A despedida de La Casa de Papel começa com o volume 1 da parte 5 disponível na Netflix. Já adianto que os cinco primeiros episódios desta reta final entregam um ritmo frenético, caos, planos em execução, improvisos, inseguranças e decisões arriscadas que dão início a uma atmosfera que mistura tensão e muita emoção. A série retorna garantindo ao seu público para não esperar um final 100% feliz para todos, afinal, a última guerra começou e nem todos sairão ilesos deste grande assalto que conquistou milhares de corações.
******CONTÊM SPOILERS******
A parte 4 de La Casa de Papel entregou um desfecho arrebatador com a morte de Nairóbi, o resgate de Lisboa e o encontro de Alicia Sierra e o Professor. É a partir daqui que a parte 5 dá continuidade aos eventos que ganham proporções fortes e arrebatadoras.
Para começar, acompanhamos o tão aguardado encontro de Alicia Sierra e Professor, uma vez que a ex-inspetora descobre o esconderijo do líder do grupo. Alicia poderia facilmente matá-lo, mas seria uma decisão fácil e até um pouco estúpida por parte dos roteiristas dar este ‘xeque-mate’ logo no começo. Assim, Alicia prende, manipula e chantageia seu oponente a fim de conseguir informações minuciosas e reveladoras sobre o grande plano arquitetado.
Mas estamos falando do Professor e, é claro, que ele havia pensado em tudo, até mesmo na possibilidade de ser descoberto e, mesmo assim, ele revela pouquíssimos detalhes, pois jamais trairia aqueles que ele considera sua verdadeira família. E mesmo a trancos e barrancos, o plano precisa continuar.
Paralelamente a este impasse da dupla, o espectador acompanha o infalível plano de fuga de Marselha e conhece novas pessoas envolvidas nesta situação – como é o caso de Benjamin, pai de Julia (Manila) – enganando e colocando a polícia no chinelo mais uma vez, fazendo o Coronel Tamayo dar às costas à ética da profissão e tomar decisões irremediáveis para acabar com o assalto.
Um ponto interessante nesta nova temporada de La Casa de Papel é que não há um episódio tranquilo ou com sequências mornas, pelo contrário, a série engata em situações paralelas não só para deixar o público angustiado em ver conflitos simultâneos, mas também para preparar o terreno para o início da grande guerra que se instala dentro do banco. Um exemplo formidável são as sequências finais no 3º episódio em que vemos o exército atacar e explodir parte do banco, enquanto Alicia dá à luz a uma menina. O que os fãs previram na temporada passada, aconteceu: sem forças para fazer o próprio parto, a ex-inspetora liberta Professor, Marselha e Benjamin para lhe a ajudar neste momento intenso, mas que acaba bem com o nascimento da pequena Victoria, enquanto o Professor retoma ao seu posto para saber o que está acontecendo dentro do banco.
O nascimento da filha deixa Alicia Sierra mais calma e até vulnerável, mas a personagem ainda se encontra com os sentimentos e a racionalidade divididos entre ser fiel à ética da sua profissão ou aliar-se ao grupo, uma vez que o Coronel Tamayo coloca toda a culpa nas costas da ex-inspetora, a acusando de se ser uma espiã do grupo inimigo e responsável por todos erros cometidos pelas autoridades até o momento, uma jogada suja e arriscada que, com muitas chances, será devolvida aos verdadeiros culpados, já que a verdade pode vir à tona e de forma bem estratégica.
La Casa de Papel: caos, jogo sujo, morte e nova guerra marcam parte 4
Mas será que Alicia pode se juntar ao Professor? Suas intenções ainda são conflitantes diante do público, principalmente na cena em que ela esconde um alicate no braço. Quem ela pretende atacar? Será que ela pode mudar de ideia e se juntar a eles? Ou vai recuar em seu plano improvisado e apenas companhar o que vai acontecer daqui pra frente, enquanto protege sua filha? Será que ela vai aceitar ir para a cadeia e pagar pelos erros dos outros colocados em sua ficha?
Lado B das autoridades
Com o cerco se fechando cada vez mais, as autoridades começam a burlar as regras e as leis em nome de um bem maior. Com isso, o Coronel Tamayo não só coloca toda a culpa em Alicia Sierra diante da imprensa, como também arquiteta o ataque no banco, sob a liderança do comandante Sagasta, novo personagem de La Casa de Papel cuja personalidade é fria e implacável, que não mede esforço em deixar o rastro de sangue por onde passa.
Outro detalhe interessante nestes novos episódios são as autoridades que, supostamente, deveriam ser vistas como heróis ao seu país, simplesmente largam a mão da ética e das leis para colocar um ponto final em tudo, incluindo a possibilidade de matar todos os membros do grupo sem se importar se os reféns poderão sair feridos do local ou não. E qualquer erro cometido por eles se torna a desculpa perfeita para direcionar tal falha diretamente ao grupo do assalto com o objetivo de intitulá-los de assassinos.
Desde o início, a série sempre colocou um manto negativo sob o olhar do espectador com relação às autoridades (o que é até normal dentro da série), porém, isso se intensifica nesta reta final em uma jogada na qual o resultado é irremediável.
