As poderosas estão de volta! Mas agora são patricinhas (ainda prefiro poderosas). Após exatos 20 anos do sucesso Meninas Malvadas (Mean Girls), chega aos cinemas a nova versão que adapta o musical da Broadway que estreou em 2018 que, por sinal, é baseado na obra original. Mas será que o barro acontece?
O novo Meninas Malvadas é repleto de canções com vozes incríveis do elenco, que contam a mesma história com a mesma essência, mas divergem nos detalhes e ao apresentar novas perspectivas, além de se aproximar e conversar com a nova geração. É impossível não fazer comparações entre o original e a nova versão e há observações a se fazer, mas digo que o musical enche os olhos e está divertido. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Com direção de Samantha Jayne e Arturo Perez Jr e roteirizado por Tina Fey, também responsável pelo primeiro filme e o musical da Broadway, Meninas Malvadas conta sobre a chegada de Cady Heron ao topo da cadeia social do grupo das garotas populares chamado de “As Patricinhas”, liderado por Regina George e suas amigas Gretchen e Karen.
Entretanto, quando Cady comete o erro de se apaixonar pelo ex-namorado de Regina, Aaron Samuels, ela se torna a sua principal inimiga. Conforme Cady planeja destruir o grupo das Patricinhas com a ajuda de seus amigos Janis e Damian, ela tenta se equilibrar entre manter sua essência e enfrentar a selva mais perigosa de todas: o ensino médio.
Como disse, a história é a mesma, mas as perspectivas, linguagem e abordagem sobre os personagens diferem entre o original e o musical. Para começar, o filme conta com várias sequências musicais não só muito bem coreografadas, como o elenco sabe soltar a voz lindamente, com destaque para Regina (Reneé Rapp) e Janis (Auli’i Cravalho), que são as minhas favoritas, além do fato das atrizes terem experiência e carreira na música.
Confira 18 curiosidades sobre Meninas Malvadas
Mas não são somente as letras e as vozes que compõe este musical. Todo o conjunto da obra é bem pensado, como a divertida narração de Janis e Damian dando início à história ao revelar como era a vida de Cady e de sua mãe e o início do ensino médio; a entrada triunfal de Regina George, apresentando-a como ‘abelha rainha’; as sequências da festa de Halloween protagonizadas por Karen e depois por Regina e Aaron Samuels; o início da vingança orquestrado por Cady, Janis e Damian; e, é claro, o momento de revidar a vingança quando Regina espalha as páginas do ‘Livro do Arraso’, uma cena bem feita com toques azulados e sombrios para enaltecer ainda mais o lado maldoso de Regina.
Um momento que sofre uma mudança radical é a icônica cena ‘Jingle Bell’ do quarteto na escola. Bem, esta é a música do original, enquanto aqui, a sequência ganha uma versão diferente. Alguns podem gostar, outros nem tanto.
Outro ponto interessante de Meninas Malvadas é usar e abusar da linguagem que conversa com a geração Z, usando de referências à cultura pop atuais e atemporais, com citações a Beyoncé, Ariana Grande e, até mesmo, iCarly. Claro que quem não estiver por dentro dessas referências mais novas pode não entender, mas também não prejudica em nada.
Aliás, o longa usa e abusa dos personagens do colégio compartilhando as fofocas e iniciando trends no Tik Tok, outro ponto que se conecta com a atualidade e o público que desfruta disso.
Além disso, o filme abre portas para debater com esta nova geração sobre sororidade, as vertentes do feminismo, amizades tóxicas, aceitação de opiniões, julgamentos pela aparência, honestidade, respeito, entre outras coisas. Por um lado, esta atualização no roteiro é boa, necessária e se encaixa muito bem com a proposta do filme a fim de cutucar a realidade mostrando o que é certo.
Mas talvez seja exatamente neste ponto que o público inicie a comparação entre o musical e o filme original. Convenhamos que o primeiro Meninas Malvadas tem uma abordagem mais maléfica com alta dose de cinismo e hipocrisia’, especialmente pelas falas, atitudes e a fama de Regina George, o que a torna uma excelente vilã que é lembrada até hoje.
No novo Meninas Malvadas, a maldade ainda permanece como fio condutor de toda a história, mas é reduzida se comparado com detalhes a mais vistos no original. De exemplo, temos a introdução maravilhosa de Regina George, que a coloca em um pedestal, mas sem tirar o rótulo de dominadora e perigosa. E isso é reforçado por suas ações e expressões hipócritas e fabulosas de conluio com as amigas Gretchen e Karen que, querendo ou não, também são manipuladas. E quando tentam rebaixar Regina, mais fama ela ganha.
