Sabe aquele filme que desperta curiosidade, mas a expectativa está abaixo do esperado, no entanto, você sai feliz e satisfeito por ter assistido algo bom? É assim com Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves), uma das gratas surpresas de 2023, que causa o medo de fracassar ao adaptar um jogo de RPG de sucesso, e o resultado é bom. É um filme que funciona para quem é fã do universo, despertando o lado nostálgico, e também atrai aqueles que nunca tiveram contato com jogo. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Com direção de Jonathan Goldstein e John Francis, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes narra a jornada de um ladrão encantador e um bando improvável de aventureiros que armam um plano épico para recuperar uma relíquia perdida. Mas as coisas vão perigosamente mal quando eles encontram as pessoas erradas.
O primeiro ponto positivo, na minha opinião, é que o filme pode demorar a engrenar um pouco no início, mas a narrativa usa este começo para estruturar a base da história a fim de que o espectador entenda e compreenda as motivações e justificativas para cada personagem estar e participar desta aventura.
Crítica: John Wick 4 – Baba Yaga
Assim, a trama volta ao passado para entregar informações essenciais sobre a vida pessoal de Edgin, desde de como ele se tornou um harpista, a vida ao lado da esposa e da filha Kira (Chloe Coleman), uma tragédia anunciada, a amizade e cumplicidade com Holga, a formação do novo grupo de aventureiros, a razão pela busca de uma relíquia tão desejada, uma traição inesperada e os inimigos que enfrentarão durante a nova missão. Assim, entendemos o motivo para o protagonista e a parceira se encontrarem em uma primeira e atual situação caótica.
Enquanto essas informações são desenhadas no início, o filme se encarrega de entreter o público com cenas cômicas e de ação, outro ponto fundamental da história. Ao mesmo tempo que o longa se leva a sério, a intenção também está em trazer um ótimo entretenimento a fim de que o público se divirta com o que vê e dê risadas com algumas situações cômicas que surgem no timing certo. A seriedade e emoção são equilibradas e este é um detalhe importante que faz a história funcionar muito bem. Um exemplo é a sequência que se passa no cemitério, que pode se tornar uma das cenas favoritos para alguns.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes pode ser facilmente assistido e compreendido por quem nunca teve contato com o jogo de RPG. Estas são as palavras de uma pessoa que nunca jogou, estava com o pé atrás e saiu feliz do cinema com o que viu na tela. Se no jogo, os participantes criam sua missão, o filme faz a mesma coisa e apresenta uma história nova, boa e envolvente.
Com relação à ambientação e os efeitos especiais, no geral, atendem as expectativas. Talvez, um efeito ou outro não tenha ficado 100%, no entanto, isso não é motivo suficiente que prejudica o filme. Não há necessidade a se pegar a isso. Os cenários são panorâmicos e extremamente coloridos e, obviamente, quem for fã do jogo, captará referências na adaptação com facilidade. Aliás, o longa faz questão de fazer uma breve homenagem ao clássico desenho Caverna do Dragão. Só isso que tenho a dizer.
Brinca-se muito com o jogo de câmeras que, em algumas ocasiões, acompanham a movimentação do personagem, que ora se transporta de um espaço a outro; entra em forte e empolgante luta corporal; acompanha o movimento das mãos durante a realização de uma magia; corre em uma sequência de fuga eletrizante, entre outros.
Aventureiros e a missão
Todo o conjunto da obra de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é desenhado pelo ótimo elenco que, no geral, está excepcional, ganha ótimo espaço na história e conquista o público à sua maneira, seja em suas habilidades ou personalidades ótimas e peculiares.
O ator Chris Pine interpreta Edgin, um renomado harpista (uma ordem que ajudavam os outros sem receber nada em troca), na qual o 1% lado ladrão acaba falando mais alto, gerando consequências drásticas que culminará nesta missão que acompanhamos. Edgin é charmoso e ótimo em fazer planos, cujo entusiasmo não o faz desistir, mesmo quando fracassa mais de uma vez, e ainda sempre vê o lado bom de tudo, especialmente das pessoas, o faz ele sempre conseguir bons aliados e parceiros. Pine distribui ótima química com todos os personagens, além de carisma e alívios cômicos em sua atuação, que fará o público dar risadas espontâneas.
