltrán, Lluísa Mallol e Eudald Font.
Duração: 8 episódios (50 a 80 min)
Nota: 9,0
