Elseworlds é mais um ponto alto das séries de heróis da CW que reúne seus protagonistas para uma grande missão, gerando aquela curiosidade no público para saber o que vai acontecer. Tudo começou com os episódios mix entre The Flash e Arrow e Supergirl e The Flash, rendendo ótimas participações e, até mesmo, um episódio musical. Eis que, em 2017, os telespectadores acompanham o primeiro maior crossover da televisão com Crisis on Earth-X (Crise na Terra-X), em que vemos nossos super-heróis combatendo um planeta governado por nazistas.
Em 2018, temos mais uma reunião, com uma série a menos (Legends of Tomorrow), mas com excelentes participações, além da introdução de uma personagem que, a princípio, foi bem questionada, mas muito esperada. Em três episódios divididos nas séries The Flash, Arrow e Supergirl, o público acompanha Elseworlds, uma história que vai mexer com a realidade, literalmente. No geral, temos um crossover satisfatório que empolga, mas ao parar para analisar alguns detalhes, existem ressalvas que poderiam ter sido melhoradas.
Tudo começa na Terra 90, quando Flash (deste planeta) perde uma batalha e um livro especial que vai parar nas mãos de Mar Novu, conhecido como The Monitor. Este objeto nada mais é que o Livro do Destino cujo objetivo de The Monitor é testar diferentes Terras, porque acredita que uma crise está chegando, ou seja, ele acha que ‘outros mundos’ criados pelo livro aproximam a colisão de realidades que estão enfrentando.
A verdade é que Elseworlds entrega um vilão que tem uma motivação grandiosa, no entanto, a execução do aparente “vilão” fica a desejar justamente pelas suas decisões serem banais e inferiores à decisão de um humano ou de um simples meta-humano. Achei interessante o crossover fazer mistério, entregar as pistas pouco a pouco e as verdadeiras intenções apenas no terceiro episódio, mas quando a revelação vem à tona, tanto o vilão quanto sua motivação perde força e cria questionamentos.
Assim que The Monitor tem o livro em suas mãos, ele entrega o objeto para o Dr. John Deegan, um psiquiatra cujo currículo é questionável e seus pensamentos são insanos. A primeira pergunta que vem à cabeça é: o que leva um grande ser do universo, um grande meta-humano, confiar um livro poderoso nas mãos de um homem como Deegan? Já que a proposta é mudar a realidade para saber como os heróis e outros humanos irão se adaptar a este mundo, porque o próprio Monitor não fez isso? Seria mais plausível e, até mesmo, manipulador e mais difícil de derrotá-lo. No final das contas, acredito que o personagem The Monitor torna-se um mero coadjuvante mal utilizado no crossover, enquanto que John Deegan se transforma em um insano que transforma as cidades em um grande palco de marionetes, onde ele decide quem será herói e vilão.
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Tenho que acrescentar que a introdução do novo Barry Allen da Terra 90 – em que todo mundo acredita ser Jay Garrick (eu mesma acreditei no início), também é outro personagem desperdiçado nos episódios. Uma pena.
Troca de realidade
Ao irmos para a Terra 1, já vemos a realidade completamente trocada pelos olhares de Flash e Arrow. Aqui, Barry é Oliver Queen, enquanto que Oliver é Barry Allen. Cada um sabe quem é de verdade, mas adquirem o poder e a força do outro como se eles fossem sempre assim, e este é o primeiro ponto positivo. Elseworlds aproveita essa troca para inserir um pouco de alívio cômico, afinal somente eles sabem o que há de errado, mas os outros não. Assim, Iris acredita que Oliver (Barry) é o amor de sua vida, enquanto Felicity é casada com Barry (Oliver). Outro ponto interessante é quando eles tentam explicar o que realmente está acontecendo, mas ninguém acredita no primeiro instante, fazendo com que a dupla se esforce para ir atrás de provas.
Entre essas trocas de realidades, vemos as versões de heróis trocadas, além da dupla na versão vilã, em que todos os personagens bonzinhos se tornam maus elementos, como é o caso de Cisco, Jimmy Olsen, Alex Danvers, Caitlin/Nevasca e John Diggle. Além disso, o público se diverte com as provocações e piadas entre os dois, seja Barry dando flechadas surpresas em Oliver durante o treinamento; Oliver se adaptando a sua nova velocidade; e até mesmo uma discussão calorosa entre os dois, com direito a Oliver jogar na cara de Barry que ele adora ouvir um discurso de motivação antes de enfrentar o inimigo (ouch, essa doeu!).
