Crítica: Esticando a Festa

Esticando a Festa (Afterlife of the Party) é a nova produção da Netflix com aquele cenário de fundo tragicômico que aparenta provocar risadas e emocionar pontualmente. Mas engana-se quem pensar desta forma, pois o novo filme do streaming é uma dramédia sobrenatural que até entrega alívios cômicos muito bem dosados, mas também traz uma trama sobre luto, segunda chance e pós-vida de um jeito bem comovente. A história pode até não ser inovadora, mas as protagonistas conseguem passar uma mensagem reflexiva sobre a vida que vai te emocionar.

Dirigido por Stephen Herek, Esticando a Festa acompanha Cassie, uma mulher de 25 anos que é simplesmente apaixonada em viver a vida. Assim, ela não deixa de curtir as festas ou qualquer momento contagiante ao lado dos amigos, especialmente de Lisa, sua melhor amiga desde a infância.

Na semana do seu aniversário, Cassie decide fazer uma grande comemoração, mas a pós-festa termina de forma trágica: ainda sob efeitos do álcool, Cassie escorrega no banheiro, bate a cabeça na privada e morre imediatamente. Logo em seguida, ela acorda no Meio-Termo, um espaço para as pessoas que ainda tem assuntos a resolver na Terra antes de ir para o céu ou inferno. Assim, Cassie conhece Val, seu anjo da guarda temporário, que avisa que ela tem apenas cinco dias para resolver os assuntos inacabados com três pessoas importantes da sua vida: o seu pai Howie, a mãe Sophia e a melhor amiga Lisa. Se todas as pendências forem riscadas da lista, Cassie poderá ir para o céu. Será que ela consegue colocar um ponto final antes de partir?

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Apesar de já ter visto filmes com enredos similares em que o personagem morre e precisa resolver algo antes de partir, Esticando a Festa consegue prender a atenção com as razões que faz a protagonista retornar ao mundo mortal, revelando em como a vida pode se tornar ainda mais complexa, embaçada e sombria após uma grande perda, resultando em mais obstáculos para enfrentar, medos para lidar e atitudes (ou a falta de) para corrigir.

O primeiro ponto interessante do filme é a forma ‘estúpida’ em como a Cassie morre, e tenho certeza de quem for assistir vai pensar nisso rapidamente. Mas ao mesmo tempo, o roteiro é inteligente em mostrar o quão a vida é frágil e pode ir embora do jeito mais absurdo possível, trazendo consequências difíceis para aqueles que sentem a perda.

Isso remete ao segundo ponto positivo do filme que traz questionamentos reflexivos e trabalha o sentimento de culpa tanto da Cassie por ter partido de forma repentina e com vários assuntos inacabados, quanto da Lisa por conta das palavras trocadas na última conversa que tem com a amiga. É neste ponto que o filme faz o espectador pensar sobre quem sentirá a sua falta quando partir? Quem realmente é especial na sua vida e vice-versa? Quais foram as últimas palavras ditas a pessoa importante em sua vida?

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Esses questionamentos são bem trabalhados de forma leve e com boa dosagem de diversão e drama quando a Cassie retorna para ajudar Lisa a engatar na vida novamente. Lisa é uma garota muito inteligente e focada no trabalho, mas sua introspecção não lhe permite respirar, olhar para os lados e as novas chances de ter algo novo na sua rotina, como é caso do seu vizinho por quem ela tem um crush enorme. Com a morte da amiga, Lisa se torna ainda mais fechada deixando que o sentimento de culpa domine o seu dia a dia, e é por conta disso que a Cassie retorna a fim de abrir os olhos de Lisa para fazê-la enxergar as oportunidades.

Outro ponto positivo de Esticando a Festa é a química agradável e oposta das protagonistas que ganham uma interpretação agitada e irreverente de Victoria Justice, enquanto a atriz Midori Francis esbanja todo o seu lado doce e tímido. Sem dúvida, as duas carregam o filme nas costas (de um jeito positivo), mostrando que ambas precisam de novas chances para seguir em frente na vida mortal e no pós-vida.

Aliás, enquanto Lisa recebe aquele empurrãozinho para ousar e se arriscar mais tanto no amor quanto no trabalho, Cassie também passa a analisar a vida que teve, os momentos bons, o passado triste e marcante e como isso reflete nela até agora. Antes vivendo só de diversão e festas, a Cassie tem a chance de se reaproximar e ajudar o pai Howie (Adam Garcia), que sofre com a perda da filha, e fazê-lo viver novamente os dias com alegria e sem culpa. Além dele, a protagonista também tem a chance de acertar as contas com a mãe (Gloria Garcia) que lhe abandonou ainda pequena, um ponto delicado para ambas partes, na qual o perdão é um sentimento difícil de trabalhar e expor.

Quando Esticando a Festa mergulha nas camadas e nas feridas da protagonista, o filme ganha um tom melancólico, inesperado e diálogos mais reflexivos, fazendo a atmosfera cômica diluir aos poucos para dar espaço a uma história emocionante e até surpreendente na forma em como pode atingir o espectador.

Mas mesmo com o seu toque melancólico, a comédia ainda ronda a trama de forma equilibrada e leve nas cenas em que a Val ajuda a Cassie a realizar a sua última missão na Terra. O público até espera ver a Val (Robyn Scott) como uma personagem muito atrapalhada e responsável pelo alívio cômico, no entanto, ela é quem guia e dá conselhos quando a protagonista se vê perdida dentro de si e com quem ela precisa ajudar.

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Até mesmo a trilha sonora de Esticando a Festa ganha canções mais equilibradas, dando um ritmo divertido ao som do cantor fictício Koop (Spencer Sutherland) em meio às músicas que complementam a atmosfera dramática do filme.

Considerações finais

O filme ganha um desfecho ainda mais emocionante em meio a despedidas e a realização da missão dada no início. Mesmo com um tom sensível em sua reta final, a trama joga uma última cena divertida e com um final feliz para todos, especialmente para a protagonista.

Mesmo com uma trama não tão inovadora, Esticando a Festa surpreende por ser uma dramédia sobrenatural cuja mensagem sensibiliza ao falar sobre luto e novas chances sob a perspectiva de duas personagens que expõem sentimentos com leveza e naturalidade em suas atuações. Vale a pena assistir.