Outra grande surpresa é Michelle Rodriguez como Holga, uma das maiores surpresas e minha personagem favorita do filme. Holga é astuta, meio razinza, durona e extremamente forte. Todas as sequências de luta da personagem são hipnotizantes de assistir, já que ela faz um dos melhores serviços nesta missão: tirar os obstáculos da frente. Mas o que chama a atenção em Holga é o seu lado emocional e vulnerável, especialmente quando se trata do seu ex-marido e de Kira, filha de Edgin, por quem ela tem um grande amor, uma vez que ela ajudou na criação. É impossível não gostar dela.
Justice Smith entrega uma boa veia cômica no papel de Simon, um mago cujas habilidades com a magia ficam a desejar não por falta de talento e, sim, por ele não acreditar em si, o que faz a sua autoestima afundar. Após um grande contratempo no passado que faz o grupo se desmanchar, Simon tenta sobreviver à base de apresentações fajutas e furtos. Mas ao reencontrar antigos e verdadeiros aliados, ele enxerga um bom motivo para se juntar a eles, mesmo que o medo fale mais alto, o que dá insegurança, mas também lhe dá força suficiente para provar o enorme potencial que tem. O ator entrega uma atuação confortável e gostosa de acompanhar.
A atriz Sophia Lillis é Doric, uma tiefling (criatura do universo) avessa aos humanos, já que a crueldade do homem destrói o seu lar, deixando todos os habitantes à mercê deste mal. Doric é esperta, astuta e por ser uma Druida, sua habilidade é o da metamorfose, capaz de ser outras criaturas desde uma mosquinha que passa por qualquer buraco, até um urso-coruja, o que é sensacional. A química da personagem com Simon é divertida e fofa, gerando momentos leves e comicamente românticos.
Regé-Jean Page é Xenk, que fazia parte de uma comunidade atingida pelo mal do líder Mago Vermelho. Ele conseguiu fugir, mas foi atingido e abençoado por poderes na qual ele usa para o bem. O encontro dele com o grupo – que deseja encontrar uma relíquia que irá ajudá-los a enfrentar o antagonista – é ótimo. Esta reunião leva o público a uma jornada divertida e perigosa em que os personagens precisam enfrentar grandes obstáculos e inimigos dentro de uma caverna, com direito a um dragão gordo e poderoso. Aliás, o contraste de personalidades de Xenk e Edgin é sensacional, uma vez que o harpista é mais debochado e sem paciência para o lado culto, charmoso e intelectual de Xenk.
O ator Hugh Grant é Forge, cuja atitude que ele tem faz o Edgin lidar com consequências drásticas. Além disso, Forge se torna uma figura renomada e importante do reino, mas com segundas intenções que afetará negativamente todos. Para complicar, ele conta com a ajuda da feiticeira Sofina (Daisy Head), que faz parte do grupo dos Magos Vermelhos, cujo objetivo é ainda pior e o filme explica com detalhes qual é a sua verdadeira intenção.
Considerações finais
A reta final de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes traz sequências grandiosas de lutas, confrontos, vitórias e derrotas. Junto a tudo isso, ainda temos uma cena emocionante protagonizada por Holga, Edgin e Kira que não tem como não ficar sensibilizado, e o filme dá um desfecho digno.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes é uma grata surpresa que dá gosto de assistir tanto por quem é fã ou não do jogo de RPG. Apresenta uma história boa, ambientações de encher os olhos, uma missão envolvente e personagens carismáticos e únicos que conquistam à sua maneira. Dungeons & Dragons acerta neste primeiro longa e tem ótimas chances de se tornar até uma franquia. As portas estão abertas.
OBS: Há uma cena pós-crédito. É curta, boba e divertida.
Ficha Técnica
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
Direção: Jonathan Goldstein e John Francis
Elenco: Chris Pine, Michelle Rodriguez, Hugh Grant, Justice Smith, Sophia Lillis, Regé-Jean Page, Daisy Head, Chloe Coleman, Will Irvine, Nicholas Blane, Spencer Wilding, Bryan Larkin, Colin Carnegie, Georgia Landers e Clayton Grover.
Duração: 2h14min
Nota: 3,9/5,0