Mas à medida que o telespectador acompanha as discussões, a situação e o inimigo que eles precisam enfrentar, começa a ficar claro que uma das motivações que movimenta o crossover é resolver certos conflitos internos dos heróis. De um lado, temos Barry que lidando com Nora sem alterar a linha temporal, além de achar um jeito de derrotar o vilão Cicada; Após ser demitida da DOE, Kara Denvers se encontra no dilema em revelar sua verdadeira identidade ou não para o mundo; e, por fim, temos Oliver Queen, que ficou por um tempo na prisão e escondeu coisas de Felicity, o que acarretou em alguma crise em seu casamento, além do fato dele ser movido por raiva e vingança, um ponto bem enfatizado nesse crossover. Não posso dar mais detalhes, pois não acompanho a série Arrow. Mas a verdade é que são esses conflitos que vão ajudar a resolver a alteração da realidade e a combater The Monitor e John Deegan.
Somebody Saaaaave Me!
Uma das participações especiais de Elseworlds é do Superman, interpretado por Tyler Hoechlin, que fez sua primeira aparição em Supergirl. Ao seu lado está sua amada Lois Lane e devo dizer que gostei da dupla nesse crossover. Há um romance dosado dos dois, mas eles também ajudam bastante e até Lois surpreende nesta parte, por ser ousada em algumas atitudes.
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Outra coisa legal é ver a cumplicidade entre Clark e Kara que, mesmo distantes em várias ocasiões, eles se entendem e compreendem os problemas de ambos. Clark acredita demais no potencial e na força de Supergirl e sabe que ela encontrará um meio de sempre ajudar as pessoas, mesmo não trabalhando mais para as autoridades.
Ah, não posso deixar de comentar que assim que partimos para a Terra 38, diretamente para a fazenda Kent, a música ‘Somebody Save Me’ toca. Quem aí se lembrou de Smallville?
Gotham City
Com as primeiras pistas nas mãos, Oliver, Barry e Kara viajam para Gotham City, onde temos a primeira participação especial de Batwoman, interpretada por Ruby Rose. Na época do anúncio da atriz e do papel, fiquei bastante curiosa para saber como seria sua entrada neste crossover. Mas depois de assistir, posso dizer que sua participação não é uma das mais grandiosas e é bem introdutória, fazendo menções sobre seu parentesco com Bruce Wayne/Batman e explicando seus motivos de estar em Gotham e tomar o prédio após a partida do primo. Ruby Rose até está bem e suas cenas de luta são satisfatórias, mas há momentos em que ela força uma expressão facial sombria no instante em que ela se transforma de Kate Kane para Batwoman. Por ser a primeira vez, é possível relevar, mas caso a personagem apareça mais vezes em outros programas e, até mesmo, venha ter a sua série solo, será necessário trabalhar melhor essa desenvoltura da personagem.
Com relação à Gotham City, Elseworlds entrega ótimas referências ao mundo de Batman, desde o Batsinal (em que Barry prova a Oliver que o homem morcego não é um mito), até a passagem por Arkham City, onde vemos os quartos por onde passaram Oswald Cobblepot (Pinguim) e Edward Nygma (Charada). Esses easter eggs revelam que o crossover se passa anos a frente, uma vez que quem assiste a série Gotham sabe que Pinguim e Charada já ficaram internados em Arkham e, agora, está na fase da destruição total da cidade. Pelo menos está é a ligação que eu consegui fazer.
Outro ponto bem legal é que durante a procura de John Deegan e o livro, Barry e Oliver são atingidos por alucinógenos, que os levam a enxergar seus piores inimigos: Eobard Thawne e Malcolm Merlyn. Eles acreditam estar lutando contra os antagonistas, mas a verdade é que eles acabam lutando contra eles mesmos.
Final épico?
Com as trocas de realidade, introdução de novos personagens e vilões, a verdade é que, no final das contas, Supergirl, Flash e Arrow conseguem derrotar The Monitor e John Deegan que, para dificultar ainda mais as coisas nesta reta final, ele se transforma no Superman bem disfuncional e mau caráter. Claro que todos levam o crédito, mas Oliver é quem coloca o ponto final nesta situação.
O final é satisfatório e bom. Kara, Clark e Lois retornam para a Terra 38. Clark revela que ele e Lois estão esperando um filho e, por isso, ele irá pendurar a capa por um tempo (ou, até o próximo crossover). Oliver e Felicity dão a entender que vão ajeitar as coisas para que o casamento dê certo; Barry e o grupo retornam para Central City.
Mas claro que o episódio final deixa um cliffhanger para o próximo crossover. Em uma ligação, Batwoman avisa que John Deegan fez uma amizade um tanto quanto improvável. Quem? Ainda não sabemos, pois ele aparece mascarado. Mas tudo indica que este será o gancho para o novo crossover intitulado Crise nas Infinitas Terras, que será exibido em 2019.
Elseworlds é um crossover bom e empolgante, mas que poderia ter sido melhor se os vilões tivessem um desenvolvimento melhor e alguns personagens não ficassem tão secundários na trama, como é o caso do próprio The Monitor, Barry Allen da Terra 90 e Batwoman.
Vale a pena assistir Elseworlds, mas Crisis on Earth-X ainda está no topo de melhor crossover das séries do Arrowverse.
Nota: 7,0