Se você misturar as histórias de Divergente, Jogos Vorazes e uma pitada de X-Men, vai entender o enredo de Mentes Sombrias (The Darkest Minds), adaptação da obra homônima de Alexandra Bracken. Dirigido por Jennifer Yuh Nelson, na trama quando adolescentes desenvolvem novas e poderosas habilidades de maneira misteriosa, eles são declarados uma ameaça pelo governo e, assim, são mantidos presos. Ruby Daly (Amandla Stenberg), uma garota de 16 anos e uma das mulheres mais poderosas que alguém já viu, escapa de seu acampamento e se junta a um grupo de fugitivos em busca de um porto seguro. Logo, esta nova família percebe que, em um mundo onde os adultos os traiu não basta correr, eles terão que resistir usando seus poderes coletivos para recuperar o controle de seu futuro.
A nova distopia levanta o atual debate sobre os perigos de uma sociedade repressora e este é um ponto interessante da história. Nota-se que o filme é voltado mais para o público infanto-juvenil e acredito que este público vai gostar bem mais desta produção. A trama prende a atenção do começo ao fim, mas isso não significa que haverá uma conexão total entre espectador e filme, como foi o meu caso. Não é pelo fato de ser distopia, muito pelo contrário, eu gosto deste tipo de história e curto outros filmes que se passam neste universo, mas o que me afastou um pouco de Mentes Sombrias é o fato da história não se desenvolver tão bem como eu esperava, focando a trama mais em um romance meloso e menos na parte sombria, como o próprio título propõe.
Por ser a adaptação do primeiro livro de uma série, o filme omite uma introdução mais robusta sobre este mundo em que os jovens são separados de suas famílias e classificados por cores que identificam o tipo de habilidade especial que possui. A trama até mostra como esses poderes surgem nos jovens e os efeitos colaterais que podem causar. No entanto, o roteiro vacila ao não dar uma explicação mais condensada de como esses “dons” surgem nos jovens e não nos adultos. Talvez o livro explique melhor como isso acontece, porém no filme essa parte fica avulsa.
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Assim que a sociedade se oprime e o governo separa as crianças de suas famílias, cria-se uma pirâmide de classificação de poderes, desde o mais fraco até o mais nocivo e letal. São cinco grupos: o verde é o hiper-inteligente e capaz de resolver os problemas mais difíceis; o azul tem a habilidade de mover objetos com a mente; o amarelo tem o poder de criar e controlar a eletricidade; o laranja (e já considerado perigoso) tem o poder de telepatia e a capacidade de influenciar os pensamentos das pessoas; por fim, o vermelho é considerado letal e você só vai descobrir o que significa quando assistir ao filme.
O primeiro ponto que mais me frustrou é que o filme apenas apresenta os grupos, mas não se aprofunda em suas habilidades, nem mesmo quando acompanhamos os personagens principais no decorrer da história, explorando o que realmente são capazes de fazer, suas artimanhas e como os jovens controlam o poder dentro de si a ponto de enganar o governo. Como exemplo, temos o grupo verde que são os ultra inteligentes, porém o governo aplica nestes jovens tarefas bobas, fáceis e praticamente inúteis se comparar ao nível de inteligência deles. Eles apenas executam trabalhos manuais, ficando por isso mesmo. A pergunta é: o governo atribui essas tarefas a fim de não alimentar a inteligência, com o objetivo de não torná-los armas contra a própria sociedade? Até que ponto este grupo é capaz de ir e fazer com uma mente tão brilhante e perspicaz? Uma arma? Acabar com todos? Assim como o verde, os demais grupos também geram questionamentos e poucas respostas, o que pode frustrar o público, tanto aqueles que não leram o livro, como aqueles que leram e esperam algo a mais.
A trama engata na jornada principal quando Ruby foge com a ajuda de Cate (Mandy Moore) e, a partir daí, vemos o que ela é capaz de fazer e o quão especial é. Mas por ter ficado presa e oprimida desde pequena, Ruby lida fácil com os seus poderes e o filme não se atenta ao explorar o lado sombrio e perigoso da protagonista, o que para mim fez muita falta e não ajudou a me conectar com a personagem principal. Amandla Stenberg até faz um bom trabalho de interpretação, mas é o roteiro que acaba a prejudicando.
Junto com ela acompanhamos mais três personagens importantes no filme, mas que também carecem de um arco mais forte dentro da história. Liam (Harris Dickinson) é do grupo azul e utiliza de suas habilidades para sobreviver na floresta e proteger seus amigos. Digamos que ele é o líder do grupo e até gosto da forma como ele é desenvolvido, mostrando força e também vulnerabilidade por não demonstrar confiança o tempo todo, nem mesmo quando conhece Ruby pela primeira vez.
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Bolota (Skylan Brooks) é o inteligente do grupo e é por meio dele que vemos um pouco melhor como o grupo verde funciona, pois o personagem sempre está a um passo a frente, captando as informações de primeira e sacando as jogadas antes que o mal possa pegar todos desprevenidos. Ainda assim, queria ter visto mais do que o Bolota é capaz de fazer, porém o roteiro não dá espaço para isso.
Zhu é a mais nova do grupo e tem o excelente dom da eletricidade. Mesmo sendo a mais inocente, ela é esperta e aplica suas habilidades nas horas mais convenientes. Mas assim como os demais, queria ter visto um pouco mais sobre ela e o grupo amarelo.
Em um determinado momento do filme, a trama engata em um flerte ingênuo que ganha força repentina, transformando em um romance meloso entre Ruby e Liam. Infelizmente, achei chato, desfocando várias vezes a narrativa do seu ponto principal, isso sem contar nos diálogos bregas e clichês.
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Mandy Moore tem pequenas participações e um plot que só será melhor desenvolvido se o filme ganhar uma continuação. Já Gwendoline Christie interpreta uma personagem bem inútil, que tenta ser um grande obstáculo para o grupo, porém a execução da personagem é fraca e medíocre.
Assim que o vilão é apresentado, as reviravoltas até que são boas, mas são previsíveis e o embate final não é tão empolgante quanto se espera.
Considerações finais
Mentes Sombrias bebe de outras tramas distópicas e até apresenta uma premissa interessante, mas perde a energia e o foco por engatar em um romance meloso e não se aprofundar em detalhes importantes e, principalmente, na parte sombria que a história promete. O elenco está bom e a química é boa, mas acredito que o roteiro é o que mais prejudica eles. Não sei se terá uma continuação, mas se tiver, vou torcer para que os reparos sejam feitos e a história seja bem melhor, mais engenhosa e, é claro, mais sombria.
Ficha Técnica
Mentes Sombrias
Direção: Jennifer Yuh Nelson
Elenco: Amandla Stenberg, Harris Dickinson, Mandy Moore, Skylan Brooks, Mark O’Brien, Patrick Gibson, Gwendoline Christie, Bradley Whitford, Sammi Rotibi, Golden Brooks e Wallace Langham.
Duração: 1h44min
Nota: 6,0