A guerra começou!
Com uma negociação que prometia ser interessante, Lisboa e Tamayo fecham o acordo em que Gandia é libertado em troca de tempo, uma vez que Lisboa compreende que as autoridades não encontraram o Professor, dando um pingo de esperança ao grupo para continuar lutando.
Mas Tamayo não perde tempo e autoriza o exército a atacar o banco, dando início a uma guerra acirrada, hipnotizante e angustiante, afinal, os riscos aumentam indicando que algo pior pode acontecer. Com isso, a série divide os personagens em pequenos grupos na qual o espectador acompanha sequências intensas de confronto que resultam em um caos turbulento e trágico, trazendo lembranças nostálgicas para alguns, revelações sentimentais para outros e desorientação para aqueles que necessitaram tomar uma decisão radical e, talvez, sem volta.
La Casa de Papel entrega nesta parte 5 ambientações ainda maiores, dando uma perspectiva gigantesca com relação ao tamanho da Casa da Espanha na qual o público não tinha conhecimento e até fica surpreso. Os cenários ganham passagens secretas, novas munições e esconderijos encarregados de ambientar encenações grandiosas de um filme de guerra. Os tiroteios e as explosões dão movimento esplendoroso no confronto entre o grupo e o exército que usam o lado físico e psicológico para enfraquecer seus oponentes, rendendo em cenas bombásticas e, até mesmo, inesperadas, mas que vou falar mais para frente.
Olho por olho
Enquanto as munições ajudam a derrubar o oponente, os ataques psicológicos são o que ajudam a enfraquecer os personagens, uma estratégia bem utilizada em La Casa de Papel como vemos com Arturo, Gandia, Denver, Tóquio e Estocolmo.
No segundo episódio, temos um dos momentos mais esperados pelo público: o confronto entre Arturo, Denver e Estocolmo, um triângulo amoroso mais estranho e disfuncional da série, na qual um lado se encontra descartado há tempos. Ao ver a chance de fugir, Arturo não perde tempo em colocar as mãos nas armas e usar os reféns para atacar o grupo. Mas o que era para ser um ato em nome da liberdade das vítimas, se torna uma vingança amarga e enlouquecedora de Arturo, que nunca aceitou o fato de Monica largá-lo para ficar com Denver e ainda nomeá-lo pai de seu filho.
Arturo chega ao ápice da loucura, triplicando a raiva do público que torce fervorosamente pelo fim de um dos piores personagens de La Casa de Papel. No entanto, a série faz questão de testar a paciência do espectador mais uma vez com o benefício da dúvida em uma cena de grande tensão e expectativa. Ao ver Denver ser provocado com palavras ardilosas, Monica (Estocolmo) encurrala Arturo na tentativa de pará-lo de vez sem tomar medidas drásticas. No entanto, as intenções de Arturo o deixam fora de si, o que faz Monica atirá-lo em legítima defesa.
Infelizmente, a série deixa o público no limbo mais uma vez, colocando Arturo entre a vida e a morte e sendo salvo pelas autoridades. O personagem se encontra em estado grave no hospital, mas continua vivo, tornando um grande estorvo mental para Monica que, agora, carrega o peso na consciência de sua primeira e possível morte com próprias mãos. Será que Monica vai aguentar este fardo até o fim do assalto? Querendo ou não, Arturo era a última garantia de prover uma vida digna ao filho que, atualmente, se encontra sob os cuidados de monges. Será que Monica e Denver sobreviverão para buscar o filho?
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Outro personagem movido a vingança é Gandia, que também faz hora extra em La Casa de Papel, já que oportunidade não faltou para tirá-lo de cena. No entanto, a pior jogada foi libertá-lo, o que faz Gandia retornar para o banco ao lado do exército a fim de exterminar todo o grupo, mesmo que isso custe a vida dos seus parceiros. Se você achou que Gandia foi inescrupuloso na temporada anterior, desta vez, o personagem é ainda pior, trazendo novas consequências irremediáveis e, mais uma vez, um desfecho trágico para um dos integrantes do grupo.
Mais flashbacks de Berlim
Mesmo depois de morto, Berlim é outro personagem que continua com o seu espaço em La Casa de Papel, justamente por ainda ser muito querido pelos fãs. No início, quando o ator Pedro Alonso foi confirmado na continuação da série, acreditava-se que o personagem se perderia no enredo, no entanto, ele foi encaixado nos flashbacks para que o público ganhasse uma compressão maior sobre a construção de todo o plano do roubo da Casa da Espanha, além de apresentar outros personagens como Palermo, Marselha, Bogotá e a esposa Tatiana.
Nesta última temporada, os flashbacks apresentam Rafael, o filho escondido de Berlim interpretado por Patrick Criado. Mais do que uma reaproximação de pai e filho, o objetivo de Berlim é apresentar o mundo do roubo para Rafael e usufruir da sua inteligência e habilidade como engenheiro eletrônico e cibersegurança.