Tudo isso também acontece no musical, mas com um tom maldoso mais sutil, em que a presença de Regina impõe mais medo do que, de fato, suas atitudes. A atriz Reneé Rapp está fantástica no papel e entrega uma Regina mulherão à altura, cujo olhar maldoso fica estampado, assim como sua postura de dominadora. Em alguns momentos eu gostaria de ter visto a personagem mais cínica e maldosa nas atitudes, assim como vemos no filme de 2004. O público se apaixona por Regina George imediatamente, mas sente que a personagem poderia ter sido mais explorada fazendo ainda mais jus a fama de ‘abelha rainha’.
Se em 2004 a queridíssima Lindsay Lohan deu vida à Cady, aqui em Meninas Malvadas a personagem é interpretada por Angourie Rice que segura bem as pontas em um papel importante. Arrisco a dizer que o filme dá mais espaço ao desenvolvimento da Cady do que de Regina – algo que poderia ser mais equilibrado – mostrando a inocência da novata da escola, a recepção no grupo das Patricinhas, a transformação em ser uma delas, a influência negativa, a vingança que se espalha e, por fim, sua redenção e recuperação de sua essência.
Claro que enquanto acompanhamos o sol e a lua, os demais personagens ganham seu merecido espaço na tela, com destaque para Janis e Damian que continuam fabulosos, cuja essência permanece, redendo ótimos diálogos e cantorias. Auli’i Cravalho e Jaquel Spivey formam uma excelente dupla que sabe desfrutar muito bem do tempo em cena. Impossível não gostar deles.
Bebe Wood e Avantika dão vida a Gretchen e Karen que compõe o trio das Patricinhas. Karen segue com o QI baixo, um pouco lerda, o que a torna engraçada. A sequência em que canta na festa de Halloween é bem feita, tornando o seu maior destaque. Já Gretchen ganha uma abordagem mais interessante, revelando a forma como é tratada por Regina, em que o filme dá uma cutucada explícita sobre amizade tóxica, fragilidade e submissão, já que Gretchen por muitas vezes tem a sua voz silenciada. Entende porque o ‘barro’ não acontece? Aliás, o filme original também aborda isso. Preste atenção.
O ator Christopher Briney dá vida ao cobiçado Aaron Samuels, gatilho principal ao conflito entrega Regina e Cady. Mesmo que seja uma nova versão, a adaptação dá liberdade para ir além e, aqui, o filme poderia ter feito isso com Aaron, até mesmo colocando ele para cantar. Ainda assim, o ator entrega uma interpretação satisfatória.
No elenco temos as participações de Jon Hamm como o professor de saúde e educação sexual; e Ashley Park como a professora de francês que, por sinal, fazia parte do elenco do musical da Broadway. Ambos fazem pequenas aparições sem ter muito o que acrescentar. Já a atriz Busy Philipps é Mrs. George, mãe de Regina, e está no mesmo páreo de Amy Poehler.
Crítica: Mamonas Assassinas – O Filme
É claro que o musical também conta com a presença icônica de Tina Fey (responsável por esta história existir) como a professora Mrs. Norbury; e Tim Meadows que retorna como o diretor Duvall, com o seu braço quebrado (desta vez, de mentira).
Não posso deixar de falar que Meninas Malvadas conta com uma participação pra lá de especial! Mas só assistindo para saber quem é.
Considerações finais
O desfecho de Meninas Malvadas ganha força com as canções, seguindo a mesma fórmula final, com a revelação do ‘Livro do Arraso’, a briga magistral na escola, os pedidos de desculpa que ganham força com a voz de Janis, o atropelamento da Regina, a competição de matemática e, é claro, o baile da escola. Mas se tem um momento que sempre me pega desprevenida e me assusta é a cena do atropelamento. rs
Meninas Malvadas é um musical nada enjoativo, com canções divertidas que engrandecem a história. A essência é a mesma, mas com nuances em vários detalhes, especialmente na abordagem das personagens principais, além de novas perspectivas e uma linguagem que aproxima e conversa com a nova geração.
As comparações entre a nova versão e o original é inevitável, mas o musical Meninas Malvadas cumpre bem a sua proposta, diverte, agrada, contagia e conquista um novo público.
Ficha Técnica
Meninas Malvadas
Direção: Samantha Jayne e Arturo Perez Jr
Elenco: Reneé Rapp, Angourie Rice, Christopher Briney, Bebe Wood, Tina Fey, Avantika, Auli’i Cravalho, Jaquel Spivey, Tim Meadows, Jon Hamm, Jenna Fischer, Busy Philipps e Ashley Park.
Duração: 1h52min
Nota: 3,6/5,0