Paralelamente aos acontecimentos nos dias atuais, o espectador acompanha em La Casa de Papel o excelente plano do grande roubo de relíquias antigas na qual Berlim pretende ficar com as verdadeiras e substitui-las por réplicas. A sequência é refinada e elegante em meio a uma grande festa com figuras renomadas ao redor, o que me fez até lembrar da série francesa Lupin.
O grande ponto deste flashback foi mostrar que Berlim ensinou o que há de melhor do mundo do roubo e, caso você precise de algo, é necessário roubar daquele que tem mais, o que faz Rafael sentir o gostinho doce e viciante desta vida. Um questionamento feito na temporada passada foi com relação ao fim do casamento de Berlim e Tatiana. Por que ela não ficou ao lado do marido? O que levou a separação dos dois? Minha teoria é que Rafael traiu Berlim em algum momento, roubando não só as relíquias verdadeiras, mas também levando Tatiana junto, já que eles trocam olhares intensos na última cena. Vamos aguardar a segunda parte desta última temporada para saber se foi realmente isto que aconteceu.
Adeus, Tóquio!
Considerada uma das personagens mais interessantes e querida pelos fãs, La Casa de Papel toma a difícil e arriscada decisão de matar Tóquio ao final desta primeira parte da última temporada. A despedida de Nairóbi foi o grande choque que engatilhou as motivações arquitetadas para estes novos episódios, mas são as consequências que levam ao desfecho trágico e, talvez, injusto para Tóquio, que relembra o passado que a motivou a entrar para o mundo do crime.
Quatro anos antes de se juntar ao grupo do Professor, vemos Tóquio viver um grande amor ao lado de René, interpretado por Miguel Ángel Silvestre, o homem com quem ela começou a assaltar e com quem viajou e aproveitou a vida. No entanto, Tóquio vê o amor de sua vida morrer após assaltarem um banco, o que faz a personagem iniciar uma espiral de perda, dor e fuga até ser resgatada pelo Professor.
A participação de Miguel Ángel Silvestre era uma grande incógnita até seu personagem ser revelado. Por um tempo, os fãs acreditavam que o ator interpretaria o mais novo inspetor substituto de Alicia Sierra que comandaria todo o ataque ao banco. Porém, a surpresa foi vê-lo como o antigo namorado de Tóquio que, a princípio, se torna um personagem fraco e esquecível na série, servindo apenas de ‘clickbait’ ao espectador.
No fim das contas, o personagem é um complemento ao enredo forte e emocionante de Tóquio que viria a ter um desfecho trágico neste início da temporada final.
Encurralados pelo exército, Denver, Manila e Tóquio lutam para sobreviver, mas infelizmente Tóquio é atingida por vários tiros, o que a deixa parcialmente imobilizada, enquanto Denver e Manila fogem pelo poço do elevador, uma decisão difícil de tomar, pois jamais deixariam a amiga para trás.
Resistente, Tóquio vai até as últimas consequências para cumprir a sua missão, mesmo que isso custe sua vida. Em clima de despedida com Rio, Tóquio dá o último adeus ao seu amor antes do exército finalmente entrar no local. Mas, estamos falando de Tóquio e, mesmo com a vida por um fio, ela cumpre a promessa de matar aquele tirou a vida de sua melhor amiga (Nairóbi). Assim, ela explode o local matando Gandia e os membros do exército, incluindo ela.
Todos ficam perplexos com a perda de uma das melhores personagens, incluindo Rio que assiste ao momento trágico, enquanto Professor escuta tudo pelo rádio vê o chão sumir ao perceber que não só perdeu uma das suas melhores alunas, mas também perdeu uma filha.
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A primeira parte de La Casa de Papel termina de forma calorosa e trágica com ganchos que prometem novas reviravoltas em sua reta final. Com a morte de Tóquio, quais serão os próximos passos do grupo? Rio vai superar a perda do seu amor? Qual será o novo plano do Professor após a perda trágica e inesperada de Tóquio? Será que Alicia Sierra vai atacar novamente? Monica irá enlouquecer por causa de Arturo? E Rafael, filho de Berlim? Em algum momento ele irá aparecer para ajudar o grupo no assalto? Helsinki vai sobreviver depois de ficar gravemente ferido?
PS: Com a morte de Tóquio, quem será que vai narrar os episódios finais de La Casa de Papel?
Ficha Técnica
La Casa de Papel – Parte 5 – vol. 1
Criador: Aléx Pina
Direção: Jesús Colmenar, Koldo Serra e Álex Rodrigo
Elenco: Álvaro Morte, Pedro Alonso, Najwa Nimri, Úrsula Corberó, Jaime Lorente, Alba Flores, Miguel Herran, Esther Acebo, Ituño Itziar, Darko Peric, Rodrigo de la Serna, Hovik Keuchkerian, Luka Peros, Henrique Arce, Kiti Mánver, Juan Fernández, Mario de la Rosa, José Manuel Poga, Fernando Cayo, Miguel Ángel Silvestre, Patrick Criado e José Manuel Seda.
Duração: 5 episódios (50 a 60min. aprox)
Nota: 8,9